Francis Vale lança livro sobre histórias do cinema cearense

Francis Vale lança hoje, 25, cinema cearense – algumas histórias. O livro parte da história pessoal do cineasta, desde a infância em Crateús, até a participação política e militância pelo audiovisual para narrar parte da história do cinema no Ceará

 Francis Vale, cineasta, lança hoje, às 19 horas, o livro Cinema Cearense – Algumas Histórias. Na introdução, um aviso: “Trata-se apenas de um relato 'pessoal e intransferível' que vai desde minha iniciação como espectador de cinema até os dias de hoje. Não é tudo”. A partir dessa perspectiva, o cineasta paraense radicado no Ceará, Francis Vale, narra parte significativa da história recente do audiovisual cearense. O livro Cinema Cearense – Algumas Histórias converge dois pontos: uma narrativa bastante particular desde o primeiro contato dele e o cinema, e a reunião de documentos que tentam aprumar uma política para o audiovisual no Estado.


 


“A história do nosso audiovisual é cíclica, sem estabilidade. Em meio às raras tentativas de ações palpáveis e concretas, giram idéias mirabolantes, que depois são desfeitas ou nunca chegam a se realizar”, aponta Francis Vale. Com base nisso, Vale acredita que a produção audiovisual cearense foi sempre uma espera, uma expectativa feita de picos e declínios. “Apesar disso, eu sou um otimista. Vejo o fenômeno de bilheteria do Bezerra de Menezes e o curta Vida Maria, bastante premiado, do Márcio Ramos. O cinema no Ceará está num momento ímpar da produção e até mesmo do incentivo, embora ainda esteja longe do apoio necessário”, diz o cineasta.


 


Dividido em 27 capítulos curtos de, no máximo, três páginas, o livro começa com o primeiro contato de Francis Vale com a imagem reproduzida e projetada, na infância no final da década de 1940. Raimundo Nonato do Vale, pai do cineasta, trabalhava com molduras de fotografias. Com a vinda da família de Belém (PA) para o Ceará, ele resolveu comprar um antigo cinema da cidade de Crateús e batizá-lo de Cine Teatro Poty. Francis, menino de cinco ou seis anos, assistia sem cansar aos filmes. Desde os faroeste estadunidense, até o Gordo e o Magro e Chaplin. Os fotogramas dos cortes, pequenos pedaços de rolos que sobravam, serviam para brincar de exibir filmes.


 


A trajetória segue com narrações das experiências de cinema e os primeiros contatos de Francis com realizadores do audiovisual. Nisso, se insere como fundamental a descoberta do Super-8 e a possibilidade de também ele ser um criador. “Para minha surpresa, ao assistir à reunião de curtas do filme Cinco vezes favela (1962), vi que eram pessoas de vinte e poucos anos que tinham feito um trabalho de pesquisa, com um conceito tão forte”, conta. Era ali que estava a sua visão de fazer cinema. Era ali também o início de um caminho para a tentativa de mobilização em torno do audiovisual.


 


A partir da narração dos episódios da fundação da Associação Cearense de Cineastas (Associne) e da Associação Cearense de Cinema e Vídeo (ACCV), o livro fixa-se em um outro aspecto. Para além das experiências pessoais, Francis analisa as políticas públicas para o audiovisual no Ceará tendo como ponto de partida, principalmente, a década de 1980. Conta, também, as experiências de Festivais e Mostras no Estado. É neste período que encontramos a tentativa de montar o Pólo de Cinema, que funcionaria como palco de produção, difusão, discussão e, até mesmo, de gravação, como uma minicidade cenográfica. “Era um orçamento gigantesco, de US$ 2 milhões, mas nunca se falou de onde sairia esse dinheiro. O resultado é que o projeto nunca saiu do papel. Por outro lado, a gente tentava colocar para frente um espaço de formação de realizadores, algo possível, mas não apoiado na época”, lembra.


 


Da mesma forma, Francis aponta outras iniciativas que, mesmo virando lei, nunca vingaram – e, nos anexos, ele coloca os projetos e leis na íntegra. Um exemplo é o Fundo Municipal de Cinema. “O livro não procura apontar culpados, mas mostrar os caminhos que já foram pensados e as experiências que não deram certo. Por outro lado, as perspectivas que se mostraram positivas”, finaliza.