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Reta final: o 65 deve estar em toda parte, diz Renato Rabelo

Faltam poucos dias para o primeiro turno das eleições. Os candidatos entram num momento crucial: é hora de fixar o 65 entre os eleitores, fidelizar os votos ganhos e convencer os indecisos. Para isso, é preciso casar os programas de televisão com o trabal

Situação inédita
“A situação do PCdoB nessas eleições é inédita. O partido nunca teve presença nas eleições municipais como está tendo nestas. Estamos concorrendo com 189 candidaturas majoritárias pelo país, oito em capitais e destas, quatro – Porto Alegre, São Luís, Belo Horizonte, Rio de Janeiro – têm possibilidades reais de chegar ao segundo turno. Sem falar de Florianópolis, onde Ângela Albino pode ter de 10% a 15% dos votos. Comparativamente com outros partidos da base do governo, com exceção do PT, o PCdoB acabou sendo o partido com maior projeção nas capitais. O papel que o PCdoB vem desempenhando nestas eleições é um acúmulo fundamental para nós. Por tudo isso, o nome do partido e o seu número, o 65, estão aparecendo de forma mais ampla para toda a população.”


 


Fixação do 65
“Em alguns lugares, a difusão e a consolidação tanto do partido quanto de seu número ganhou mais corpo. É o caso da Bahia, por exemplo. O 65 apareceu como um número novo que foi conseguindo cada vez mais visibilidade. Embora não tenhamos lançado candidatura em Salvador, temos 45 candidatos a prefeito. Em Juazeiro, cidade-pólo do Norte do estado, o candidato do PCdoB (Isaac de Carvalho) está à frente com 48% das intenções de voto. Ali, por onde a gente anda, vê o 65 e o PCdoB. Perguntando nas ruas o que vai dar, o pessoal responde: “vai dar macaco”, que é o bicho correspondente ao número 65 no jogo do bicho. O povo diz que “o macaco avermelhou a cidade”. É um negócio impressionante. Em Porto Alegre, procuraram também fortalecer o 65. Dizem por lá que ‘dia 5 é 65’. É preciso agora que todas as campanhas majoritárias divulguem o nosso número. O 65 deve ser popularizado, deve estar em todos os cantos das cidades, em bandeiras, cartazes e panfletos.”


 


Preparação para os debates
“Também ganha importância a participação nos debates desta última fase, quando o eleitor dá mais atenção àquilo que os candidatos estão discutindo. Trata-se do momento em que o eleitor está firmando sua preferência por um candidato ou procurando definir o seu favorito. Porém, o tempo para a exposição das idéias é muito curto. Então, o candidato precisa se preparar principalmente no que diz respeito à capacidade de síntese. Aqui no Brasil, os candidatos têm o costume de não entrar diretamente no assunto. Num debate, ou você entra logo ou perde a oportunidade de dizer o que pensa. E aí vai ficando para o espectador a impressão de que ou ele não tem clareza ao expor suas idéias, ou está improvisando ou não tem discernimento. O debate é uma forma de avaliação comparativa; é a prova real. É por isso que o candidato que consegue expressar seu ponto de vista de maneira simples, direta e sintética consegue impressionar o eleitor. No caso do PCdoB, os nossos candidatos têm se saído muito bem. Um exemplo emblemático é o Rio de Janeiro. Jandira vai muito bem em debates, mas na cidade não houve nenhum em tevê e parece que não vai haver. Isso é feito para beneficiar o (Eduardo) Paes (PMDB), que está na frente, tem grande esquema de campanha e apoio oficial do governador do estado. Ou seja, para ele não convém se expor. Ele, assim como Márcio Lacerda (PSB) em Belo Horizonte, foi blindado. Lacerda, inclusive, por não ter ido a nenhum dos mais de 30 debates realizados na cidade, tem sido chamado de fujão.”


 


Trabalho nas ruas
“Temos dito que, na reta final, temos de relacionar o trabalho de televisão com o trabalho nas ruas. É preciso fazer grandes mobilizações por meio de carreatas e caminhadas, juntamente com a divulgação de material em que conste o 65 porque é agora que o eleitor, em quase sua totalidade, vai procurar se interessar mais sobre o pleito, seu candidato e o número dele. A prioridade é investir na pré-boca de urna, entregando as colas para a população. No caso dos vereadores, isso é ainda mais importante porque normalmente, até os últimos dias do pleito, a maioria da população ainda não definiu seu candidato. Este é o momento em que se faz necessário concentrar esforços na mobilização, com entrega de materiais de casa em casa e nas ruas. Estes materiais devem obrigatoriamente dar o nome e o número do candidato, juntamente com suas propostas. Este é o momento chave para isso.”


 


Momento de filiação
“O partido, em todos os níveis, deve atentar também para as filiações. Aliás, essa foi uma constatação feita por um militante simples, da base. Ele observou que os comunistas deveriam aproveitar este momento positivo. Tem gente disputando camiseta e bandeira do PCdoB! Vejo que é realmente necessário aproveitar essa fase para se fazer uma grande campanha de filiação. Às vezes, as pessoas ficam tão voltadas para o pleito que têm dificuldade de perceber isso. O momento de filiar é este! As adesões mais conseqüentes acontecem nos embates políticos. Quando as filiações surgem no fragor da luta política, as pessoas se engajam mais no processo eleitoral, que passa a ser parte de suas vidas. São filiações mais eficazes. Devemos levar isso em conta e fazer um grande trabalho de filiação já na campanha e imediatamente após a campanha.”


 


Definição na última hora
“Como já disse, no Brasil a maioria dos pleitos é definida na última semana. Tanto é que as sondagens vão se aproximando mais da realidade conforme vamos chegando à reta final. O problema é que as pesquisas ainda são muito usadas como instrumentos de embate político para tentar arrefecer uma campanha ou estimular outra. Em outros países, não se pode divulgar pesquisas 15 dias antes do pleito e às vezes até um mês antes porque acaba sendo um instrumento de manipulação do eleitorado. Aqui, pode ser divulgada no dia da eleição. Você acorda e tem uma manchete enorme no jornal: “Fulano ultrapassou Cicrano”. Ou seja, com isso procura-se interferir junto ao eleitorado para que o voto útil funcione. Isso acaba fraudando a lisura do processo. Além disso, há cenários muitos embolados, nos quais a indefinição ainda é grande. No Rio de Janeiro, por exemplo, Eduardo Paes (PMDB) está na frente, mas o segundo lugar não está definido. Ali, 40% dos eleitores estão indecisos e a definição desses votos poderá mudar todo o cenário local. Outra coisa que tem impacto é a desigualdade das campanhas. Há aquelas candidaturas com grandes esquemas e muito tempo de televisão e aquelas que têm mais dificuldades, embora sejam competitivas. É o caso de Jô Moraes e de Jandira Feghali. Ou seja, não se trata de uma disputa em pé de igualdade; há muita adversidade mesmo para nomes prestigiados e influentes que acabam desaparecendo porque a força das grandes campanhas acaba prevalecendo para o povo. Este é mais um motivo para tomarmos as ruas com nossas campanhas.”


 


PCdoB no segundo turno
“A tendência é que o PCdoB esteja no segundo turno em quatro capitais: Porto Alegre, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Luís. Na capital mineira, os últimos resultados demonstram que a candidatura de Lacerda, depois de crescer, começa a ter um viés de queda. O segundo lugar está sendo disputado entre Jô Moraes e Leonardo Quintão (PMDB). Por isso, estão todos indo para as ruas, fazendo uma grande investida nesta reta final. O Lacerda, por exemplo, não foi a nenhum debate, agora disse que vai. Acho que Minas Gerais ainda vai dar muito o que falar. No Rio de Janeiro, as indicações são de que Eduardo Paes (PMDB) estará no segundo turno e a segunda colocação está sendo disputada entre Marcelo Crivella (PRB), Jandira Feghali (PCdoB) e Fernando Gabeira (PV), candidato que parece não ter muita consistência. O Marcelo Crivella, por sua vez, tem caído muito nas pesquisas. Ou seja, é mais previsível nossa presença no segundo turno.”


 


Posição de destaque
“Esse quadro é uma demonstração de que o PCdoB tem muitas lideranças de prestígio, conhecidas da população, mesmo que até então disputasse principalmente as eleições proporcionais. Quando o partido começa a jogar essas lideranças para disputar as majoritárias, começa a fortalecer a sua marca. Portanto, essa decisão que o partido tomou de fazer um investimento crescente nas eleições majoritárias, disputando de maneira competitiva, com um bom crescimento, deu-se também porque o PCdoB sabe que tem em suas fileiras lideranças prestigiadas e de trajetória coerente, que não aparecem só na época das eleições, mas que trabalham o tempo todo junto à sociedade. Esse trabalho permite que essas lideranças tenham a confiança da população. Nestas eleições, estamos demonstrando que o partido tem nomes preparados, aptos a disputar e ocupar cargos majoritários”.


 


Exemplos de gestão comunistas
“Em Aracaju, tudo indica que a disputa será decidida no primeiro turno. Temos dado grande atenção a esta batalha porque a cidade é um exemplo de administração do PCdoB – iniciada pelo PT – muito bem avaliada pela população. Segundo levantamento do IBGE, a capital sergipana tem a melhor qualidade de vida do país. Edvaldo Nogueira alcançou em torno de 42% das intenções e em termos de votos válidos, vai para 56%.  E como se diz, mais vale a prática demonstrada do que mil discursos. Se conseguirmos elegê-lo, ainda mais em primeiro turno, será uma grande vitória: Edvaldo será nosso primeiro prefeito eleito de capital. Olinda é outro bom exemplo de administração. É uma cidade importante dentro e fora de Pernambuco e foi ali que o PCdoB cunhou uma forma de governar, o que é emblemático para os comunistas. E é uma cidade grande, com uma ampla parcela da população marginalizada que foi assistida pela gestão comunista. O PCdoB conseguiu vencer os dois pleitos com a Luciana Santos e pode continuar na administração com Renildo Calheiros. É um exemplo muito importante de como o PCdoB pode governar bem, com grande aceitação popular.”


 


Crescimento em São Luís
“A candidatura de Flávio Dino se impõe porque é um candidato de grande capacidade política, uma pessoa que foi ganhando prestígio rapidamente. O apoio de Lula também contribuiu para que o povo da cidade conhecesse sua candidatura em um curto espaço de tempo. No começo da campanha, previa-se uma dificuldade grande de levar a eleição para o segundo turno. Hoje não. A tendência é ter segundo turno e quem jogou papel nesse sentido foi Flávio Dino.”


 


Popularidade de Lula
“O pano de fundo destas eleições é a grande popularidade de Lula. Há uma disputa acirrada entre os partidos da base para ter seu apoio explícito ou ao menos para ter uma sinalização. Isso inclusive entre os de oposição. Essa situação favorece os partidos da base governista, mas não é um beneficiamento automático porque as eleições são municipais e temos realidades diferentes, que formam um enorme mosaico. Mas, considerando os maiores colégios eleitorais e centros mais importantes onde os partidos da base estão disputando, o prestígio de Lula certamente ajuda.”


 


De São Paulo,
Priscila Lobregatte