Argemiro Ferreira: o triunfo de Obama no segundo debate
Na manhã seguinte ao segundo debate entre os candidatos Barack Obama e John McCain, a diferença entre os dois alargou mais dois pontos percentuais: o democrata subiu um e o republicano caiu um, o que fixou o novo placar em 52% contra 41% — vantagem de 11
Publicado 10/10/2008 01:43
No debate não ocorreu qualquer nocaute ou mesmo algum escorregão significativo de qualquer dos candidatos. Mas a pesquisa-relâmpago da CNN com a organização Opinion Research concluiu que o melhor desempenho foi de Obama — apontado como ganhador por boa margem das pessoas ouvidas: 54% contra apenas 30%, que preferiram o republicano McCain.
Ainda de acordo com a pesquisa, ao fim do debate 64% das pessoas estavam com opinião favorável a Obama — 4 pontos percentuais mais do que no primeiro debate; 51%, como no outro, ficaram com opinião favorável a McCain. Obama foi encarado como líder mais vigoroso por 54% (contra 43%). E numa proporção de 2 por 1, 65% a 28%, as pessoas acharam Obama mais “gostável” (likable) do que o rival.
Aqueles excessos prejudiciais
Para mim os números sugerem, embora a CNN/Opinion Research não o tenha explicitado, que McCain excedeu-se numa agressividade destemperada, refletindo estar sob pressão pela queda sistemática, desde setembro, nas pesquisas de intenção de voto. “A vantagem de McCain em ‘liderança’ recuou de 19 pontos em setembro para apenas cinco neste fim de semana”, disse Keating Holland, diretor de pesquisa da CNN.
Para prevalecer a vantagem que esperava ter sobre Obama, nas questões segurança nacional e preparo para ser “comandante-chefe”, McCain teria de voltar ao fundamento da campanha de George W. Bush em 2004 — teria de disseminar o medo, como ao tempo de McCarthy na fase aguda da guerra fria. Como o 11/9 ficou para trás, diminuiu o espaço para isso, mas ele ainda está determinado a explorar o tema — num momento em que a economia é a questão central.
Uma grande maioria dos que viram o debate e foram ouvidos na pesquisa — 57% contra 25% — acharam que Obama foi mais inteligente do que McCain. Consideraram ainda (60% contra 30%, proporção de 2 por 1) que o democrata expressou suas opiniões de uma maneira mais clara do que o adversário. Para 63% (contra 17%) McCain e não Obama passou mais tempo fazendo ataques ao rival.
Metade dos ouvidos na consulta disse que Obama foi sempre mais direto nas respostas; um número 13 pontos percentuais menor apontou McCain nesse ítem. Já os que acharam ter Obama mostrado preocupar-se mais com os problemas das pessoas presentes ao debate (aquelas que fizeram perguntas) foi 14 pontos percentuais maior do que os que citaram McCain.
Ganhando no pior dos ítens
Em matéria de substância, Obama realmente superou muito o rival. A capacidade do democrata de expor dados e números, argumentar e concluir, deixa McCain longe. O republicano tem uma experiência vivida, é verdade, mas passou a adotar um discurso limitado — no qual invoca generalidades e deixa de lado os argumentos — tipo “faço e aconteço”, “sou assim”, “consegui isso”. Francamente, soa mal, soa arrogante. E ele ainda soma a isso o inexplicável desprezo por um adversário que o supera intelectualmente.
Por ironia, a análise da CNN só colocou McCain à frente numa categoria que nenhum candidato gosta de ganhar. Por uma margem de 16 pontos percentuais, os que viram o debate acharam que o republicano pareceu mais com “um político típico” do que o rival. Preocupante também para McCain foi o fato de sua avaliação positiva não ter subido — mau sinal para um candidato atrás nas pesquisas.
Outro dado preocupante para o republicano: a maioria dos eleitores independentes ouvidos achou que Obama ganhou o debate. Nada menos de 54% dos que se identificaram como independentes (nem democratas e nem republicanos) disseram que o desempenho do senador do Illinois foi melhor. Apenas 28% deles responderam que McCain foi melhor.
Como se sabe, dias antes do debate foi revelado que, na opinião do próprio McCain, se ele continuar falando de economia sua derrota será certa — ou porque essa não é sua especialidade e sequer tem apetite para o tema, ou porque sua imagem é de aliado do governo Bush, responsável pelas políticas desastrosas dos últimos oito anos. Depois daquela conclusão é que sua campanha passou a concentrar-se mais em ataques pessoais a Obama.
O rumo perigoso de McCain
Decisões desse tipo, que consistem em multiplicar os comerciais de ataques pessoais (em geral, assassinato de reputação e culpa por associação), têm seus efeitos, apesar das alegações habituais de que “o povo americano repudia quem recorre a tais expedientes”. A verdade é que o democrata John Kerry em 2004, como Mike Dukakis antes dele (em 1988), perderam por causa desse tipo de campanha difamatória.
A eleição tende a ser decidida este ano nos chamados swing states — aqueles que vão de um lado para o outro, navegando ao sabor dos comerciais de TV. Os de McCain tornaram-se especialmente irados e desonestos nas últimas semanas, a ponto de ter havido gritos, num comício republicano, de extremistas que, ouvindo o candidato dizer o nome de Obama, gritavam “Terrorista! Traidor!”, “Vamos matar esse cara!”.
A pregação de ódio alimenta ainda a campanha republicana nos talk shows de rádio e televisão, onde seus apresentadores estão empenhados numa escalada alarmante. Obama é chamado nesses programas de “terrorista” e “estrangeiro”. A própria Sarah Palin o acusa de “circular com amiguinhos terroristas” (referência a um casal de professores, Bill Ayers e Bernardine Dhorn, que há 40 anos foi de um grupo extremista contrário à guerra do Vietnã). Na TV, a Fox News passou até a apresentar convidados de extrema direita para dizer o diabo de Obama.
Aparentemente McCain acredita ser essa a receita capaz de inverter a tendência e não há indício de que mudará o rumo. Nem na campanha e nem no terceiro e último debate, a 15 de outubro, na Hofstra University de Hempstead, estado de Nova York.
Fonte: Blog do Argemiro Ferreira