Ex-preso político paraguaio visita Alerj e fala sobre Operação Condor

A Operação Condor, como foi chamada a ação coordenada dos governos militares da América do Sul para perseguir os opositores do regime, ainda está em curso. A afirmação é do advogado paraguaio Martín Almada, que esteve na Alerj no dia 17.

“Gostaria que o Governo brasileiro liberasse a lista dos que ainda hoje são considerados subversivos para o sistema. Sei que ela existe aqui, assim como também existe no Paraguai e em outros países que participaram das ações de tortura e perseguição nas décadas de 60 e 70”, declarou o estrangeiro, referindo-se ao Chile, Bolívia, Uruguai e Argentina. Almada foi preso em 1974 e torturado por 30 dias.



O advogado, que é membro do Comitê Executivo da Associação Americana de Juristas e recebeu, em 2002, um prêmio Nobel Alternativo da Paz, conferido por organizações como a Unesco, a ONU e a Anistia Internacional, aproveitou para responder a perguntas de jornalistas. Ele contou que esteve na Câmara esta semana, onde conversou com o presidente da Comissão de Direitos Humanos, deputado Pompeo de Mattos (PDT/RS), sobre a abertura dos arquivos da ditadura militar brasileira.



“No Paraguai, a Corte Suprema me odeia e seria muito importante que os arquivos de cada país fossem abertos e pudesse haver cópias deles nos outros países também”, afirmou. Sobre a punição a torturadores paraguaios, o visitante comentou que de 15 a 20 deles encontram-se presos, mas se trata de um grupo que teve pouca participação ideológica. “Os presos são policiais que praticavam as torturas. Os militares, que articulavam todo o processo opressor, são praticamente inatingíveis”, revelou Almada.



Questionado sobre a volta de ditaduras militares à América Latina, o ex-preso político disse não crer que isso possa acontecer. “Os jovens militares de hoje em dia são mais conscientes. Veja Hugo Chávez, um progressista, revolucionário. Na campanha de (Fernando) Lugo (presidente eleito do Paraguai), muitos militares o apoiaram”, contou. Martín Almada falou também sobre o enriquecimento dos governos militares com a utilização da energia da Hidrelétrica de Itaipu e fez ao Ministro da Defesa, Nelson Jobim, pedido para que, finalmente, sejam abertos os arquivos-centrais brasileiros sobre a Guerra do Paraguai (1864-1870).