Câmara destaca Allende como exemplo para América Latina

“Salvador Allende, em razão das circunstâncias da sua morte, converteu-se num dos ícones das forças de esquerda de todo o mundo. Homenageá-la é saudar a luta de todos os militantes socialistas que tombaram perante as ditaduras militares que se instalar

O presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), que presidiu a sessão, disse que a homenagem a Salvador Allende, “engrandece quem a faz, dado a sua dimensão política, humana e de homem público que literalmente levou às últimas conseqüências as suas convicções democráticas”, acrescentando que “estamos homenageando todos os homens e mulheres de qualquer parte do mundo que um dia lutaram por esses ideais de justiça e de democracia.”



Um vídeo foi exibido no início da sessão, mostrando os momentos da vida nacional do Chile de Allende. Em uma das cenas, o Presidente Allende discute com seus companheiros de luta, ocasião em que defende a constituição de um poder popular junto ao próprio Governo.



A líder do PCdoB, deputada Jô Moraes, também participou da sessão. Sobre Allende, ela disse que a homenagem traz a tona a discussão sempre presente do período de opressão, de perseguição na América Latina, quando milhares de pessoas lutaram e muitos perderam a vida em busca de um mundo melhor, mais justo, mais humano.



Ela disse ainda que “resistimos e nos sentimos orgulhosos da nossa gente, dos nossos mártires, daqueles que participaram do processo constante, daquele período duro, dos que estiveram na cadeia, dos que estiveram na tortura, dos que resistiram do ponto de vista político e ideológico.”



Marxista declarado



Salvador Allende nasceu em Valparaíso, no dia 26 de junho de 1908, e faleceu em Santiago do Chile, em 11 de setembro de 1973. Foi médico e político, declaradamente marxista, mais tarde tornando-se o primeiro marxista eleito Presidente na América Latina em um pleito democrático.



“Crítico ardente do capitalismo, representou um tipo de revolucionário. Talvez não se tenha encantado pela tese da tomada do poder pelas armas. Depositava suas esperanças nas mudanças pelas urnas, acreditando na possibilidade de instaurar o socialismo em meio às demais forças políticas organizadas ou, dependendo, apesar delas”, destacou Chinaglia em sua fala.


 


Em 1973, quando o Chile sofreu o golpe militar, que já castigava outras nações da América Latina, o Palácio de La Moneda – sede do governo – foi impiedosamente bombardeado. Dentro do Palácio de La Moneda estava Salvador Allende.



Dirigindo-se ao povo chileno, declarou: Deixarei La Moneda quando cumprir o mandato que o povo me deu. Defenderei esta revolução chilena e defenderei o Governo porque é o mandato que o povo me entregou. Não tenho outra alternativa”.



Pouco antes do bombardeio, os militares ofereceram a Allende um avião para que ele saísse do Chile com a sua família. Mas Allende estava determinado a lutar até o fim em defesa do seu mandato e da democracia. Eis a sua resposta aos golpistas: “A responsabilidade é de vocês. Vocês passarão para a história como assassinos do Presidente da República.” Ele saiu morto do Palácio.
 


Exemplo de patriotismo



Para Vieira da Cunha, “mais do que uma lição moral, o sacrifício de Allende foi uma lição de civismo, coragem e patriotismo para todos os que querem fazer política como ele sempre fez, com honra e dignidade”, disse, agradecendo o exemplo de Allende:



“Obrigado, Allende, pelo teu exemplo. A América Latina toda, que clama até hoje por paz, igualdade e justiça social, te reverencia com justiça e merecimento no ano do centenário do teu nascimento”, concluiu.



Participaram da solenidade um pequeno grupo de embaixadores, liderados por Álvaro Humberto Díaz, embaixador do Chile; e igual número de parlamentares, em um dia esvaziado pelo recesso branco provocado pelo segundo turno das eleições municipais.



De Brasília
Márcia Xavier