Crise econômica: Mantega nega pacote à oposição
“Não vou criar problemas, estamos resolvendo o que existe. Não podemos nos antecipar ou criar problemas artificiais”. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi taxativo ao responder a oposição sobre os impactos da crise financeira internacional no Bras
Publicado 21/10/2008 20:11
Em dia de pouca movimentação na Casa, em função do segundo turno das eleições municipais que prendeu a maior parte dos parlamentares nos Estados, o debate foi morno. Diante da avaliação positiva das duas autoridades econômicas, baseada nos números apresentados em gráficos e tabela que comprovam que o Brasil possui vantagens para enfrentar a crise, a oposição encolheu.
Os oposicionistas se queixavam do otimismo apresentado pelas autoridades, pediram “pacotes” econômicos e queriam respostas para os efeitos de uma possível recessão, como índices de desemprego.
O deputado Paulo Bornhausen (DEM-SC) disse que a OIT (Organização Internacional do Trabalho) prevê a demissão de 20 milhões de trabalhadores em todo o mundo. E se preveniu, pedindo ao deputado Ricardo Berzoini (PT-SP) para não dizer que “nós torcemos contra o País”. O discurso da oposição na Casa ficou conhecido como uma torcida contra o Brasil.
Melhor condição
O deputado Antônio Pallocci (PT-SP), ex-ministro da Fazenda, destacou a serenidade com que as autoridades econômicas do País discutem o assunto. E fez a defesa da posição do Brasil que, segundo ele, “demonstrou nesse último ano e neste momento mais agudo dos problemas internacionais que está na melhor condição de enfrentar essas dificuldades”.
E acrescentou que “isso não ocorre por geração espontânea, isso ocorre porque desde que o Presidente Lula tomou posse teve uma atitude de extrema responsabilidade com as suas medidas econômicas. O resultado disso é que o País pôde superar um momento extremamente difícil, acumular energias e pudesse hoje estar preparado para enfrentar um período mais difícil como esse que estamos tendo.”
“Mais do mesmo”
O deputado Daniel Almeida (PCdoB-BA), também elogiou a tranquilidade com que o governo federal tem conduzido a situação. E criticou a oposição que pedia “pacote econômico”. “É falar mais do mesmo, a mesma política que levou a essa situação que vivemos hoje”, afirmou, lembrando que o discurso hoje é exatamente o contrário do que fazia a oposição quando estava no governo. “o que existe hoje é a cobrança de uma intervenção maior do governo no mercado.”
Ele defendeu a continuação dos debates sobre o assunto e sugeriu que o momento era apropriado para repensar a política de juros altos adotada pelo Banco Central. Ele defende a idéia de que o governo deve avaliar se vai manter a lógica anterior ou fazer a redução gradual das taxas de juros para a manutenção da atividade econômica.
Ele se posicionou contrário ao corte dos gastos públicos no Orçamento e fez a defesa do trabalho e do trabalhador, destacados como elementos importantes para a manutenção da economia no patamar de crescimento atual, pedindo a manutenção da política de valorização do trabalho e do salário mínimo com ganho real.
Papel do Estado
O líder do PT, Maurício Rands (PE), a exemplo dos demais parlamentares, elogiou a iniciativa da Casa de promover o debate sobre a crise financeira. Ele alertou a Casa para “não se esterilizar em disputa, mas apresentar soluções a partir do diagnóstico feito pelas autoridades econômicas.”
Segundo ele, a saída para a crise está no papel do Estado como regulador do mercado financeiro e um papel ativador da economia que vai ser desacelerada. “Economistas das mais diversas matizes proclamam que a saída da crise passa pelo reconhecimento desse papel dos Estados”, disse, lembrando que “nós da esquerda brasileira, nós que sentimos os efeitos dos desequilíbrios de um mercado deixado sem qualquer regulação, resistimos naquelas duas décadas.”
Sem deixar a peteca cair
Em sua exposição, o ministro Mantega disse que os impactos sobre o Brasil na primeira foram moderados, que não causaram nenhuma conturbação à atividade econômica no Brasil. “Essa crise dura desde agosto do ano passado e os senhores viram que a economia brasileira continuou acelerando em 2007 — fechou o ano com bom desempenho, crescendo 5,4%.”
Nesta segunda fase, os impactos serão maiores, anuncia o ministro, identificando como primeiro grande impacto o secamento. “Secaram as linhas de crédito para o comércio exterior, linhas tradicionais, linhas seguras, porque se estava financiando exportação.”
Mas ele garante que “apesar dos problemas de liquidez, de crédito, de financiamento de linhas de comércio internacional — certamente haverá desaceleração da economia internacional — , estamos habilitados a enfrentar os problemas que a crise nos apresenta” e apresentou a receita brasileira para neutralizar boa parte deles, mantendo a economia brasileira em bom funcionamento.
“Nós temos agido desta maneira: se os problemas se apresentam, fazemos medidas para resolvê-los. Não deixamos cair a peteca. Não deixamos o problema se instalar na economia brasileira. Acreditamos que o Brasil poderá passar por essa crise, minimizando os problemas, que existem. Eu os mostrei aos senhores.”
De Brasília
Márcia Xavier