Hélio Costa: ''BH está dando um recado''
Coordenador da campanha de Leonardo Quintão (PMDB), o ministro acusa a prefeitura de favorecer Marcio Lacerda (PSB). Costa ainda aponta Quintão como uma alternativa de renovação para a cidade, que, segundo ele, sofre com um ''cartel'' das empresas de ô
Publicado 22/10/2008 10:58 | Editado 04/03/2020 16:51
A poucos dias da eleição, a campanha do candidato Leonardo Quintão (PMDB), apoiada pelo senhor, parece estagnada enquanto a do adversário, Marcio Lacerda (PSB), cresce. Como o senhor avalia este momento?
Não adianta as pessoas dizerem para mim que o Marcio Lacerda cresceu porque na verdade ele caiu. Ele venceu o primeiro turno com 43 pontos na pesquisa e hoje não tem isso. Então como ele subiu? Ele bateu a virada do primeiro turno com 43 e agora não chega nem perto desse índice. No segundo turno, ele está arriscado a ter menos votos. Belo Horizonte está dando um recado. Quem tem liderança para eleger alguém elege no primeiro turno. Isso sim é liderança.
Isso é um recado para o prefeito Fernando Pimentel (PT) e para o governador Aécio Neves (PSDB), apoiadores de Marcio Lacerda? Há ressentimento?
O governador é um vitorioso em todos os sentidos. Ele foi o único que abriu a porta para negociarmos no primeiro momento. Ele sabe a importância do PMDB. Quanto ao prefeito, eu jamais terei ressentimento. Porém, quem, como eu, cruzou barreiras partidárias para apoiar sua candidatura (em 2003) esperava pelo menos a cortesia dele de me perguntar o que eu achava do candidato que ele estava impondo às suas bases. Ele tinha que ter tido essa cortesia.
E por que não teve?
Posso resumir em uma frase. Se você quiser conhecer uma pessoa, dê-lhe o poder. E aí você a conhece melhor. Mas essas coisas a gente tributa ao momento político. Continuo entendendo que ele é uma pessoa de bem e tem um grande futuro, mas precisa aprender a fazer política mineiramente.
O candidato do PMDB é acusado pelo rival de não ter quadros em seu partido para governar Belo Horizonte, além de estar ligado ao ''caciquismo político''.
Foram as mesmas críticas feitas ao presidente Lula quando ele venceu a eleição. ''Ah, o PT não tem quadro, não tem condições de governar o país.'' Na verdade, o PT tinha quadros sim e quando não tinha, foi buscar em outros partidos, como fez com o PMDB. Seis dos mais importantes ministros do governo Lula são do PMDB. Agora querer dar qualquer outra conotação é não conhecer a história. É não lembrar que o próprio Tancredo (Neves) veio do PMDB, que o PMDB teve um Ulisses Guimarães, que o PMDB tem um (Nelson) Jobim, é não lembrar que tem o ministro (José Gomes) Temporão na Saúde, que são homens competentes politicamente, socialmente, em todos os sentidos.
Quando fazem essas acusações ao PMDB, o próprio prefeito não pode esquecer que a ala que ele representa dentro do Partido dos Trabalhadores tem 40 indiciados pelo Ministério Público Federal.
Mas, em caso de vitória, como o PMDB pretende compor os quadros da prefeitura?
Pergunte ao governador José Serra, em São Paulo, pergunte ao governador Aécio Neves, aqui em Minas. O PMDB vai procurar os melhores quadros onde eles estiverem. O PMDB tem quadros nacionais, estaduais e municipais. Evidentemente teremos o melhor quadro possível para administrar a nossa capital.
Vocês pretendem aproveitar alguns quadros da atual prefeitura do PT?
A Prefeitura de Belo Horizonte tem quadros valiosíssimos, técnicos competentes, pessoas dedicadas que realmente têm uma carreira no serviço público. O primeiro lugar que nós vamos buscar quadros para governar é dentro da própria prefeitura. Tem de ser assim.
E quanto às críticas de um retrocesso com a vitória do peemedebista, com a suspensão de obras em andamento?
Não é verdade. Ele (prefeito Fernando Pimentel) sabe que não é verdade. Qualquer um dos dois candidatos, seja o da aliança popular, que é o Leonardo Quintão, ou o da aliança do poder, tem que continuar com as obras que estão em andamento na cidade porque elas não são obras do prefeito, são da cidade. São obras, sobretudo as mais importantes, feitas com recursos do governo federal. Belo Horizonte teve no presidente Lula um presidente generoso. Então essas obras não são do prefeito; o prefeito está assumindo para si algo que não é de direito. Obra pública não tem dono e ele tem de saber disso. Quem vive em política sabe; o dono é o povo.
Quem ganhar, quem chegar à prefeitura tem a obrigação de continuar todas as obras. O nosso candidato faz uma diferenciação com esse compromisso, ele continua as obras, mas sua principal prioridade é tratar das pessoas, é cuidar de gente e isso eles não fizeram nos últimos seis anos.
Esses ataques mútuos em debates, panfletos e na Internet são a estratégia de campanha dos dois lados para o segundo turno?
No segundo turno, por ser uma eleição apenas entre dois candidatos, ela fica evidentemente mais tensa.
Agora os ataques, lamentavelmente, nós não começamos. Nós não fizemos ataques. Os ataques partiram insistentemente do candidato da aliança do poder, utilizando uma coisa que só quem não tem a experiência de palanque, só quem não viveu a emoção de uma campanha na reta final não sabe avaliar a emoção que tem um discurso que muitas vezes, no palanque, não é necessariamente aquilo que em condições normais o candidato faria.
O senhor se refere ao vídeo, em que Leonardo Quintão diz que vai chutar a bunda dos adversários?
Esse vídeo está sendo usado de forma pejorativa, de forma brutal contra o nosso candidato. (A imagem) É uma reação de momento e eles abusaram dessa imagem e com certeza prejudicou nosso candidato. Em relação à Internet, é mais uma vez lamentável porque se trata de uma mídia nova, uma mídia ainda sem regulamentação que permite tudo, onde você está submetido ao sabor da violência do adversário.
O senhor arriscaria um palpite de como essa disputa vai terminar?
Espero chegar no domingo com uma situação que mostre um segundo turno com o Leonardo na frente, em condições de vencer o pleito com o apoio popular que tem das pessoas que não têm privilégio na cidade. Das pessoas que precisam da educação porque não têm dinheiro para pagar uma escola particular, das pessoas que precisam do transporte, que têm de se enfiar em um ônibus de manhã e sair como se fosse uma lata de sardinha para chegar ao local de trabalho já cansado de viajar em pé dentro do ônibus e por quê? Por causa do cartel dos ônibus que a prefeitura permite existir. Cadê a caixa preta do lixo que nós vamos abrir logo depois de assumirmos a Prefeitura de Belo Horizonte? Todo mundo quer saber o que está dentro dessa caixa preta do lixo. Agora o mais lamentável de tudo isso é que quando o Leonardo chega num debate contra o candidato da aliança do poder, você vai notar o seguinte: o candidato do poder teve acesso a todos os documentos da prefeitura. O candidato da aliança do poder chegou a dizer que quem fez o programa de governo foram os funcionários da prefeitura. Precisa-se saber se fizeram durante o horário de trabalho. Precisa-se saber se tiraram férias. Precisa-se saber se foram pagos por fora, se receberam algum dinheirinho do caixa dois ou qualquer coisa que o valha. Porque isso não existe. Porque, ou ele tira licença ou tira férias ou ele não pode trabalhar em uma campanha.
Por que o PMDB não aciona a Justiça para investigar essa situação?
O que eu mais lamento é que essa informação teria de ter sido passada de forma democrática para os dois candidatos. Agora fica o Leonardo Quintão mendigando informações na prefeitura e às vezes é até maltratado. Ele não conseguiu penetrar nos arquivos da prefeitura, nem na Internet, exceto o Orçamento que tem de estar na Internet por força de lei federal.
Há uma estratégia para os últimos dias?
Nossa estratégia já está definida. Nós somos uma alternativa. Fala se em continuidade, mas a continuidade está associada à alternância do poder. Continua as obras, mas com uma liderança nova. Um candidato é um empresário que pensa que vai resolver todos os problemas só fazendo obras. Outro é um jovem administrador que vai pensar nas pessoas, que prioriza gente.
Publicada no jornal O TEMPO, no dia 22/10/2008