Debate mostra despreparo de Castelo e segurança de Flávio Dino

A satisfação de uma torcida com seu time pode ser medida pela presença no estádio durante o jogo. No caso do debate entre Flávio Dino (PCdoB) e João Castelo (PSDB) o termômetro da militância serviu para medir o desempenho dos candidatos. Já no terceiro bl

Do lado oposto, na rua onde os militantes de Flávio Dino assistiam ao debate, a festa era grande. Ao deixar o prédio da TV Mirante, afiliada da TV Globo no Maranhão, o candidato foi aplaudido pelos funcionários que aguardavam do lado de fora do estúdio. Depois, foi carregado por seus militantes. A alegria não era para menos. O candidato da Unidade Popular (PCdoB-PT) mostrou-se seguro ao falar de seus projetos e contundente ao rebater as acusações de Castelo. “Insisti no debate e finalmente ele aceitou. Acredito no voto consciente e sei que o que mostramos hoje (ontem) ajudará na definição dos votos”, disse Flávio Dino após o debate.


 



“Esta certamente é a eleição mais disputada dos últimos 20 anos em São Luís. E tenho muito orgulho de representar esse movimento de esquerda que chega ao segundo turno forte e que vencerá no dia 26”, declarou o candidato comunista. Na sua avaliação, “ficou evidente que Castelo não tem idéias e não reúne condições para mostrar que está preocupado com os problemas de nossa cidade. Chegamos até aqui com uma vitória moral e política muito importante. Agora, teremos a vitória nas urnas”. E alertou: “ninguém vence eleição de véspera, nem com pesquisa manipulada. Nosso povo tem sabedoria”.


 



Dino lembrou ainda que ao longo da campanha, João Castelo “não apresentou nenhum plano de governo, apenas idéias genéricas e vazias, slogans eleitorais”, o que ficou demonstrado durante as duas horas de debate. “Nem sequer tem uma página na internet para expor seu projeto para a cidade”, lembrou. “Nossas propostas, ao contrário, têm começo, meio e fim porque me preparei, estudei a cidade, aprendi com o povo nas ruas”, argumentou Dino.


 



Josefa Nogueira, que acompanhava o debate do lado de fora, festejava. “Flávio Dino mostrou de uma vez por todas que é mais competente. Ele está mais preparado para ser nosso prefeito”. Ela lembrou que “não votaria em Castelo de jeito nenhum”. “Apanhei da polícia dele quando era estudante na época em que Castelo foi governador”, disse, mostrando a cicatriz que ainda tem na testa. Já Marileide Ferreira disse que “Castelo apanhou porque não soube se expressar e não mostrou propostas”.


 



Constrangimento
Nas salas contíguas que abrigaram parte das equipes dos dois candidatos, os aplausos de uma ou outra turma indicavam o acerto do seu candidato. O pessoal de Castelo começou empolgado, mas foi preciso pouco tempo para que já não se ouvisse mais nenhuma manifestação. O silêncio parecia resultado do constrangimento. Mesmo depois de treinado por Duda Mendonça, pago com valores milionários, Castelo não conseguiu convencer o público.


 



Já na abertura, em mais uma tentativa de capitalizar o êxito do governo Lula em sua campanha, Castelo pediu que Flávio Dino provasse que o tucano era contra o Bolsa Família. “Você e seu partido são contra, sempre o chamaram de bolsa esmola”. E ironizou: “fico feliz que agora apóiem o programa. Vocês evoluíram”. Dino lembrou que o tucano sempre atacou o governo federal e que chegou a chamar Lula de “peru bêbado em véspera de natal” por supostamente não saber conduzir o país. Em resposta, Castelo disse que Dino “não tem proposta” e que iria apoiar o programa federal.


 



Em seguida, Dino perguntou se a experiência do tucano à frente da Empresa Maranhense de Administração Portuária (EMAP) foi um “modelo de gestão”. Recentemente, o Tribunal de Contas da União suspendeu as licitações no porto de Itaqui por ter encontrado irregularidades de diversos tipos. Apesar de ter comandado a empresa entre 2007 e 2008, disse que “recebeu uma empresa deteriorada” e tentou minimizar sua participação na empresa pública. “A avaliação do TCU diz respeito à administração anterior”, argumentou. Ao que o comunista rebateu: “você sabe que sua gestão foi ruim: não havia licitação nem concurso e praticava-se o nepotismo”.


 


 


Calúnias
Outro ponto alto do debate foi quando se tratou do tema educação. Castelo apresentou seu revolucionário plano de distribuição de leite para as crianças. “Castelo pensa que escola é restaurante”, disse Flávio Dino. E discorreu sobre alguns dos principais pontos de seu plano para a área: “claro que as crianças devem ter boa alimentação, mas nossa preocupação central é a qualidade do ensino, por isso vamos fazer a escola em tempo integral que vai oferecer, além da aula, cultura, esporte, biblioteca. A primeira será no antigo colégio Marista. Queremos que os filhos dos pobres tenham os mesmos direitos que os filhos da classe média têm”.


 



Mais tarde, João Castelo queixou-se por estar sendo “agredido” e disse que Flávio Dino queria “ganhar no tapetão”, referindo-se à suposta ação de Dino de impugnação da candidatura tucana. Mas o candidato se enganou. Na verdade, o pedido foi feito pelos candidatos Raimundo Cutrim (DEM) e Clodomir Paz (PDT) ainda no primeiro turno, devido a multas de Castelo pendentes junto à Justiça eleitoral.  


 



Em resposta, Dino ressaltou que “nunca houve candidato que tenha sido alvo de tanta calúnia quanto eu fui. Vocês chegaram a dizer que sou assassino de cristão”. E ressaltou: “você responde a processos por não pagar credores e empregados. Precisamos de um prefeito equilibrado”.


 



Em outro momento tenso, Castelo – visivelmente irritado – chamou Dino de arrogante e disse “tu vai ter que aprender muito ainda, está verde, muito dono de si, dono do mundo”. Antes de tratar sobre o tema então em questão – transporte – Dino respondeu dizendo que “aprendo muito, inclusive com você” e demonstrando o autoritarismo de Castelo em seu tom professoral, disse: “pelo jeito, você tem mesmo ódio da juventude”. Em seguida, disse que pretende expandir a malha viária, investir em ônibus, nos corredores exclusivos e no metrô de superfície. “Vamos diminuir a punição aos pobres” na área do transporte coletivo, ressaltou.


 



Quando o assunto foi saneamento, Dino foi enfático ao afirmar que “o prefeito tem de cobrar da Companhia de Águas e Esgotos do Maranhão (Caema) serviço de qualidade. Vou chamá-la (para conversar) e dizer que cumpra com o contrato”. Além disso, ressaltou a necessidade de se acabar com os esgotos a céu aberto e colocou a necessidade de fazer o PAC São Luís, obras de infra-estrutura no modelo do PAC Rio Anil que visam acabar com os principais problemas dessa área na cidade.


 



Castelo respondeu dizendo que não “iria brigar com a Caema”, empresa do governo estadual hoje administrado por Jackson Lago, apoiador indireto da campanha tucana. “Se for necessário, vou brigar com a Caema porque como prefeito, autoridade eleita pelo povo, será meu dever exigir (o cumprimento dos serviços)”.


 


 


Renovação na política
Ao falar de projetos para a terceira idade, Castelo tentou desqualificar Flávio Dino, dizendo que o candidato teria “agredido os idosos” e elogiou o pai de Flávio Dino, Sálvio Dino: “seu pai era mais ameno”. Dino rebateu dizendo que “Castelo admira tanto meu pai, mas passou a campanha difamando a ele e a minha família. Mas deixo isso para trás. Eu te perdôo. Tenho apreço por você. Quando eu digo que precisamos do novo não me refiro à idade, mas ao conteúdo renovado”.


 



Depois de discorrerem sobre segurança pública e habitação, ao falar da geração de empregos Flávio Dino lamentou o fato de Castelo não fazer na prática aquilo que prega e lembrou das empresas de Castelo que faliram, entre elas a Química Norte, que teria acumulado um dívida de  R$ 20 milhões. “Pague seus empregados”, disse Dino.


 



Castelo disse que provaria estar com suas contas em dia, mas não apresentou dados a respeito. Declarou ainda que Dino estaria enganando a população. A afirmação gerou pedido de resposta de ambos os lados. Castelo argumentou que também havia se sentido ofendido. Tonico Pereira, mediador do debate, explicou que o tucano tivera oportunidade de responder. No final, a assessoria jurídica do programa negou os dois pedidos.


 



Flávio Dino voltou a afirmar que manterá o funcionalismo público e aumentará o número de trabalhadores na prefeitura. “Vou manter os contratados, chamar os concursados e aumentar o número de concurso porque nosso governo vai precisar de mais gente para prestar serviço em áreas como saúde e educação. Temos espaço orçamentário para isso”.


 



Em alusão à concepção ultrapassada de gestão pública de Castelo, que prioriza a realização de obras, Dino ressaltou que “minha grande obra será cuidar de pessoas e os servidores serão chamados a participar dessa missão, de um grande mutirão pelo povo de São Luís”. Aliás, na ânsia de impor sua visão de administração pública, Castelo disse que construira tudo em São Luis. “Se o debate durar mais um pouco, você vai dizer que construiu as praias da cidade”, brincou Dino.


 


Em suas considerações finais, o comunista pediu uma chance neste domingo de mostrar sua capacidade administrativa. “Preparei-me para ser prefeito e não vou decepcionar meu povo. Domingo, é 65”.


 


 


De São Luís,
Priscila Lobregatte