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Eleições: o novo ainda vai surgir nas ruas de São Luís

A noite de 26 de outubro de 2008 poderia ter sido um marco da esquerda nacional em São Luís; poderia ter sido o primeiro passo para uma nova forma de gestão pública. Terminou melancólica para aqueles que lutavam por uma cidade mais humana e menos desigual

Quem participou das eleições na capital do Maranhão pôde ver de perto uma verdadeira luta entre dois pólos opostos, representados pelo amarelo, do tucano João Castelo, e pelo vermelho, cor histórica dos movimentos revolucionários, do comunista Flávio Dino. A cidade dividia-se e por todos os lados havia carros adesivados, bandeiras ao vento, muros pintados ou alguém que opinava apaixonadamente em defesa do seu candidato. Poderia ser uma “festa da democracia”, eufemismo para as eleições, se os dois lados competissem em condições de igualdade. Porém, examinando mais de perto o pleito deste ano, o que se viu foi, na verdade, uma briga entre Golias e Davi.


 



Golias, aqui, foi João Castelo, um candidato ultrapassado, de métodos pouco republicanos, refugo da ditadura militar, sem projeto para a cidade. Uma campanha milionária – o suficiente para pagar Duda Mendonça para cuidar de seu marketing – que teve ao seu lado a máquina do governo estadual de Jackson Lago e que usou e abusou de expedientes dos mais sórdidos para fazer valer os interesses pessoais de cada um dos seus caciques, Castelo à frente. Boatos havia de todos os tipos: que Flávio Dino agredia seus pais, que fecharia igrejas, que não gostava dos pobres. Questionaram sua pouca idade, sua sexualidade e sua capacidade administrativa. Mas não debateram projeto, porque não tinham o que contrapor. Apenas slogans e clichês vazios.


 



Flávio Dino, o Davi, vem de um movimento legitimamente popular nascido das lutas contra a mesma ditadura que pôs seu adversário no governo do Maranhão há trinta anos; se fortaleceu nas diretas, ganhou corpo nas sucessivas eleições que Lula disputou até atingir a façanha de levar ao poder o nordestino metalúrgico tão temido pela elite. Teve uma campanha de valores modestos, feita sem marketeiros profissionais, angariando apoios aqui e acolá. Mas com uma militância de dar inveja, um comprometimento real de cada um que participou do processo eleitoral. Gente que tinha hora para acordar, mas não tinha hora para dormir ou para ver sua família; pessoas que saíram de suas cidades e estados para ajudar no que fosse possível. E um candidato politicamente jovem, porém experiente e capacitado, que estudou a cidade e elaborou com sua equipe um programa concreto. 


 



Na noite deste domingo, ao encontrar seu povo no colégio Aprovação – centro de São Luís – tinha o couro dos sapatos gastos e os olhos cansados de tanto trabalho, mas com o brilho das lágrimas dos legítimos guerreiros que não sucumbem às seduções do poder ou às vilanias que desafortunadamente ainda existem no processo eleitoral brasileiro.


 



Flávio poderia ter seguido a bela trajetória que construiu na área jurídica. Mas preferiu se dedicar à política porque queria dar sua contribuição para mudar a realidade sofrida da cidade onde nasceu, se criou e pela qual se diz um eterno apaixonado. Percorreu São Luis de ponta a ponta, com o companheiro de chapa, Rodrigo Comerciário. Viu gente de todo tipo, sofrendo as mais variadas mazelas, sobrevivendo como podia. 


 



Três meses depois de iniciado oficialmente o processo eleitoral, Flávio Dino encerrava sua participação no jogo deste ano. Não conteve as lágrimas; foi mais uma vez humano como o foi em cada abraço que deu nas centenas de caminhadas que fez. Diante da militância chorosa, deu uma injeção de ânimo. “No final, tudo acaba bem. Se não está bem, é porque não acabou”, vaticinou, com a voz mansa de sempre.
Ficaram para trás as bandeiras rubras que coloriram a onda 65; o som das músicas e buzinas vindas das carreatas – muitas delas voluntárias, feitas sem que a própria coordenação de campanha soubesse de sua organização; ficaram para trás as crianças que adotaram Flávio Dino e os comícios que reuniam milhares de pessoas de todas as cores, religiões e condições sociais.


 



Flávio Dino não ganhou as eleições, porém saiu vitorioso. Fez uma campanha limpa, bonita, mobilizadora, animada, como há muito não se via na cidade; uma campanha digna do povo ludovicense. Perdeu a cidade, que por vias tortas optou pelo atraso. Vinte e seis de outubro marcou a primeira derrota do jovem comunista nas disputas eleitorais, mas não o tirou da vida pública. Dino continuará na Câmara dos Deputados e agora é uma nova liderança no Maranhão. E seu povo terá outras oportunidades para escolher o novo, o projeto coletivo de transformação social porque como diz a música da campanha “São Luís quer muito mais” e saberá “decidir o seu destino”.


 


 


 


De São Luis,
Priscila Lobregatte


 


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