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Greenspan em choque: ele não fez a lição de casa?

“Aqueles de nós, eu inclusive, que esperávamos que o interesse próprio das instituições de empréstimo protegesse os acionistas, estão em estado de descrença e choque”.
(Alan Greenspan, ex-presidente do FED)



Greenspan em estado de choque?

A frase foi dita por ele, durante depoimento ao Congresso estadunidense, na última quinta-feira (23).



O oráculo do mercado reconheceu publicamente que (durante o período em que comandou o Banco Central dos Estados Unidos) errou, “parcialmente”, ao defender a auto-regulamentação do mercado como o caminho mais curto para o desenvolvimento.



Greenspan, ao menos, reconhece o erro “parcial”. Mas, e os filhotes de Greenspan no Brasil?



Repare, leitor, que o ex-presidente do FED (fede?) fala também em “descrença”, como se o neo-liberalismo fosse uma espécie de religião – hoje colocada em questão.



Durante 20 anos, como jornalista, fui obrigado a entrevistar “consultores” brasileiros que reproduziram por aqui as idéias do oráculo de Washngton.
O Brasil precisa fazer a “lição de casa”, repetiam os “especialistas” como se fosse uma oração.



Nenhum desses consultores parece estar em estado de choque…



“Lição de casa”. Chego a sentir engulhos quando ouço esta expressão. É expressão sobretudo, de subserviência, como se o Brasil estivesse ainda na escola primária, e devesse aprender os ensinamentos de Greenspan e outros mestres.



A consultoria mais ouvida do Brasil (sintomaticamente, fica na rua Estados Unidos, em São Paulo) tem como um dos sócios um “especialista” que, quando esteve no governo Sarney, ajudou a levar a inflação a 80% ao mês.



Hoje, ganha dinheiro, pregando aos brasileiros: é preciso fazer a “lição de casa”, desregulamentar, privatizar, liberalizar tudo…



Como jornalista, reconheço que errei (“parcialmente”, é verdade) por entrevistar tantas vezes a turma da “lição de casa”. Digo “parcialmente” porque tentei equilibrar o jogo, eu juro, ouvindo também Paulo Nogueira Batista, Júlio Gomes (do IEDI) e outros poucos economistas que não se contaminaram pelas teses do professor Greenspan.



O Brasil, felizmente, não foi um bom aluno de Greenspan. Apesar do esforço de nossos “consultores”, fizemos só metade da lição de casa (principalmente, no governo FHC; Lula não teve coragem e/ou condições políticas de mudar o sistema, mas ao menos estancou o processo).



Do contrário, teríamos vendido tudo – como a Argentina de Menem. Não teríamos BNDES, Banco do Brasil e Caixa – instrumentos decisivos para enfrentar a crise que se agiganta.