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Paulo Nogueira Batista Jr: Transformar o G7 em G20?

Haverá neste fim de semana em São Paulo uma reunião ministerial do G20 financeiro que, em 2008, é presidido pelo Brasil. No fim de semana seguinte, dia 15 deste mês, os chefes de Estado dos países do G20 se reunirão aqui em Washington, a convite do pre

Obviamente, o tema principal das reuniões será a crise financeira. Países como o Brasil deveriam agir de forma rápida e decidida para tirar partido das oportunidades criadas pela crise. Os desenvolvidos, especialmente os americanos e os europeus, estão visivelmente na defensiva. Eles são, reconhecidamente, os grandes responsáveis pela atual confusão internacional. Provocaram um estrago monumental. Perderam muito da sua credibilidade e terão agora mais dificuldade em defender a manutenção pura e simples do status quo.



Uma das características marcantes do status quo internacional é o enorme déficit democrático. Esse déficit tem inúmeros aspectos. Um deles é que o principal fórum de chefes de Estado, o G7, inclui apenas sete países desenvolvidos (Estados Unidos, Canadá, Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Japão) -um arcaísmo que não reflete o peso crescente dos países em desenvolvimento, como China, Índia e Brasil.



Já o G20 inclui esses três países, os do G7 e mais Argentina, Austrália, Indonésia, Coréia do Sul, Turquia, México, Rússia, Arábia Saudita e África do Sul, além da União Européia. Esse grupo foi criado em resposta às crises financeiras da década de 1990 e ao reconhecimento crescente de que os emergentes não estavam adequadamente representados nas discussões internacionais. Os membros do G20 respondem por cerca de 90% do PNB mundial. As decisões são tomadas por consenso.



O G20 tem, entretanto, algumas limitações importantes. Trata-se de um fórum de ministros de Finanças e de presidentes de bancos centrais – e não de chefes de Estado. E pior: na prática, o G20 tem funcionado basicamente como fórum de assessores ministeriais e de diretores de bancos centrais. Não tem tido muita relevância na discussão dos temas internacionais, apesar dos esforços do Brasil e de outros países.



Com o agravamento da crise financeira internacional nos meses recentes, o G20 sofreu súbito “upgrading”. Na última reunião anual do FMI, aqui em Washington, em outubro, aconteceu uma reunião ministerial extraordinária do G20, que foi presidida pelo ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, e -fato inusitado- contou com a presença do presidente dos EUA.



Poucas semanas depois, Bush convidou os chefes de Estado do G20 para a já referida reunião do dia 15.



Esses fatos recentes já contêm, em embrião, uma das mudanças que conviria talvez defender: a transformação do G7 em G20. Este último, poderia ser convertido em fórum de chefes de Estado -com a substituição da UE por um dos principais países africanos (uma vez que as quatro principais nações européias já fazem parte do grupo e a África do Sul é a única nação africana no G20).



Transformar o G7 em G20 seria um dos passos que poderiam ser dados para tornar o sistema internacional um pouco mais equilibrado e democrático. Passou o tempo em que o G7 sozinho tinha uma atuação eficaz. O peso crescente das economias emergentes requer um mecanismo mais inclusivo.



Já que a crise produzida pelos desenvolvidos está nos dando tanta dor de cabeça, que ela sirva pelo menos para corrigir algumas distorções da arquitetura financeira mundial.



* Paulo Nogueira Batista Jr. é economista e diretor-executivo do FMI



Artigo originalmente publicado na Folha de S.Paulo (06/11)