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Comunista russo compara “céu azul” na AL com “frio europeu”

O Partido Comunista da Federação Russa (PCFR) “é o único partido de oposição real hoje na Rússia”, teve 18% dos votos na eleição presidencial de março, que passariam de 20% “em eleições livres e limpas”; “mas nós acreditamos que podemos fazer melhor do que isso”, opinou nesta entrevista Tetekin (Slava) Viacheslav. Responsável pelo trabalho internacional do PCFR, ele chegou a São Paulo nesta quinta-feira (20), para participar do 10º Encontro dos PCs.

Viacheslav: tempo bom na América Latina
Viacheslav falou  ao Partido Vivo, num inglês fluente, na sede nacional do PCdoB, transformada numa babel pelo afluxo de delegações de todos os continentes. O Encontro, que começa nesta sexta-feira no Novotel Jaraguá, incluirá um ato político aberto ao público, sábado (22), às 19 horas, na Quadra dos Bancários. Veja os principais trechos da entrevista:

Quais a sua primeira impressão do Brasil?
Esta é a primeira vez que visito a América Latina e minhas impressões são muito boas. A Europa é hoje um lugar frio e carregado de nuvens. Enquanto aqui (aponta para a janela, numa alegoria político-metereológica), aqui o céu está azul. Estou muito satisfeito por estar aqui. O povo é simpático… São apenas as minhas primeiras impressões, já que este é o meu primeiro dia de Brasil, depois de 12 horas de viagem.

Vocês, na Rússia e no PCFR, acompanham os acontecimentos na América Latina? Personagens como Hugo Chávez são conhecidos dos russos?
Sim, nós acompanhamos os acontecimentos latino-americanos, e com muita simpatia. Pensamos que é um processo altamente positivo. Ultimamente, o próprio governo pró-capitalista da Rússia começou a desenvolver suas relações com a América Latina. Nós pensamos que o que está acontecendo neste continente é importante não só para as forças de esquerda da Rússia, mas para os russos em geral. Inicialmente, a Rússia tinha apenas um aliado aqui, que era Cuba. Agora temos muitos aliados. O presidente [da Rússia, Dmitri] Medvedev esteve em visita à Venezuela, poucos dias atrás, com uma grande delegação, incluindo até religiosos russos…

…E estabeleceu um acordo militar com a Venezuela…
Sim, um acordo de cooperação militar. Mas também há laços de cooperação civil.
Como o PCFR, que faz oposição ao governo Medvedev-Putin, encara estas relações?

Nós apoiamos. Criticamos muito duramente o governo quanto a muitas outras coisas. Somos os mais fortes críticos do governo. Mas sobre as relações com a América Latina, apoiamos, ainda que como oposição sempre achemos algo para criticar.

E sobre o recente episódio militar envolvendo a Rússia e a Geórgia?
Nós apoiamos a ação na Geórgia. Aquilo não foi uma intervenção da Geórgia, foi uma intervenção da Otan [o bloco militar comandado pelos Estados Unidos, ao qual o governo georgiano de Mikhail Saakashvili pretende aderir]. Além disso, crimes de guerra foram cometidos pelo regime de Saakashvili. Eles atacaram cidadãos pacíficos, usando centenas de tanques e armas de guerra. Portanto, foi uma agressão militar.

Além disso, o povo brasileiro precisa saber que 90% da população da Ossétia do Sul e da Abcásia é formada por cidadãos russos, que querem fazer parte da Rússia e usa passaportes russos. Nós, comunistas, defendemos estes cidadãos. O Ocidente mente quando diz que houve ali uma agressão russa. Aquilo foi uma agressão da Otan.

Quais são então os aspectos em que o PCFR concentra a oposição ao governo?

Na política social e econômica. O regime Medvedev-Putin quer que os ricos fiquem mais ricos, enquanto não se preocupa com o povo pobre. Isso nós não aceitamos.

Restavam na Rússia algumas realizações do período socialista, como a educação gratuita, a saúde gratuita, a moradia muito barata, não havia desemprego e a criminalidade era reduzida. Eles destruíram tudo. Agora tudo está de pernas para o ar: muitos crimes, habitação cara, educação e saúde caras,  até fome. A política econômica do governo não trabalha pelo povo, trabalha pelos ricos. Por isto dizemos que este governo deve ir embora.

Como é o trabalho do PCFR?
Nós somos o segundo maior partido do país. O primeiro é o partido do governo, o Rússia Unida [a sigla de Putin e Medvedev, fundada em 2001]; e praticamente não há outros partidos; a rigor, há outros, mas fazem parte da coalizão governista e não aparecem muito. O Partido Comunista é o único partido de oposição real hoje na Rússia.

Nosso partido tem 160 mil membros. Nas últimas eleições presidenciais [em março passado], nosso candidato [Gennady Zyuganov, primeiro-secretário do PCFR] teve 18% dos votos. E isto porque na realidade houve manipulação dos resultados; em eleições livres e limpas, teríamos tido no mínimo 20%.

Mas nós acreditamos que podemos fazer melhor do que isso e para tanto vamos realizar um novo congresso do partido. Não estamos satisfeitos, pelo contrário, somos muito críticos. Achamos que precisamos trabalhar mais com o movimento sindical e com os jovens. Esta última é uma tarefa que estamos enfrentando. Ao contrário da América Latina, na Rússia a juventude não está mobilizada. E achamos que nossa tarefa é não apenas ter os operários e os jovens do nosso lado, mas também ativá-los.

Se me permite uma opinião, eu diria que o trabalho do PCdoB com a juventude é bastante interessante…

Por favor, escreva aí que entre outras coisas vim aqui para estudar essa experiência brasileira. Ela é muito importante para nós.