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Dinamarqueses querem ajustes na tática comunista

Em sua contribuição para o 10.º Encontro Internacional dos Partidos Comunistas e Operários, realizado em São Paulo, a presidente do Partido Comunista na Dinamarca, Betty F. Carlsson, apontou a necessidade de renovar a tática dos comunistas para enfrentar a crise.

Leia abaixo a íntegra do documento do PC na Dinamarca:

“Como todos nós sabemos, nossas táticas devem ser ajustadas continuamente em relação à situação atual. A estratégia em nossa luta pelo socialismo está indicada, mas desde que nos reunimos pela última vez aconteceram mudanças substanciais nas forças das classes. De agora em diante necessitaremos de ajustes na tática, e este encontro ocorre no momento certo para isso.

Neoliberalismo
O capitalismo e sua forma neoliberal criou uma enorme exploração nos últimos anos e o lucro do grande capital alcançou níveis jamais vistos. Isso resulta, em primeiro lugar, da especulação, das guerras, dos armamentos, de mais exploração do trabalho e da conquista de novos mercados.

O capitalismo chegou muito próximo de seu objetivo de desregulamentação da sociedade.

Entre os novos mercados que o capitalismo conquistou, nós devemos mencionar os antigos países socialistas, que asseguraram ao mesmo tempo um custo de trabalho barato, condições de trabalho fáceis e novas regras ambientais. Outro modo de criar novos mercados para o capitalismo é a grande tendência de privatizações, que foi vista por todo o planeta. Enormes riquezas, que eram propriedade do povo por meio do estado ou outras formas de propriedade públicas foram repassadas para o capital. Paralelo a isso o agora comandado terceirização do setor privado, o capital criou um mercado seguro, com abastecimento regular de dinheiro proveniente do povo em forma de impostos.

Para poder continuar a financiar esses lucros para o capital, as sociedades foram forçadas a cortar os gastos públicos, com exceção dos gastos militares. A Dinamarca não é a única nação exaurida com um desequilíbrio social cada vez maior, como conseqüência dessa política.

A estratégia do capital foi planejada em detalhes e então colocada em ação.

Métodos ideológicos
O capital tem também como objetivo estratégico reajustar continuamente suas táticas para poder levar adiante sue grande projeto. Em nossa parte do mundo, a União Européia foi o seu principal instrumento, e a corrente de novos e ainda mais ameaçadores tratados cimentou as possibilidades para o capital em todas as nações da EU. Para conseguir que as pessoas da União Européia aceitassem isto, o capital e os políticos de direita tentaram vender o projeto da União Européia como uma forma necessária de cooperação, um projeto de paz na Europa, uma cooperação necessária para garantir o meio ambiente, etc.

A tática desafortunadamente teve amplo sucesso, não só pelo auxílio que obteve dos partidos social-democratas como também de partidos, que anteriormente se denominavam socialistas e de esquerda. “Nós precisamos estar presentes à mesa de negociações. Nós precisamos influenciar a partir de dentro. A EU existirá sempre e nós só precisamos tentar melhorar a União Européia”, estes foram os argumentos usados por esses partidos. Mas a ambição do capital foi tão grande e tão indistintamente anti-social que revoltas populares surgiram em resultado disso.

Nem todos entenderam claramente que o inimigo é a União Européia como uma instituição capitalista. Mas a revolta foi mais peculiar ainda em relação aos referendos sobre os tratados europeus, nos quais os povos com raras exceções rejeitaram os tratados.

Outro método do capital foi espalhar as possibilidades de especulação nos mercados para parcelas da população. A primeira delas foi feita via investimentos compulsórios em programas de aposentadoria, o que era particularmente novo nos países nórdicos, onde freqüentemente as aposentadorias eram alimentadas via impostos pagos pelos cidadãos. Por uma erosão do valor das aposentadorias publicas, as pessoas eram empurradas a investir em fundos de pensão privados, onde os ganhos eram investidos em ações e títulos pelos bancos e fundos de pensão.

A economia de cassino também promoveu o que se chamou de “ações dos empregados” e opções. Isso “legalizou” a especulação nas bolsas, e levou a enfraquecer a consciência de classe em relação à total oposição entre o interesse dos empregados e dos empregadores, o capital. Ao mesmo tempo, criou-se uma política estrita em relação ao mercado imobiliário. Proprietários de moradias foram encorajados a assumir novos contratos de outras moradias e a habitação se tornou um objeto crucial de exploração.

O mercado imobiliário deu um lucro enorme para o setor financeiro, que emprestou dinheiro para pessoas ou empresas de construção civil. Esse artifício deu lugar a preços exorbitantes no mercado imobiliário atingindo grande parte da população. Para alguns grupos de pessoas isso deu a possibilidade de ter um modo de vida artificial, e para outros a supervalorização dos preços foi usada como suplemento para salários estagnados. Para as famílias jovens, especialmente, os altos preços tornaram impossível encontrar um imóvel que pudesse ser comprado. Os preços das moradias eram ajustados na base da expectativa da demanda futura, mas quando a demanda não existiu, o colapso foi inevitável. Esse é um exemplo clássico da insaciedade do capital, que no fim levará à sua própria morte. Todos aqueles dotados de bom senso viam que essa bolha iria colapsar. Junto com a economia de cassino, isso conduziu a vários colapsos no mercado financeiro. Pode-se dizer que o assalto aos bancos partiu dos próprios banqueiros.

A divisão dos trabalhadores entre aqueles que poderiam gastar seus salários com empréstimos para pagar mais e mais casas exorbitantes e aqueles que disso estavam impossibilitados dividiu a classe trabalhadora na luta por melhores condições de vida. Esta é uma parte da estratégia do capital, a de “dividir para conquistar”. Essa política também contempla o crescimento da xenofobia na nossa região. Essa política foi erguida e sistematizada e depois espalhada na forma de “guerra contra o terrorismo”, que é claramente baseada no racismo, mas atinge setores progressistas por todo o planeta.

Essa divisão no mercado de trabalho entre os grupos A e B com melhores condições para alguns grupos escolhidos, exclusão de outros grupos de importantes bens e serviços, ataques maciços contra os sindicatos e uma divisão dos grupos de aposentados entre aqueles que têm ou não têm programas de aposentadoria privados, foi também uma parte integrada da estratégia capitalista para destruir a unidade

No nível ideológico o capital foi bem sucedido em vender sua idéia de que a sociedade é como “um grande negócio – melhor dirigido por forças burguesas'. Essa idéia foi bem sucedida nos chamados “países ocidentais”, não importa em que parte do mundo estejam, e por governos burgueses que tiveram o poder em vários países por décadas seguidas.

Novo fenômeno
O atual colapso do sistema financeiro capitalista enterrou totalmente com alegação do sucesso do liberalismo. A atual crise é tão profunda e séria em todo o sistema que medidas normalmente odiadas pelo capital e por seus governantes foram realizadas com pressa inaudita. As decisões de dar enormes subsídios estatais ao capital financeiro foram as primeiras ações tomadas. Foram dados – e ainda serão dados também – enormes quantias de dinheiro para setores que estavam na iminência de falir. A supervisão do sistema financeiro foi ampliada e os grandes problemas causados pelo livre trânsito do capital entre as fronteiras estão sob discussão.

Infelizmente a característica disso é que enquanto os próprios capitalistas estão preocupados com os grandes problemas que podem levar o sistema capitalista a um colapso, grande parte da população permanece inconsciente do que acontece.

Da crise econômica e financeira vamos à crise ecológica. Nesse sentido, pontos de vista muito vazios também dominaram o cenário. Nossa Terra está sucumbindo à poluição e ao abuso descontrolado dos seus recursos naturais. A despeito de belos discursos, o desejo de lucro rápido foi mais importante que as conseqüências dessas políticas para a Terra a longo prazo. Os acordos feitos são inúteis, assim como as políticas diárias que nações realizam contra isso.  Os exemplos estão, entre outros, a política das questões de transportes, energia, guerras, armamentos, devastação das florestas, etc. Desastres naturais se tornaram uma parte cruel da vida cotidiana de várias pessoas.

Não é novidade nessa situação, onde a classe operária deve pagar o preço mais alto pela crise capitalista. No momento, estamos vendo apenas a ponta do iceberg e os problemas criados para as pessoas. O futuro mostrará que o objetivo do capitalismo é o que o nosso direitista premiê chamou de “estado-mínimo”, no qual valores comuns da sociedade estarão subordinatos às necessidade do capital. Os perdedores serão o sistema de seguridade social, o sistema educacional, a pesquisa, etc.

A luta contra esta situação
O que nós podemos fazer, como comunistas, nesta situação em que a solução mais óbvia é se desfazer do sistema capitalista?

Nossa linha política, ponto de vista, nossos lemas devem, antes de tudo, ser muito claros e orientados em nossas críticas. Precisamos coordenar nossas ações políticas e iniciativas. Nós temos, via Solidnet, observado que outros partidos comunistas formularam programas extensos para retirar a classe trabalhadora da crise, de um modo que assegure as pessoas que serão as mais atingidas. Do mesmo modo é nosso serviço formular as demandas para uma mudança total do modo como a sociedade é gerida, e quais tipos de mudanças serão necessárias. Estamos seguros que somos os que têm a alternativa.

E precisamos olhar sem distinção os movimentos que surgirem, mesmo que eles não saibam que fazem parte dos movimentos da classe operária.

A nível internacional, nós vimos um grande continente,  a América Latina, levantar-se contra o imperialismo e o poder ditatorial americano. Talvez o socialismo não esteja na agenda neste momento, mas o levante na América Latina é um passo importante neste caminho. Isso demonstrará a força que o povo tem, se estiver unido, e demonstrará as possibilidades pode uma vida melhor para cada pessoa, para os comunistas e para toda a humanidade no planeta.”