Messias Pontes – Quem tem mais poder que Daniel Dantas?

A inversão de valores que de há muito se verifica no Brasil é de fazer inveja a qualquer republiqueta. Aqui, basta ter dinheiro e o apoio incondicional da mídia conservadora, venal e golpista para transformar herói em vilão e vice-versa. O caso mais em

Há poucos meses os três eram os grandes heróis brasileiros que ousaram enfrentar o poderio do megaguabiru Daniel Dantas, chefe da maior quadrilha ora em operação no País. Com contundentes provas, o delegado Protógenes requereu e o juiz De Sanctis decretou a prisão temporária de DD, mas não contavam com a celeridade ímpar do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, de conceder em tempo recorde dois habeas corpus em favor do dono do Banco Opportunity.



 


A presteza de Gilmar Mendes para com Daniel Dantas foi tamanha que logo o delegado Protógenes foi afastado não só do comando da Operação Satiagraha, mas também forçado a deixar São Paulo e ir para Brasília sob o argumento de que teria de fazer um curso de aperfeiçoamento. Esta versão oficial, com o respaldo de membros do primeiro escalão governamental, logo foi desmentida por Protógenes que protocolou representação junto ao Ministério Público Federal para denunciar que foi forçado a deixar o comando da Operação.



 


De acusador, Protógenes passou à condição de investigado sob o argumento de que havia vazado informações da Satiagraha e de usar indevidamente agentes da Agência Brasileira de Informações (Abin) para ajudá-lo no caso DD. Agora, ao se reapresentar ao diretor da Inteligência da PF, Daniel Lorenz, este lhe comunicou que ele  não mais retornaria à divisão de Inteligência e que deveria se apresentar com de 15 dias ao Departamento de Recursos Humanos da Polícia Federal para ser informado sobre o seu novo local de trabalho na instituição.



 


O delegado Paulo Lacerda, por apoiar a Operação Satiagraha, sofreu o mesmo tipo de perseguição que seu colega Protógenes Queiroz, sendo responsabilizado de corroborar com escutas telefônicas clandestinas por parte de agentes da Abin. Sem que até hoje tenha apresentado provas e revelado a fonte, a panfletária revista Veja divulgou texto de uma conversa do Ministro Gilmar Mendes com o senador Demóstenes Torres, do DEMO de Goiás, que teria sido repassada por um agente da Abin.



 


Mesmo sem até hoje a revista da famiglia Civita ter apresentado o áudio da suposta conversa de Mendes com Torres, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi induzido a afastar o delegado Paulo Lacerda da direção- geral da Abin. O responsável pelo crasso erro foi o ministro da Defesa, Nelson Jobim, defensor incondicional de Daniel Dantas, e que não teve a dignidade de entregar o cargo. Jobim é considerado o líder de Daniel Dantas no Poder Executivo, como Gilmar Mendes o é no Judiciário, e o senador Heráclito Fortes, do DEMO do Piauí, no Congresso Nacional.



 


Todos os indícios apontam que foi o oficial de inteligência Nery Kluwe que forjou o suposto grampo no telefone do ministro Daniel Mendes. Kluwe é acusado de várias irregularidades na presidência da Associação dos Servidores da Abin, entre elas emissão de cheques sem fundo e não comprovação de despesas. Ele foi acusado também pela Controladoria Geral da União de advocacia administrativa, já que usava informações secretas da Abin para atuar em favor de seus clientes, o que pode lhe custar o emprego.



 


A versão apresentada por Kluwe (só abobrinha) em nada compromete o ministro e muito menos o senador demista.  Com a arrogância que lhe é peculiar, o presidente do STF disse que chamaria o presidente Lula “às falas” o que, para surpresa dos democratas brasileiros, se concretizou. Lula acabou corroborando com a vergonhosa operação abafa, que foi gestada no próprio Palácio do Planalto.



 


O juiz De Sanctis também foi alvo de mentiras e calúnias, tendo Gilmar Mendes trabalhado para o seu afastamento, chegando a ser julgado pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região, saindo vitorioso por dois votos a um. Apesar de todas as pressões, De Sanctis mostrou dignidade, abdicando da promoção para desembargador federal.



 


O comportamento de Gilmar Mendes é tão comprometedor que pode ter levado 99% dos advogados reunidos em congresso nacional da categoria, em Natal, na semana passada, a declararem não confiar no STF. Na mesma pesquisa, 90% dos entrevistados afirmaram haver influência política no Poder Judiciário do País.


 



De acordo com o delegado federal Carlos Eduardo Pellegrini, Daniel Dantas movimentou um esquema de propina de R$ 18 milhões para políticos, juízes e jornalistas. A consciência democrática do País exige que os nomes dos que venderam a alma ao megaguabiru venham a tona e que o chefe da quadrilha retorne à prisão, de onde nunca deveria ter saído.



 


Apesar de todas as evidências e provas contundentes de comanda o maior esquema de corrupção nos últimos 13 anos, Daniel Dantas segue lépido e fagueiro a sua trajetória criminosa e rindo da cara dos que pretendem vê-lo fazendo companhia ao colega Fernandinho Beira Mar. Afinal, ele está bem representado nos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.



 


Diante de tudo isto, quem no Brasil tem mais poder que Daniel Dantas?


 


 


Messias Pontes é jornalista e colaborador do Vermelho/Ce