Artigo: Wellington Salgado e os senadores biônicos

Começo este texto com uma pergunta, na verdade, um grande desafio: O que você, leitor, sabe me dizer sobre a atuação do senador pelo PMDB de Minas Gerais, Wellington Salgado? Tempo para pensar na resposta…

Bom, se findo o prazo para reflexão você não conseguiu dizer nada, não se preocupe, nem se julgue despolitizado. Você não está só. Eu também sei praticamente bulhufas sobre esse representante de Minas no Senado. Apenas posso dizer que ele é carioca, tem um visual estranho e de gosto duvidoso, além de ser fruto de uma das distorções do nosso sistema eleitoral. Salgado representa nosso Estado no Congresso há quase três anos, sem ter recebido sequer um voto para ocupar o cargo. Ele assumiu a vaga porque era suplente de Hélio Costa, que alçou ao posto de ministro das comunicações.


 


Sobre o parlamentar, volto a falar no fim do texto. Por ora, vamos discorrer sobre história brasileira, acerca de uma fase que não deixa saudades: a ditadura militar. Naquele período, mais precisamente no governo do general Ernesto Geisel, foi instituída uma mudança para garantir maior governabilidade. Um terço dos senadores seriam indicados pelo presidente da república, em vez de serem eleitos pelo voto da população. A esses parlamentares, deu-se o nome de “senadores biônicos”.


 


Felizmente, com a redemocratização, o voto passou, em termos, a definir os três representantes a que cada Estado da Federação tem direito. Digo “em termos” porque, passados quase 25 anos do fim da ditadura, vivemos um grande retrocesso. Atualmente, perto de um quarto do Senado (20 das 81 cadeiras) é ocupado por suplentes. As substituições ocorreram por vários motivos, desde cassação, passando por eleição do titular para outro cargo, até falecimentos. Seja como for, é uma distorção tantos parlamentares ocuparem o cargo sem receber nenhum voto.


 


Conforme prometido, volto a falar de Wellington Salgado. Como disse, ele é carioca e pouca relação tem com Minas. A não ser o fato de aqui atuarem unidades da instituição de ensino superior de sua família, a Universo, Universidade Salgado de Oliveira. Mas ele sabe pouco sobre nosso Estado. Até poderia estudar um pouquinho, né não? Dia desses, saudando, da tribuna do Senado, aos peemedebistas eleitos para prefeituras mineiras, cometeu a indelicadeza de errar o nome de algumas cidades. Lance fatídico.


 


Sua atuação em Brasília não é das mais produtivas. Passa longe disso. Um dos poucos projetos de lei apresentados por ele foi uma tentativa de mudar as regras de nomeação para o Conselho Nacional de Educação. As indicações são feitas pelo presidente da república. Mas Salgado quis, nas suas palavras, “dar mais legitimidade aos indicados”, transferindo para o Senado essa função. Por coincidência, sua família atua no “ramo” do ensino, e sua mãe, Marlene Salgado de Oliveira, reitora da Universo, já pleiteou vaga de conselheira nacional de educação.


 


E tem mais. O senador apresentou, ou quis apresentar, um requerimento para reconstituir o acidente do avião da Gol. Pausa para respirar e gargalhar… Onde já se viu isso? Reconstituir acidente aéreo? Essa pérola já veio acompanhada de várias outras. Daqui a pouco, vão pedir para reconstituir o naufrágio do Titanic.


 


Entretanto, os atos falhos do senador são perdoáveis. O que não dá pra perdoar são opiniões que refletem o velho preconceito de classe por parte das elites brasileiras. Há alguns dias, ele deu entrevista ao jornalista Luís Carlos Bernardes na Band Minas. Ao analisar a atuação do delegado Protógenes Queiroz e do juiz Fausto de Sanctis na operação Satiagraha da Polícia Federal, disse, em outras palavras, o seguinte:


 


“Eles [Queiroz e Sanctis] fazem parte de um grupo de pessoas que vieram das camadas mais baixas da população e que galgaram importantes postos, como os de delegado e juiz federal. Agora, querem fazer justiça com as próprias mãos, para tentar reparar as distorções que ocorrem no Brasil, sem ter a dimensão do peso de uma canetada juiz ou delegado federal”. Prefiro nem comentar. Mas anotem essa placa: Wellington Salgado, senador e proprietário de instituição de ensino superior no Brasil.


 


Para finalizar, sabem quem é suplente de outro senador mineiro, Elizeu Rezende (DEM)? Clésio Andrade. Aquele mesmo.


 


Por Orozimbo Souza Júnior; jornalista e especialista em comunicação política