''A crise vai atingir a todos'', diz Barroso
Aproveitando a passagem do membro do Comitê Central do PCdoB e economista Sérgio Barroso pelo Recife, o caderno Pernambuco do site Vermelho.org conversou com o comunista e procurou saber mais sobre a crise econômica que vem se abatendo sobre o mundo. Qual
Publicado 04/12/2008 21:28 | Editado 04/03/2020 16:59
Vermelho – Barroso, dá para fazer um painel da crise, atualmente?
Sérgio Barroso – Acho que a gente deve olhar esta crise por dois aspectos. O primeiro é que ela tende a se espalhar em 2009 pela União Européia, com recessão nos Estados Unidos e Japão. Praticamente todas as economias avançadas vão sofrer o impacto dessa recessão. Por outro lado, o que difere ela da grande crise de 1929, é que há uma ação dos estados centrais e seus bancos no sentido de controlá-la, com medidas para superar o estrangulamento do crédito, por exemplo. Medidas que dizem respeito a gastos, a renda, a emprego. Isso ainda não tem efeitos maiores, mas há perspectivas muito sombrias para 2009.
Vermelho – Quais os efeitos diretos da crise aqui no Brasil?
Sérgio Barroso – Não há a possibilidade de nenhum país escapar desta crise porque ela atingiu o coração do sistema financeiro mundial, que são os Estados Unidos. De modo que já estamos sentindo os seus efeitos aqui. Foi anunciado o desemprego na Volvo e na Vale do Rio Doce, entre outras vagas de emprego que vêm diminuindo nos últimos meses. Até mesmo o crédito bancário vem diminuindo. Isso significa que os efeitos da crise já chegaram ao Brasil e o mais forte deles é o desemprego.
Vermelho – Apesar disso, o Brasil tem resistido bem?
Sérgio Barroso – Tem, sim, e por várias razões. Uma delas é que diminuímos nossa vulnerabilidade externa, as taxas de crescimento entre 2007 e 2008 foram em torno de 5% e as medidas que vêm sendo tomadas e anunciadas, além da manutenção do PAC (Plano de Aceleração do Crescimento), são positivas para se defender da crise. Isso faz com que tenhamos um desempenho mais favorável.
Vermelho – Falou-se muito durante a palestra “A nova crise do Capitalismo e a luta pelo Socialismo” de inversão de idéias. Seria este um momento de afirmação do Socialismo?
Sérgio Barroso – Eu acho que, primeiro, é um momento de desmoralização do paradigma neoliberal. Essa história de mercados livres, de mercados auto-regulados, isso aí foi pro saco. É claro que os teóricos do neoliberalismo vão tentar manter seus ideais, mas essa crise foi arrasador para eles. Eles vão ter de procurar outro aparato ideológico para substituir o neoliberalismo. Então, a partir disso, as pessoas vão percebendo que em cada nova crise internacional quem paga são os trabalhadores. Por isso, se busca um ideal superior que é o socialismo.
Vermelho – E de que modo isso vem sendo passado para a população?
Sérgio Barroso – Pelos exemplos dramáticos que vêm sendo transmitidos pelos telejornais. Não é possível que os três maiores bancos de investimentos do mundo simplesmente quebrem. Que grandes montadoras, símbolo do capitalismo americano, estejam falindo e precisem da ajuda do estado. Não é possível que isso não signifique que alguma coisa está mudando. Que um novo regime precisa ser estudado, pois este que está aí já não se adequa mais as nossas necessidades. Então, é através da prática que a população vai percebendo estas diferenças.
Do Recife,
Daniel Vilarouca