A lógica das fundações universitárias, do investimento em pesquisa de alta tecnologia

Pensando em relação ao investimento em alta tecnologia desenvolvido em universidades federais no Brasil, tendo como incentivo de meu raciocínio uma reflexão de Noam Chomsky, me pergunto sobre o modo como instituições privadas financiam as pesquisas no

O Estado, ou seja, todo o povo do Brasil, financia o funcionamento da universidade pagando os salários dos pesquisadores, a manutenção das instalações dos campi e por ai vai. Este mesmo Estado se ausenta em determinados campos de investimentos, em especial no financiamento de pesquisas. Ai entram as empresas privadas, aqui em nosso caso Aracruz Celulose, Vale, Arcelor e Petrobrás (estatal, mas com grande capital privado investido), que investem somente na ponta da cadeia. As empresas entram com um recurso considerável para o universo de financiamento da pesquisa no Brasil. Porém este financiamento não é desinteressado. O mundo é regido por interesses.


 


Segundo Noam Chomsky, O sistema em que vivemos deveria ser chamado de capitalismo de Estado, e não só de capitalismo. Pegue os EUA, por exemplo. A economia sustenta-se pesadamente no setor estatal. Há uma agonia tremenda agora em relação à socialização da economia, mas isso é uma piada sem graça. A economia avançada, a alta tecnologia, e assim por diante, têm sempre confiado extensivamente no dinâmico setor estatal da economia. Isso é verdade em relação a computadores, internet, aeronaves, biotecnologia, em praticamente qualquer lugar que você olhe. O MIT, de onde eu estou falando com você, é um tipo de funil no qual o público despeja dinheiro, e desse dinheiro é que sai a tecnologia do futuro que será entregue ao poder privado para lucrar com ela. Então, o que temos é um sistema de socialização de custos e riscos e a privatização do lucro.


 


Recentemente assistimos aqui na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) um jogo sujo, porém costumeiro. A empresa Aracruz Celulose tentou firmar um convênio com a universidade, em especial (por mais incrível que pareça) com os departamentos do Centro de Ciências Humanas e Naturais. É comum por aqui que as grandes empresas financiem pesquisas no Centro Tecnológico, mas dessa vez o alvo eram as pesquisas, o saber, das humanidades. O objetivo era claro, financiar pesquisas que fornecessem justificativas para a instalação das atividades da empresa em terras de povos indígenas e de quilombolas.


 


Como eu dizia, a lógica do investimento destas empresas é a obtenção de lucro com o menor custo possível. Uma pesquisa com profissionais de qualidade não sairia barata se levarmos em conta o salário mensal, os custos operacionais, as viagens a campo e etc… Mas, investindo na Universidade Federal seus problemas estão resolvidos! Pesquisadores de alto nível por um custo reduzidíssimo graças às benesses do Estado.


 


Então os Cheques Sem Fundo entram em ação e defendem as fundações, os convênios… em troca do atendimento de seus interesses.


 


*VITOR HUGO SIMON MACHADO é Cientista Social e Professor da Universidade Federal do ES (Ufes).