Crescem suspeitas de que Veja mentiu sobre grampo no STF
Quatro meses e mais de uma centena de depoimentos depois, o inquérito da PF que apura o grampo ilegal de conversas do presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes, chega ao fim do ano sem provas de autoria nem vestígios do áudio cuja tra
Publicado 24/12/2008 15:18
O inquérito está nas mãos da Justiça, que analisa o pedido de prorrogação feito pelos delegados Rômulo Berredo e William Morad. A tendência é que a investigação ganhe sobrevida de 30 dias, mas, ainda assim, na PF poucos acreditam que ela chegue aos culpados.
A dificuldade de se comprovar a existência do áudio coloca em dúvida a veracidade da informação divulgada pela revista Veja. A revista, escorada na desculpa do ''sugilo da fonte'', recusa-se a dizer onde e através de quem conseguiu a suposta gravação. Também nega-se a fornecer o original que recebeu.
Diante de tanta relutância, não será surpresa se a investigação da PF concluir que a revista forjou a matéria e mentiu com objetivos inconfessáveis. Não seria a primeira vez que a revista da família Civita seria flagrada mentindo aos seus leitores. Reportagens como a dos dólares cubanos engarrafados e a suposta ajuda do PT às Farc são apenas dois dos casos conhecidos em que a revista usou informações sabidamente falsas para tentar criar fatos políticos.
No caso do suposto grampo no STF, não faltam motivos para a Veja fabricar a matéria. Basta lembrar que foi o ministro Gilmar Mendes quem concedeu, por duas vezes e em prazo recorde, habeas corpus que mantiveram o banqueiro Daniel Dantas longe das grades. O mesmo Daniel Dantas é acusado de subornar jornalistas da grande imprensa para que atuassem a seu favor. Um dos colaboradores da revista Veja, Diogo Mainardi, é apontado como um dos porta-vozes dos interesses de Daniel Dantas na mídia.
Protógenes: ''cadê o áudio?''
No início desta semana, durante o programa Roda Viva, da TV Cultura, o delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz disse acreditar que não houve grampo realizado contra o presidente do STF durante a Operação Satiagraha e qualificou de ''banqueiro bandido e condenado'' Daniel Dantas, o principal investigado na ação.
O delegado rejeitou qualquer grampo ilegal de uma conversa entre Mendes e o senador Demóstenes Torres (DEM-GO). ''Levaram o nome de duas importantes pessoas da República fabricando um escândalo'', disse. ''Eu acredito que não houve grampo. Não existe áudio. Logo que foi anunciado [o suposto grampo] eu mesmo perguntei ‘cadê o áudio?’. Eu quero o áudio.''
A questão da falta do áudio para provar o grampo aumenta a suspeita de que teria havido uma fraude na denúncia apresentada por Veja. Na época, a revista acusou a Abin de ter participação na suposta escuta clandestina, criando uma crise constitucional e, ao mesmo tempo, beneficiando Dantas, o banqueiro condenado por prática de suborno comprovada em um vídeo. A apresentadora do programa, Lilian Witte Fibe, saiu em defesa da revista Veja, que publicou a suposta escuta, alegando que não haveria necessidade de se ter o áudio para sustentar a publicação da denúncia.
O delegado queixou-se da mídia, que inverteu os papéis de investigado e investigador. ''A partir de vários outros momentos deixou-se de falar da conduta de um banqueiro, que na verdade é um criminoso. Eu estou na condição de investigado porque os veículos [de comunicação] informaram ao leitor uma afirmação mentirosa'', disse.
Segundo Protógenes, a PF deveria desconfiar da mídia, a quem acusou de atuar em favor de Dantas e predisse acusações de que ele seria responsável por grampos contra Mendes.
Abin
Na sexta-feira, o GSI (Gabinete de Segurança Institucional) arquivou sindicância aberta para investigar a participação de agentes da Abin no episódio. O gabinete diz não ter achado provas contra os agentes. Mas nada disso, por ora, é capaz de garantir a recondução de Lacerda ao cargo e devolver a tranqüilidade à Abin.
Sobre os possíveis meios usados para realizar o grampo, na ausência de evidências de peso, a PF trabalha para descartar tecnicamente as hipóteses. O uso de maletas, possibilidade levantada pelo ministro Nelson Jobim (Defesa), já foi desconsiderado. Em janeiro, ficarão prontas as perícias em equipamentos da Vivo, da Brasil Telecom e na central telefônica do Senado. Sobre elas estão depositadas as poucas esperanças de produção de provas.
Da redação,
com agências