A vitória de 2008 em Goiânia pode se repetir em 2010
Ao analisar os cenários possíveis para a disputa estadual de 2010, Luiz Carlos Orro, presidente estadual do PCdoB em Goiás aposta em vitória de uma frente de centro-esquerda para o governo goiano.
Publicado 29/01/2009 13:03 | Editado 04/03/2020 16:44
As eleições 2008 aconteceram sob o impacto da gravíssima crise econômica e financeira – o estouro das bolhas especulativas do setor imobiliário e financeiro – que eclodiu em Nova York, no coração do império estadunidense e se espalhou feito praga pelo mundo afora. “Se ainda não é o fim do capitalismo, do neoliberalismo só resta discutir o preço do enterro”, ou “esta é a crise terminal do neoliberalismo”, afirmam renomados economistas, ante a injeção maciça de recursos públicos – mais de cinco trilhões de dólares – dos Bancos Centrais para salvar bancos e instituições privadas. Já se anuncia que o rombo dos créditos de risco situa-se entre estratosféricas quantias que vão de 12 a 27 trilhões de dólares. Coisas do Avestruz Master global em que o capital financeiro transformou a economia mundial.
Foi nesse quadro que a direita engatou uma das maiores marchas à ré de todos os tempos. Nos EUA, a consagradora eleição de Barack Obama pôs fim às insanidades direitistas da era Bush, em acachapante derrota do Partido Republicano. No Brasil, as forças de direita também encolheram bastante. O DEM perdeu 30% dos prefeitos; o PSDB encolheu os seus em 10%. Por outro lado, houve crescimento da presença política dos partidos aliados ao presidente Lula, notadamente o PT, PMDB, PSB, PDT, PCdoB e outras legendas.
Em terras goianas, pode-se concluir que avançou o objetivo de constituir uma articulação política de centro-esquerda, pois o resultado das eleições municipais foi amplamente favorável aos partidos que apoiam o governo do presidente Lula. A vitória dessas forças ainda não são favas contadas para a eleição estadual de 2010, uma vez que a existência de três blocos de forças no tabuleiro do xadrez político goiano ainda não permite um prognóstico certo. O maior crescimento em 2008 foi das forças de centro, com destaque para as vitórias estupendas, nos dois maiores colégios eleitorais do Estado, de Iris Rezende em Goiânia (75% dos votos) e Maguito Vilela em Aparecida de Goiânia (82% dos votos), o que torna o PMDB o maior vitorioso de 2008. O PP do governador Alcides Rodrigues experimentou razoável aumento do número de prefeitos. Já o PSDB amargou séria derrota: viu seu número de prefeitos cair de 91 para 52, sendo que, das maiores cidades, apenas em Luziânia colheu vitória. Os partidos que compõem a coalizão do governo federal somam o maior contingente de prefeitos eleitos: PMDB (57), PP (47), PR (30), PT (13), PTB (8), PSC (5), PSB (3), PDT (1) e PRB (2). A eleição de Antônio Gomide (PT, coligado com PCdoB e PSC, e com apoio do governador no 2º turno) em Anápolis, reforçou em muito o PT goiano, que elegeu também o vice em Goiânia, Paulo Garcia, um político hábil e amplo, que se encontra em plena ascensão.
Na eleição majoritária, em especial a de governador, a tática não pode ser outra que não a de aliar com todos os aliáveis possíveis e isolar o adversário. É fato que há dificuldades para coesionar os partidos do campo Lula em torno de uma única candidatura a governador. Muito se especula sobre uma pretensa terceira via, que o governador Alcides estaria a construir com Henrique Meireles, para fugir da polarização já instalada entre Iris e Marconi. Mas isso também tem lá suas dificuldades, porque é sabido que Meirelles só aceitaria candidatar-se na condição de ungido por todos, não aceitaria entrar em bola dividida. Mas a tal unção ampla depende da vontade do prefeito Iris Rezende, e também da concordância do senador Marconi em desistir da disputa. E nesse xadrez da política goiana, a direita é que está mais dividida, pois não há chance alguma de PSDB e DEM marcharem juntos. Já as possibilidades de união entre esquerda e centro são maiores, e parecem que PMDB e PT estão dispostos a não repetir os erros de 2004 e 2006, em que as derrotas advieram da decisão de não ampliar as alianças. Nos últimos lances movidos, o deputado Sandro Mabel, presidente do PR, afirmou que a base aliada é coisa do passado; no último encontro público o governador Alcides e Marconi se restringiram a cumprimentos protocolares, enquanto o prefeito Iris monta uma equipe com a participação de mais de uma dezena de partidos, com a participação do vice, que assumirá a Prefeitura da Capital caso Iris se eleja governador. Em 2010, haverá muito espaço para articular uma ampla aliança, pois além do candidato a governador, há a vice, duas vagas para o Senado e as chapas de deputado federal e estadual. Até o PCdoB, ainda pequeno, mas valente e decidido, já busca se posicionar, e pretende lançar chapa própria para a Assembleia Legislativa (cerca de 60 candidatos), além de buscar eleger deputado federal e, eventualmente, participar das chapas majoritárias. A constituição de uma frente de centro-esquerda em Goiás para 2010, afinada com o projeto de eleição de um sucessor do presidente Lula, que defenda o aprofundamento das mudanças implementadas a partir de 2003, é uma necessidade para o desenvolvimento e o avanço democrático do nosso Estado.
* Luiz Carlos Orro é presidente estadual e membro do Comitê Central do PCdoB e secretário municipal de Esporte e Lazer de Goiânia