Ata do Copom sinaliza novas quedas na taxa de juros
A sensível queda no nível de atividade, a melhora da inflação corrente, o comportamento deflacionista dos preços do atacado e a redução das perspectivas de inflação do mercado justificaram o corte de 1 ponto percentual na taxa básica de juros na semana pa
Publicado 29/01/2009 11:12
A análise consta da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), realizada nos últimos dias 20 e 21 de janeiro. E a perspectiva é de novas reduções na Selic, já que os modelos do BC indicam, no cenário de referência, inflação abaixo do centro da meta em 2009 e “sensivelmente” menor que os 4,5% em 2010.
O cenário de referência considera a Selic a 13,75% ao ano e o dólar a R$ 2,35. Já no cenário de mercado, com projeção de taxa básica em 11,25% em dezembro deste ano e dólar a R$ 2,30, o modelo do BC indicava inflação ao redor do centro da meta tanto para 2009 como para 2010. Ainda que o BC deva continuar o processo de redução dos juros, ele não deixou seu conservadorismo característico de lado. “A política monetária deve manter postura cautelosa, visando assegurar a convergência da inflação para a trajetória de metas, a despeito de haver margem para um processo de flexibilização” , diz a ata.
De acordo com o Copom, existem vários fatores que devem contribuir para uma “pressão desinflacionária importante” , entre os quais está a perda de dinamismo da demanda doméstica e a piora nas condições de oferta de crédito, que vinha puxando o consumo nos últimos trimestres. “Há sinais de que, depois de um longo período de expansão, a demanda doméstica teria passado a exercer influência contracionista sobre a atividade econômica, a despeito da persistência de fatores de estímulo, como o crescimento da renda”, afirma o documento.
Os diretores do Banco Central (BC) ressaltam ainda que o pico do processo inflacionário observado recentemente ocorreu em setembro e que diminui a “probabilidade de que pressões inflacionárias inicialmente localizadas venham a apresentar riscos para a trajetória da inflação” . “O conjunto das informações disponíveis sugere que o ciclo inflacionário observado nos últimos trimestres tende a ser superado, gradativamente” , disse o BC, lembrando que a inflação do quarto trimestre de 2008 foi de 1,09%, ante 1,43% de igual período de 2007. O Copom destacou ainda que os núcleos mostram comportamento mais benigno e que o índice de difusão do IPCA recuou em dezembro.
Do lado negativo, impedindo uma queda ainda maior da taxa de juros, o Copom cita as regras que acabam determinando o comportamento dos preços administrados, que tem peso próximo de 30% no IPCA. De acordo com o BC, esses “mecanismos de reajuste de preços contribuem para prolongar no tempo pressões inflacionárias observadas no ano passado”.
Os três membros do colegiado – do total de oito – que queriam um corte menor da Selic na última reunião mencionaram ainda, além dos preços administrados, a preocupação com o efeito da alta do dólar sobre os preços. “Diante da presença de mecanismos de realimentação inflacionária na economia e das consequências do processo de ajuste do balanço de pagamentos, uma redução mais comedida da taxa básica de juros proporcionaria sinalização mais consistente com a tendência prospectiva de convergência da inflação para a trajetória de metas e corresponderia melhor à velocidade ótima de implementação do processo de flexibilização” , avaliaram esses diretores do BC, que foram voto vencido na reunião da semana passada.
Outro ponto de preocupação se refere às commodities agrícolas como milho, soja e trigo, cujos preços “registraram elevação substancial desde a última reunião do Copom”.
Fonte: Valor Econômico