Casa de Patativa do Assaré é restaurada

A Prefeitura do município de Assaré vai investir cerca de R$ 60 mil na restauração da casa do poeta

Iniciada a restauração da casa onde nasceu o poeta Antônio Gonçalves de Silva, o famoso “Patativa do Assaré”, localizada na Serra de Santana, a 18 quilômetros da sede do município de Assaré. A inauguração está prevista para o dia 5 de março, data comemorativa ao centenário de nascimento do poeta.


 


A programação será aberta no dia 1º, com a apresentação de artistas que interpretarão músicas de Patativa, entre os quais, Raimundo Fagner, Valdones, Dominguinhos, Os Nonatos e grupos de violeiros. O secretário de Cultura do município de Assaré, Marcos Salmo Lima Barreto, informou que estes artistas estão sendo contratados. Alguns deles, como o cearense Fagner, já confirmaram a presença.


 


Os trabalhos de recuperação da casa estão sendo executados por operários de Assaré, com o acompanhamento do historiador Otávio Menezes e do engenheiro Paulo Renato, da Coordenadoria do Patrimônio Histórico do Estado. A idéia, de acordo com Marcos Barreto, é manter a mesma estrutura da casa antiga, construída no fim do século XVIII.


 


Trata-se de uma casa de taipa, chão batido, coberta com telhas artesanais, que se encontrava totalmente danificada. Parte da madeira foi consumida pelo cupim. Foram retiradas as telhas e o madeiramento. Algumas paredes serão reconstruídas. A Prefeitura vai investir cerca de R$ 60 mil na restauração do local.


 


A casa, pertencente a família, está sendo repassada para a Fundação Memorial Patativa do Assaré, que administra o museu. De acordo com o prefeito Vanberto Almeida, “a restauração dessa casa é a mais forte lembrança do poeta que, além de ter nascido lá, passou a maior parte de sua vida na Serra de Santana”.


 


O projeto prevê a transformação da casa em um museu que vai destacar a vida do Patativa-agricultor. A execução desse projeto está na dependência de captação de recursos. Na semana passada, o secretário de Cultura de Assaré esteve com o secretário de Cultura do Estado, Auto Filho, que é natural de Assaré, com quem tratou sobre a construção do museu temático.


 


O secretário de Cultura explica que o Memorial Patativa do Assaré, que foi construído na cidade, mostra a obra poética de Patativa. O museu da Serra de Santana vai abordar a principal atividade econômica do poeta que nunca se afastou da agricultura.


 


O próprio Patativa do Assaré diz em sua auto-biografia: “…desde que comecei a trabalhar na agricultura, até hoje, nunca passei um ano sem botar a minha roçazinha. Só não plantei roça, no ano em que fui ao Pará”. Ele viveu e cantou as agruras e as alegrias sertanejas, a natureza e a cultura, o universal e o regional, buscando a correção do social e a igualdade entre os homens. Sofreu os clamores da seca, que mata o legume e a paciência do sertanejo e a alegria do invernoso dadivoso, que renova as esperanças. Patativa foi, sobretudo, um matuto roceiro, que se orgulhava de ser sertanejo. “Ele criou os filhos, trabalhando na roça”, afirma Salmo.



''A restauração da casa é a mais forte lembrança do meu pai porque foi ali que ele viveu a sua infância''.


Inês Cidrão Alencar – Filha de Patativa



 


''Na casa que está sendo recuperada, que nasceu meu tio, Patativa, e que ele produziu a maioria dos poemas''.


Maurício Alencar – Sobrinho de Patativa



 


Um dos poemas de Patativa



Sou fio das mata, cantô da mão grossa,/ Trabáio na roça, de inverno e de estio. A minha chupana é tapada de barro,/ Só fumo cigarro de páia de mío./ Sou poeta das brenha, não faço o papé/ De argum menestré, ou errante cantô/ Que veve vagando, com sua viola,/ Cantando, pachola, à percura de amô./ Não tenho sabença, pois nunca estudei,/ Apenas eu sei o meu nome assiná./ Meu pai, coitadinho! vivia sem cobre,/ E o fio do pobre não pode estudá./ Meu verso rastêro, singelo e sem graça,/ Não entra na praça, no rico salão,/ Meu verso só entra no campo e na roça/ Nas pobre paioça, da serra ao sertão./ Só canto o buliço da vida apertada,/ Da lida pesada, das roça e dos eito./ E às vez, recordando a feliz mocidade,/ Canto uma sodade que mora em meu peito./ Eu canto o cabôco com suas caçada,/ Nas noite assombrada que tudo apavora,/ Por dentro da mata, com tanta corage/ Topando as visage chamada caipora./ Eu canto o vaquêro vestido de côro,/ Brigando com o tôro no mato fechado,/ Que pega na ponta do brabo novio,/ Ganhando lugio do dono do gado./ Eu canto o mendigo de sujo farrapo,/ Coberto de trapo e mochila na mão,/ Que chora pedindo o socorro dos home,/ E tomba de fome, sem casa e sem pão./ E assim, sem cobiça dos cofre luzente,/ Eu vivo contente e feliz com a sorte,/ Morando no campo, sem vê a cidade,/ Cantando as verdade das coisa do Norte.