João Ananias – Muito além das leis de mercado
A presença do médico na grande maioria dos municípios até bem pouco tempo era uma vez por semana. Dentista mais raro ainda. Com a chegada do Sistema Único de Saúde há 20 anos e do Programa Saúde da Família há 15 anos muita coisa mudou. A prova dos b
Publicado 03/02/2009 17:05 | Editado 04/03/2020 16:35
Problema que não começa no ingresso ao mercado de trabalho. Na formação, lá nos tempos de faculdade, os profissionais, em função das tais leis de mercado, não são muito estimulados a trabalharem na Atenção Básica. Diferente do Canadá, onde 52% dos médicos atuam na Saúde da Família. Não adianta querer se iludir e achar que de uma hora para outra os profissionais vão fazer opção por cidades pequenas, distantes da Capital, por um ou outro atrativo. Não basta só elevar salários e promover estabilidade.
Defendo a criação do profissional de carreira de Estado. É também importante oferecer melhor estrutura de acolhimento e trabalho nas Unidades Básicas de Saúde. Ainda temos unidades funcionando em instalações improvisadas, longe de qualquer política de humanização, que acolhem mal os usuários do SUS e desestimulam os trabalhadores.
Melhores salários, estabilidade, novas instalações das Unidades Básicas de Saúde não bastam para reduzir as dificuldades em atrair profissionais de saúde para o Interior. Sem política de educação permanente, não há como avançar muito. Todos precisam se sentir atualizados, sem parar no tempo, integrados com o que está acontecendo de novo nos grandes centros. Cursos de especialização são fundamentais.
Na atenção especializada, não tem outro jeito se não construir e equipar, pra valer, hospitais e unidades com capacidade de atendimento compatível com a Capital. Qual é o médico, especialista em neonatalogia, que faz opção por um município ou região que não dispõe de UTI nem das mínimas condições de trabalho? Nenhum. Compromete o desempenho. Eticamente, nem se fala. Pensando na ampliação e qualificação da assistência nas micro e regiões do Ceará, o Governo do Estado iniciou o programa de construção de 16 Centros de Especialidades Odontológicas, 20 policlínicas e dois hospitais regionais. Tudo isso, com humanização, fará a diferença que a história mostrará.
João Ananias Vasconcelos Neto – Secretário da Saúde do Estado do Ceará