George Câmara: o poder, os partidos e as pessoas
No Brasil, se reclama muito o fato dos partidos políticos serem fracos, quase sempre meras agremiações a serviço de pessoas ou de famílias. Quando muito, expressões de grupos submetidos aos interesses historicamente momentâneos ou geograficamente re
Publicado 07/02/2009 22:22 | Editado 04/03/2020 17:08
A atuação na esfera política se dá por variadas formas, na defesa de interesses imediatos e futuros, de diversas camadas sociais. Desde a luta sindical, comunitária ou estudantil, entre outras. Por outro lado, quando se tratar de assunto de natureza pública, o partido político é o espaço mais adequado para enfrentar a demanda. O partido, pela sua natureza, tem por princípio abordar as questões sob o plano mais geral, envolvendo o conjunto da sociedade.
Para os estudiosos da ciência política, em linhas gerais, partidos são agremiações de pessoas, com pensamentos ideológicos convergentes, que buscam a conquista e a manutenção do poder. Portanto nada mais legítimo, no exercício da ação política, do que lutar de forma democrática para conquistar e se manter no poder.
Até aqui tudo bem, mas o que nos chama a atenção, sobretudo nesse momento de posse de novos governantes, nos 5.563 municípios brasileiros, é a verdadeira avalanche de mudanças que se opera, nas várias Câmaras Municipais. De repente a base de apoio do Poder Executivo, como num passe de mágica, cresce rápida e surpreendentemente, causando perplexidade no conjunto da sociedade. Não só em Natal ou sua Região Metropolitana, mas em todo o Brasil.
O que será que move prefeitos e vereadores, contrariando discursos bem recentes do palanque eleitoral, a entrarem nesse jogo? Em Natal, as urnas abertas em outubro de 2008 apontaram a seguinte composição dos 21 membros do Legislativo Municipal: 13 vereadores eleitos pela base de apoio à candidata Fátima Bezerra (PT/PMDB); 7 vereadores eleitos em apoio à candidata Micarla de Sousa (PV/PP); 1 vereador eleito em apoio ao candidato Wober Júnior (PPS/PSDB).
Na abertura dos trabalhos do período legislativo, em 03 de fevereiro, a Câmara Municipal de Natal apresenta a seguinte composição: 17 vereadores na base de apoio à Prefeita Micarla de Sousa e 4 vereadores na base de oposição.
Não considero estranho surgirem, em nome da governabilidade, novas articulações políticas, pois fazem parte do processo democrático o diálogo e os entendimentos entre os partidos políticos. Afinal, o exercício do poder coloca desafios e tarefas que vão muito além das vontades pessoais dos atores políticos.
Mas entendo também que algumas indagações exigem respostas imediatas: o que provoca tamanhas mudanças tem origem nas convicções ou nas conveniências? No atendimento a novos arranjos partidários ou nas demandas meramente pessoais? São motivações programáticas ou fisiológicas? É correto tratar essas questões de forma aberta ou sigilosa?
Na vida pública, é preciso ser republicano. Muitas vezes, a credibilidade das instituições depende da postura das pessoas que as compõem.
George Câmara, petroleiro, advogado e vereador em Natal pelo PCdoB.
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