Açudes do Ceará armazenam 68,8% da capacidade

Os açudes que abastecem a Região Metropolitana de Fortaleza estão com 47,8% da capacidade

Mesmo praticamente sem recarga de águas este ano, até agora, os reservatórios do Ceará guardam uma capacidade considerada “tranqüila” em relação ao ano passado, segundo a Companhia de Gerenciamento de Recursos Hídricos (Cogerh). Mas comparado ao mesmo período de 2008, quando foram registradas fortes chuvas de janeiro para fevereiro, as Bacia Metropolitana e do Curu possuem os menores índices de reserva hídrica para este ano, com uma vazão bem menor que no ano passado. Técnicos da Cogerh negam que haja preocupação com abastecimento de água para a Região Metropolitana de Fortaleza. Enquanto isso, uma comissão faz o monitoramento mais cauteloso do Castanhão.


 


Na primeira semana de fevereiro de 2008, a vazão de águas para os açudes seguia um ritmo que previa cheia de reservatórios em poucos meses. De fato, dois meses depois havia 55 açudes sangrando no Ceará. Neste ano, as 11 bacias hidrográficas do Estado registraram, até ontem, volume de 68,8% da capacidade total, que é de 17,8 bilhões de metros cúbicos nos 130 açudes monitorados pela Cogerh. Enquanto o Açude Trapiá III, em Coreaú, é o único que está sangrando, o reservatório Farias de Sousa, em Nova Russas, opera com o limite mínimo da capacidade.


 


A situação dos mananciais que abastecem a Região Metropolitana de Fortaleza é de 47,8%, até o momento, praticamente sem novas recargas de chuva. Para Iuri de Castro, assistente da presidência da Cogerh, não há motivos para preocupação. “A pré-estação, em janeiro, foi boa – 25% acima da média histórica. A estação em si ainda não começou, pois a Zona de Convergência Intertropical ainda não baixou completamente”, afirma.


 


Essa zona, que se mantém geralmente entre fevereiro e junho, é responsável pela estação chuvosa no Ceará. Teoricamente, começaria no último dia 15 de fevereiro. Mas no Cariri, onde reduziram drasticamente as chuvas, essa crença não é aceita. Inclusive, representantes de Sindicatos de Trabalhadores Rurais da região mostram-se bastante preocupados, uma vez que o volume de chuvas registrado até agora na região está menor quando comparado ao ano de 2008.


 


Conforme Iuri Castro, as chuvas devem ocorrer nas próximas semanas e aumentar a garantia de abastecimento. “Começamos o ano com uma média muito boa nos açudes, isso é uma segurança”. A reportagem colheu informações de que a ausência de recarga nos reservatórios estaria preocupando especialistas do Dnocs e da Cogerh, que prevêem a reutilização do Canal do Trabalhador para bombear água que aumente a cota de segurança no abastecimento da Região Metropolitana de Fortaleza.


 


Desde 2001 o Canal do Trabalhador não é mais utilizado com esse fim. Por enquanto, o canal recebe água de Itaiçaba, Palhano e, brevemente, de Aracati, mas seu principal destino é a irrigação de mais de três mil hectares de perímetro irrigado. Para a Cogerh, a previsão é de que a Zona de Convergência Intertropical coloque água acima da média para Fortaleza.


 


Água para Fortaleza



Mas Iuri Castro diz não haver preocupação para nível de risco no abastecimento porque com a conclusão da terceira etapa do Eixão, o canal que integra o Açude Castanhão à RMF possibilita a tomada de água para Fortaleza, caso haja necessidade. Este, que é o maior açude do Ceará, terminou a estação chuvosa de 2008 com 89,7% da capacidade, e hoje está com 78,13%.


 


Sua cota está em 102,8 metros, e como não tem recebido águas das chuvas nem das bacias no Centro-Sul, não há previsão para abertura de comportas — em 2008, quatro delas ficaram abertas a partir do mês de abril quando se atingiu a cota no nível de 101.


 


Saiba mais


 


Monitoramento
A Cogerh monitora 130 açudes no Ceará, muitos em parceria com o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs). São 17,8 bilhões de metros cúbicos de capacidade, com destino maior para uso doméstico e perímetros irrigados


 


Sangrou
Até agora, apenas um açude está sangrando no Estado do Ceará. Trata-se do Trapiá III, localizado no município de Coreaú, zona norte, e outro está com o mínimo da capacidade operacional. É o Açude Farias Sousa, situado na cidade de Nova Russas, região dos Inhamuns


 


Bacias
As bacias hidrográficas do Ceará estão com diferentes percentuais de volume. A do Alto Jaguaribe está com 78,26%; a do Médio Jaguaribe com 77,8%; do Baixo Jaguaribe possui 80,1%; a do Acaraú está com 74,58%; do Coreaú tem 78,27%; a bacia do Salgado tem, até agora, 57,71%; do Banabuiú possui 51,33%; a bacia do Curu está com 43,7%; a da Parnaíba com 72,1%; e a bacia do Litoral está com 67,6%


 


Cota
O Açude Castanhão sangra ao atingir a cota de 106m, ou 6,7 bilhões de metros cúbicos. Atualmente está com 102. No ano passado, com 101 as comportas já estavam abertas



Abertura de comportas


 


Dnocs e Cogerh monitoram Castanhão



A comissão do Dnocs responsável pelo monitoramento e controle das comportas da barragem Castanhão e a Cogerh irão definir os critérios operacionais para monitorar o reservatório na estação de chuvas de 2009. Na última segunda-feira, foi realizada a primeira reunião do ano — o segundo ano da operação conjunta que conta ainda com a participação da Funceme para informações sobre a previsão de chuvas.


 


Durante os quatro meses de chuvas da quadra deste ano, conforme a diretora de Infra-Estrutura Hídrica do Dnocs, Cristina Peleteiro, a Comissão terá a responsabilidade de operação do Castanhão. “As comportas somente serão abertas depois de lavrada em ata a decisão da Comissão”, afirmou. Para a tomada de decisão, contudo, serão levados em conta os dados de cota, volume de chuvas e previsão, monitorados dia a dia.


 


O diretor de Operação da Cogerh, José Ricardo Dias Adeodato, informou que o reservatório — hoje na cota 102,3 — está com 5,2 bilhões de metros cúbicos e só recebeu 1 centímetro a mais com as chuvas de 2009.


 


No ano passado, as comportas foram abertas quando o Castanhão atingiu a cota 101. A situação em 2008 na data da abertura das comportas, conforme Cristina Peleteiro, foi diferente da deste ano, pois os grandes açudes acima do Castanhão haviam sangrado, os rios estavam cheios e continuava a chover. Para este ano, a decisão sobre a abertura das comportas será tomada de comum acordo, a depender do comportamento dos parâmetros da estação de chuvas e do volume que virá dos rios da bacia que deságuam no reservatório. Uma nova reunião da Comissão foi agendada para o dia 2 de março. Antes disso, porém, a qualquer momento, se necessário, os técnicos poderão decidir a cota e quando serão abertas as comportas do reservatório.


 


Armazenamento



17,8 bilhões de metros cúbicos é a capacidade total de armazenamento de água nos 130 açudes monitorados pela Cogerh. Como ainda não houve recarga neste ano, o volume está pouco mais da metade


 


A chamada capacidade pulmão do Açude Castanhão — volume acumulado para controle de cheias — hoje é de 1,5 bilhão de metros cúbicos — no máximo pode chegar a 2,3 bilhões de metros cúbicos. O volume fica no reservatório de modo a evitar o risco de enchentes no Médio e Baixo Jaguaribe e, cessadas as chuvas nas cabeceiras dos rios, vai sendo liberado aos poucos. A barragem possui 12 comportas e duas válvulas dispersoras.