Messias Pontes – Democracia avança na Venezuela

Pela 15ª vez, nos últimos dez anos, os venezuelanos foram às urnas dizer o que querem para o seu país. Na América do Sul é o país, que mais decide o seu futuro pelo voto. Mas as mentes colonizadas insistem em difundir – uns por ignorância e outros por pur

Foi bonito ver o povo nas ruas de Caracas e muitas outras cidades venezuelanas comemorando mais uma vitória da democracia. Foi uma explosão de alegria, com muita música, dança, buzinaços e fogos de artifício. Lembrou as comemorações em novembro de 2002 em todo o Brasil com a espetacular vitória de Luiz Inácio Lula da Silva sobre os neoliberais entreguistas tucano-pefelistas, representados por José Serra.



Um fato que merece destaque foi o comparecimento de 70% do eleitorado, altíssimo se levarmos em conta que lá o voto não é obrigatório como em nosso País. Terminada a apuração, 55% dos venezuelanos disseram sim ao plebiscito que deu ao presidente Hugo Chávez o direito de se candidatar quantas vezes queira.



É oportuno observar que a maioria dos veículos de comunicação da Venezuela é controlada pelas elites conservadoras de direita e pró-imperialista. Isso sem contar os bilhões de dólares que foram gastos para derrotar o “Sim”. Dos 23 estados, o “Sim” venceu em 18, perdeu em três e empatou em dois. Na capital, Caracas, a cidade mais populosa, a vitória do “Sim” foi espetacular.



Por iniciativa do presidente Chàvez, a constituição venezuelana determina um referendo revogatório no meio do mandato presidencial, ou seja, o povo é chamado às urnas para dizer se quer que o presidente conclua ou não o mandato para o qual foi eleito.  Nos últimos dez anos foram realizadas 15 consultas às urnas, sendo três eleições presidenciais, afora outros referendos e eleições parlamentares e regionais. Em qualquer lugar do mundo isso é o mais legítimo exercício da cidadania, é a prática da democracia não só representativa como participativa.



O ódio das elites venezuelanas ao presidente Chàvez é porque este decidiu que os recursos gerados pelo petróleo devem ser empregados para erradicar a miséria no país que ainda é muito grande. A universalização da saúde e da educação na Venezuela é uma realidade, sendo que o analfabetismo foi completamente erradicado do país com a ajuda de professores cubanos. Este fato, divulgado pela UNESCO e que deveria merecer manchete de primeira página em todos os jornais, simplesmente foi ignorado. 



A vitória do “Sim” representa não só o fortalecimento do presidente Hugo Chàvez, mas principalmente a vitória da causa da integração latino-americana e a consagração da luta antiimperialista no Continente. O movimento bolivariano ganha bastante musculatura para enfrentar em melhores condições as carcomidas e corruptas elites venezuelanas, ao mesmo tempo em que encoraja a luta pela ampliação das liberdades democráticas nos países vizinhos, em especial na Bolívia.



Contra fatos não há argumentos. O placar de 14 a um é incontestável e uma demonstração de que as elites reacionárias estão cada vez mais desmoralizadas. Não adianta mais sair com a desculpa de que houve fraude e manipulação. Até porque a eleição plebiscitária foi acompanhada por centenas de observadores internacionais, inclusive do Brasil. O senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) foi um deles e pôde constatar não só a lisura do processo eleitoral, mas principalmente a vibração do povo pobre e trabalhador, o mesmo que levou Chàvez de volta ao Palácio Lamoneda logo depois do golpe de 12 de abril de 2002.



Os jornalistas amestrados e colonizados não só deturpam os fatos como os omitem, seguindo à risca os ensinamentos do empresário Roberto Marinho – dono das Organizações Globo, morto em 6 de agosto de 2003 -, segundo o qual o poder de um veículo de comunicação está não no que ele pode divulgar, mas principalmente na omissão dos fatos.



Comprometida até a medula com a ditadura militar, a Globo negou a campanha das Diretas-Já até onde pôde; deixou de informar sobre a queda do Boeing da Gol, derrubado por um Legacy pilotado por dois norte-americanos em 30 de setembro de 2006, no estado do Mato Grosso, “para não desviar a tenção do foco do escândalo do dossiê”.



A reportagem dessa tragédia que vitimou 155 pessoas, entre elas os melhores técnicos da Embrapa, chegou a ser editada mas foi impedida por ordens superiores – leia-se Ali Kamel, diretor de jornalismo – de ir ao ar no Jornal Nacional para não favorecer a candidatura do presidente Lula à reeleição.



Essa imprensa marrom, como diria Gondin da Fonseca, manipula, mente, omite, calunia, terroriza, endeusa ou demoniza, enfim faz qualquer coisa para defender os interesses das  elites conservadoras nacionais e do imperialismo norte-americano. E se é para atingir os governo democráticos e populares latino-americanos, notadamente o do presidente Lula, os esforços são redobrados.



A concessão de refúgio ao militante político italiano Cesare Battisti, feita pelo ministro da Justiça Tarso Genro, com o respaldo do presidente Lula, está sendo totalmente deturpada pela mídia conservadora, venal e golpista. Os colonistas não cansam de afirmar que a Itália  irá retaliar o Brasil e que os maiores prejudicados serão os empresários brasileiros. Quanta canalhice!



A França concedeu asilo político ao perseguido italiano durante 14 anos e nem por isso a imprensa condenou o governo francês. Tampouco informa que Battisti nega os quatro crimes atribuídos a ele, que ele foi condenado à revelia à prisão perpétua, que dois dos crimes jamais poderiam ter sido cometidos por ele porque aconteceram na mesma hora e a 500 quilômetros de distância um do outro; enfim que a Constituição brasileira veda a extradição de perseguidos políticos – de direita ou de esquerda -, principalmente se condenado a mais de 30 anos, pena máxima em nosso País.



Tratamento diametralmente oposto é dedicado ao terrorista venezuelano Luis Posadas Carriles, réu confesso em vários atos de terror, em especial à campanha de terror em Havana e à organização do atentado a um avião de Cuba em pleno vôo, em 1976, quando morreram 73 cubanos. Carriles cometeu atos terroristas também na Venezuela onde foi julgado e condenado. Porém o governo terrorista do então presidente George. W. Bush negou o pedido de extradição feito pelo presidente Hugo Chàvez, e Carriles continua solto, lépido e fagueiro na terra do Tio Sam.



A hipocrisia dessa direita irracional não tem limites.  Defendeu a emenda constitucional que garantiu a reeleição do Coisa Ruim, inclusive com a compra desbragada de votos por R$ 200 mil, conforme declararam ter recebido os deputados Ronivon Santiago e João Maia, ambos do PFL do Acre.  Para os amestrados e colonizados, isso não foi casuísmo e tampouco corrupção. Contudo quando se aventou a possibilidade de mudança constitucional para garantir ao presidente Lula disputar um terceiro mandato, o mundo quase vem abaixo.



A direita e a mídia conservadora, venal e golpista daqui e da Venezuela vão ter de agüentar Hugo Chàvez por mais algum tempo. Até porque a probabilidade de um novo golpe, semelhante ao de abril de 2002, é praticamente zero.


 


Messias Pontes é jornalista e colaborador do Vermelho/CE