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Dalai-lama quer reencarnar sem desencarnar

Os 50 anos do levante contra a reforma democrática e econômica conduzida pela China na Região Autônoma do Tibete estão aí. Boatos de monges revoltosos sendo duramente reprimidos pelo Exército Popular de Libertação da China já saltam nos noticiários onl

O dalai-lama é o posto mais alto da hierarquia budista tibetana. Segundo os cânones dessa religião, ele desencarna e reencarna. Alguns sábios monges budistas são encarregados de encontrar seu novo corpo, reencarnado em algum menino, por meio de sonhos e sinais, para novamenter trazê-lo ao cargo de dalai-lama.



Por isso existe um hiato de poder quando o dalai-lama desencarna e ''perde-se'' na multidão. Até que os responsáveis o reencontrem em meio às crianças dos outros senhores feudais, o posto fica vacante.



Assim que encontram o reencarnado, este pode indicar um monge que conduzirá o feudo até que tenha 18 anos, idade suficiente para governar.  A coisa sucedeu assim por 14 encarnações do dalai-lama.


 


Com iPod pode?


 


Agora querem mudar tudo. As regras do jogo já não servem mais para a ''comunidade tibetana no exílio'', que vê com medo a próxima desencarnação do dalai-lama. Para isso, seus líderes, inclusive o próprio a desencarnar, estudam uma alteração nas regras do jogo. O medo é de a China encontrar um dalai-lama antes dos sábios tibetanos exilados. O medo é o de perder o principal emulador da separação do Tibete da China.



A primeira mudança na regra foi o dalai-lama dizer que vai reencarnar fora da China. A segunda é em escolher ''democraticamente'' o dalai-lama, via eleição. Claro que o colégio eleitoral é a ''comunidade tibetana no exílio''. Já têm até um candidato. Ele deixou a China há nove anos e é um karmapa-lama, o terceiro na hierarquia. Está pronto para assumir o posto, com 24 anos de idade. Adepto das novas tecnologias, ouve música em seu iPod, fala inglês e mandarim e é até reconhecido pelo governo chinês como o 17º karmapa-lama.


 


A bonitona princesa Yabshi Pan Rinzinwangmo, filha do panchen-lama, o segundo na hierarquia, é apontada também como candidata a dalai-lama. Seria a primeira vez que os budistas teriam uma dalai-lama, ''reencarnado'' em uma mulher por meio de voto ''popular''. Mas… espere aí, o dalai-lama ainda não desencarnou. Tais elocubrações estão dividindo os budistas separatistas.


 


Qual é a do dalai-lama?



 


Prêmio Nobel da Paz em 1989, o atual dalai-lama já foi um servidor do governo americano. Os contribuintes americanos, no auge da guerra fria, não sabiam que tinham o papa do budismo tibetano em sua folha de pagamentos. Claro que foi de forma secreta, mas com a divulgação de alguns arquivos, em 1990, soube-se que Tenzin Gyatso ganhou pouco mais de 180 mil dólares anuais para promover-se e promover a separação do Tibete da China.


 


Já seus “assessores para assuntos de separação”, como podem ser descritas as classes dominantes que o acompanharam a Dharamsala, ganharam 1,7 milhões de dólares anuais.



 


Diante do fracasso dos planos de fazer o Tibete ''desencarnar'' da China, os Estados Unidos resolveram gastar seus dólares com fogos de artifício mais vistosos. A ''contribuição'' anual ao dalai-lama cessou durante o governo Gerald Ford, na década de 1970, em uma mudança da estratégia de abordagem da guerra fria.



 


Em 1954, o 14º quarto dalai-lama Tenzin Giatso participou da primeira Assembléia Nacional Popular da China, que elaborou a Constituição da República Popular, tendo sido eleito como um dos vice-presidentes do Comitê Permanente dessa Assembléia.



Na ocasião, pronunciou um discurso afirmando: ''Os rumores de que o Partido Comunista da China e o governo popular central arruinariam a religião do Tibete, foram refutados. O povo tibetano tem gozado de liberdade em suas crenças religiosas''.



Em 1956, o dalai-lama assumiu a presidência do comitê provisório encarregado de organizar a região autônoma do Tibete. As relações entre os governos central e local estavam, portanto, normalizadas.



O conflito ressurgiu quando se cogitou em promover a reforma democrática do Tibete, separando a religião do Estado, abolindo a servidão rural e a escravidão doméstica, e redistribuindo a propriedade das terras e dos rebanhos, monopolizada pela aristocracia civil e pelos mosteiros.


 


Em seguida, levado às pressas em uma liteira conduzida por servos, Tenzin Gyatso e sua ''entourage'' instalam-se em Dharamsala, na vizinha Índia. É aí que entram os dólares americanos. A torneira, que se fechara com Gerald Ford, é reaberta por Reagan, por meio da recém-criada National Endowment for Democracy, um dos braços modernos da CIA, construída para ''exportar a democracia'' americana para os rincões mais distantes do mundo.



O dalai e seu mentor nazista



O filme ''Sete anos no Tibete'', estrelado por Brad Pitt e aclamado como um libelo pró-independência do território himalaio esconde na verdade uma das passagens mais obscuras da vida de Tenzin Gyatso.



O livro de mesmo nome foi publicado em 1953 pelo austríaco Heinrich Harrer e retrata o período passado pelo autor ao lado do 14º dalai-lama, quando este contava apenas 11 anos. O livro foi traduzido para 43 idiomas.



Após o lançamento do filme em 1997, um jornal alemão revelou que Harrer fazia parte das SS nazistas — tropas de elite de Hitler — desde 1933 e que foi bem acolhido na corte de Tenzin graças às boas relações entre a aristocracia do Tibete e alguns hierarcas nazistas.



Tenzin visitou seu amigo Harrer quatro anos antes de sua morte, e quando seu mentor nazista finalmente faleceu, o monge tibetano reconheceu sua influência escrevendo: ''Heirich Harrer foi meu amigo pessoal e aprendi muitas coisas com ele, particularmente sobre a Europa. Sentimos que perdemos um leal amigo do ocidente.''


 


Em 2003, o ''líder espiritual'' budista passou 18 dias nos Estados Unidos, onde se encontrou com o então presidente do país, George W. Bush e o então secretário de Estado, Colin Powell. Os EUA tinham recentemente estabelecido o Tibetan Policy Act, uma lei que regularizava a ajuda aos separatistas, em 2002.



A Casa Branca não divulgou o teor das conversas, mas, a julgar pelas declarações posteriores do dalai-lama, um dos resultados da visita foi sua incorporação à política de guerras preventivas, aspecto central da estratégia agressiva do imperialismo americano levada a cabo na administração Bush.



''É muito cedo para dizer se a guerra no Iraque foi um erro'', afirmou, para acrescentar em seguida sua convicção de que é necessário ''reprimir o terrorismo'', sem explicar o que queria dizer com ''reprimir''. Hoje o dalai-lama tem dificuldades cada vez maiores para explicar o que quer dizer, por exemplo, com ''reencarnar''.