Internautas repudiam provocação do 'Estadão' à UNE
O jornal O Estado de S. Paulo veiculou, na edição desta quinta (5), uma matéria relatando a “abertura das torneiras” governamentais para a UNE nos últimos anos. Capciosa, a reportagem busca retratar uma relação de atrelamento devido “ao maior
Publicado 09/03/2009 18:21
Explorando um pouco mais o tema, a edição on line da publicação realizou uma enquete com a pergunta: “na sua opinião, a UNE ainda representa os estudantes?” Por óbvio, conclui-se que o interesse oculto era ver a entidade reprovada pelos internautas, uma vez que o teor da matéria induz a tal resposta.
Pois até a manhã desta sexta (6) foi amplamente frustrado o objetivo do jornal dos Mesquita. Com 402 votos computados, a resposta “sim” – ou seja, a percepção de que UNE representa os estudantes, vencia por 332 votos, coisa de 83%. O “não” obtinha 70 sufrágios, somando parcos 17%.
A ampla maioria obtida na enquete fala por si. É provável que os estudantes reconheçam a independência da UNE, que dialoga com o governo as propostas para educação e defende os interesses de sua base, ao mesmo tempo em que faz passeatas pedindo a cabeça do quinta-coluna Henrique Meirelles, presidente do Banco Central.
Ofensiva contra os movimentos
O fato é que o momento é de nova e feroz ofensiva da grande mídia contra os movimentos sociais. Desde as ocupações realizadas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no carnaval, o que se vê é uma perseguição implacável dos grandes veículos na busca de criminalizar movimentos e jogar a dita “opinião pública” contra os mesmos.
O presidente do STF, Gilmar Mendes, foi o primeiro a dar senha quando disse ilegais os repasses feitos a cooperativas rurais supostamente vinculadas ao MST e que na prática configuraria “a sociedade financiando a violência” no campo”.
Depois vieram ataques ao movimento sindical, estes vindos da Folha de S.Paulo, apresentado como incapaz de agir frente à crise econômica. Em seguida foi a vez da UNE virar alvo com as reportagens do Correio Brazieliense e no O Estado de S. Paulo.
Ninguém chuta cachorro morto
O papel de alvo sempre foi reservado aos movimentos sociais, uma vez que se apresentam contrários aos interesses poderosos. Ainda mais agora: à falta de um discurso político defensável, resta à mídia e às viúvas neoliberais arranjarem pautas para criminalizar os movimentos, para passar imagens falsas – como a de “desordem” ou “queima” de recursos federais no financiamento de entidades.
Mas uma coisa é certa: ninguém chuta cachorro morto. A busca dos movimentos pela democratização do Estado brasileiro parece incomodar alguns setores, em particular a mídia. Talvez pelo receio da Conferência Nacional das Comunicações que foi pautada pelo governo, após anos de pressão de entidades das mais variadas áreas.
A grande mídia nativa, desde sempre beneficiária do poder, parece reagir de antemão à mera possibilidade de discussão dos seus privilégios e à luta por sua democratização.
* Fernando Borgonovi é diretor de Comunicação da União da Juventude Socialista (UJS).