Mulheres do campo protestam contra ajuda ao agronegócio
As mulheres da Via Campesina e Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) marcaram as comemorações do Dia Internacional da Mulher, nesta segunda-feira (9), com protesto em cinco estados – Brasília, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, São Paulo e
Publicado 09/03/2009 17:40
Segundo manifesto distribuído nos protestos, apenas em dezembro, o agronegócio demitiu 134 mil pessoas em todo país. O agronegócio foi o segundo setor que mais demitiu com a crise econômica, apesar da alta lucratividade do último período e os investimentos do governo.
A oferta de crédito rural do governo federal para a agricultura empresarial na safra 2008/2009 é de R$65 bilhões e de apenas R$13 bilhões para a agricultura familiar, com isenção dos impostos de exportação. “Exportar somente matéria-prima não desenvolve o país, nem distribui renda”, diz Itelvina Masioli, integrante da Via Campesina, que defende um novo modelo agrícola para o país.
“A realização da reforma agrária e a consolidação de um novo modelo agrícola dependem da derrota do modelo econômico vigente”, afirma, destacando que o momento atual deve servir para ''mudarmos o modelo agrícola, fazendo a reforma agrária, e o modelo econômico, fortalecendo o mercado interno e aumentando o salário mínimo, para defendermos os trabalhadores e garantirmos a soberania nacional'', completa.
''A crise econômica demonstra que o atual modelo econômico sustenta o agronegócio e as empresas transnacionais, que submetem o nosso país ao capital internacional e são responsáveis pelo colapso mundial. Agora, pedem socorro ao governo ao Estado e demitem os seus trabalhadores. A sociedade brasileira e os trabalhadores não podem pagar pela crise do neoliberalismo'', afirma ainda Itelvina Masioli.
Existem no Brasil 130 mil famílias acampadas e mais de quatro milhões de famílias sem-terra.
Pelo Brasil afora
Em Brasília, 800 mulheres da Via Campesina ocuparam o prédio do Ministério da Agricultura, palco da manifestação. Elas fazem críticas ao modelo de desenvolvimento imposto pelo governo, empresas transnacionais e bancos para o campo brasileiro, e cobram a implementação de um modelo agrícola baseado na pequena agricultura, através da realização da reforma agrária, e uma política econômica voltada para a geração de empregos para a população.
No Rio Grande do Sul, 700 mulheres ocuparam a Fazenda Ana Paula, de propriedade da Votorantim Celulose e Papel (VCP). A ocupação foi iniciada com o corte de eucalipto na área. A VCP havia prometido gerar 30 mil empregos no estado e mesmo recebendo recursos e isenções fiscais dos governos federal, estadual e de municípios, a Aracruz causou a demissão de 1,2 mil trabalhadores em Guaíba, entre trabalhadores temporários e sistemistas, e a VCP outros 2 mil trabalhadores na metade sul.
No Espírito Santo, cerca de 1300 mulheres ocuparam o Portocel, porto de exportações da empresa Aracruz Celulose, localizado em Barra do Riacho, município de Aracruz, para denunciar o repasse de recursos públicos do Estado para a empresa. As mulheres entraram no porto, fizeram um ato com a destruição da produção de eucalipto, e saíram da área.
''As empresas lucram com nossos recursos naturais, especulam no mercado financeiro e, no momento de crise, demitem trabalhadores e recorrem ao Estado'', afirma Itelvina Masioli.
Papel social
Em São Paulo, cerca de 600 trabalhadoras realizaram a ocupação de uma área da Cosan, no município de Barra Bonita, na região de Jaú, a 280 km da capital. O grupo Cosan explora uma área duas vezes maior que o total de hectares destinados para a reforma agrária no Estado de São Paulo: 605 mil hectares pelo grupo, contra apenas 300 mil para as 15 mil famílias em assentamentos estaduais e federais.
“As terras do grupo Cosan não cumprem o seu papel social e assim estão em total desacordo com o quê prevê a Constituição do país. Por isso, suas terras devem ser destinadas para a reforma agrária imediatamente”, defende Soraia Soriano, da Via Campesina.
No Paraná, 1.000 trabalhadoras da Via Campesina fizeram uma marcha pelo centro de Porecatu, no Norte do estado. A manifestação começou pela manhã, saindo do Centro Comunitário da Prefeitura até a praça central, onde foi realizada uma celebração com a partilha de alimentos da Reforma Agrária. Durante a caminhada as mulheres denunciaram o modelo do agronegócio, a produção dos monocultivos (da cana de açúcar, soja, eucalipto, pinus, entre outros) e as transnacionais, que destroem a biodiversidade, a cultura camponesa e inviabilizam a Reforma Agrária.
De Brasília
Com informações da Via Campesina