Objetivo alcançado: manifestação no O Povo reabre canais de negociação com as empresas

A manifestação de jornalistas e gráficos, realizada nessa sexta-feira (06/03) em frente ao jornal O Povo, teve o desdobramento que as categorias desejavam. O movimento forçou os empresários a reabrirem os canais de comunicação com as categorias e agendare

As negociações estavam suspensas por intransigência dos patrões, que insistem em oferecer um reajuste de apenas R$ 2,74 por dia de trabalho para os jornalistas que ganham o piso salarial, que hoje é de R$ 1.152,00. O valor não cobre nem a inflação do período (setembro de 2007 a agosto de 2008). Aos gráficos, o patronato quer oferecer apenas 0,5% de ganho real, embora tenha acordado com os representantes da categoria um reajuste de 1,02% além da inflação.


 


A reabertura das negociações precisou ser articulada pela presidente da ACI e ex-presidente do Sindjorce, Ivonete Maia, que compareceu ao ato, realizado nessa sexta-feira, das 11 às 15 horas. Como os diretores do Sindicato dos Jornalistas foram impedidos de entrar na empresa, a presidente da ACI teve o acesso permitido para conversar com a direção do O Povo. Ivonete Maia levou, em nome da presidente do Sindjorce, um buquê de flores brancas para a presidente do grupo, Luciana Dummar.


 


As rosas foram distribuídas também entre os participantes da manifestação, em homenagem às mulheres, cujo dia será comemorado domingo (08/03), e numa demonstração clara da disposição pacífica dos organizadores do ato – sindicatos de jornalistas e gráficos, com o apoio do movimento sindical. A distribuição de flores contrastou com a recepção desrespeitosa e truculenta que o jornal O Povo preparou para os manifestantes. Desde a última quarta-feira, a empresa montou um esquema de segurança que incluiu viaturas, homens armados de escudo e cassetetes e grade de ferro cercando totalmente o prédio.


 


Nessa sexta-feira, o aparato foi ostensivamente reforçado. Durante a manifestação, além dos homens e de duas viaturas de segurança armada privada, havia 16 policiais, três viaturas do Comando Tático Motorizado (Cotam) e uma do 5º Batalhão da Polícia Militar. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Gráfica, da Comunicação Gráfica e dos Serviços Gráficos do Estado do Ceará (Sintigrace), Rogério Andrade, criticou o fato de a Polícia ter comparecido ao local para proteger o patrimônio privado.


 


“Cada um dá o que tem para dar. Enquanto a empresa nos oferece segurança armada e chama a Polícia para nos intimidar e na tentativa de desmobilizar a categoria na luta por um reajuste minimamente digno, nós oferecemos flores brancas, representando a paz e a justeza das nossas reivindicações”, comparou a presidente do Sindjorce, Déborah Lima.


 


O tiro saiu pela culatra


 


Ao contrário do que alguns editores a serviço dos patrões se encarregaram de espalhar e criar clima de apreensão entre os profissionais, a manifestação organizada pelos jornalistas e gráficos foi um ato pacífico. As flores levadas ao local do protesto foram entregues inclusive aos homens da segurança privada e policiais militares, com quem os manifestantes conseguiram estabelecer até uma relação amistosa. O tiro das empresas saiu pela culatra.


 


Enquanto manifestantes e seguranças mantiveram a calma, o presidente do sindicato patronal e advogado do jornal O Povo chegou irritado ao local, por volta do meio-dia. “Não quero saber de conversa”, reagiu Mauro Sales ao ser procurado pela secretária-geral do Sindjorce, Cristiane Bonfm. E para entrar na empresa, empurrou participantes do protesto e se negou a receber o informativo do Sindicato.


 


Presidente do Sindjorce fura o cerco para ser ouvida pela categoria


 


Não foi fácil, mas a presidente do Sindjorce, Déborah Lima, furou o cerco armado pelo jornal O Povo para impedir que a manifestação acontecesse nos jardins da empresa. Depois de passar pelos seguranças orientados a barrar o acesso dos diretores sindicais, Déborah Lima driblou também colegas de profissão que se mostram a serviço dos interesses patronais.


 


– O que você está fazendo aqui? – indagou, surpreso e em tom de reprovação, o editor-chefe-executivo, Erick Guimarães, ao se deparar com a presidente do Sindjorce subindo a escada que dá acesso à Redação do jornal.
– Companheiro, você esqueceu que eu sou funcionária da empresa há dez anos? –, respondeu ela, que inclusive já teve Erick como colega de editoria (Política) no jornal.
– Mas você não tem autorização para entrar aqui – insistiu Erick
– Mas eu vou entrar – encerrou Déborah.


 


Na Redação, a presidente do Sindjorce teve dificuldades para dar o seu recado aos jornalistas, que foram ameaçados de demissão caso participassem do protesto. Além de Erick Guimarães, o diretor-geral, Arlen Medina, e a diretora-executiva, Fátima Sudário, tentaram interromper a fala de Déborah Lima. O diretor-geral Arlen Medina chegou a ameaçar processar a presidente do sindicato e o próprio Sindjorce por invasão de propriedade privada.


Não é a primeira vez que o trio representante da empresa desrespeita a própria Convenção Coletiva de Trabalho da categoria, que garante livre acesso dos dirigentes sindicais aos locais de trabalho.


 


Diretores do Sindjorce já foram impedidos outras vezes de entrar no jornal. Nessa sexta-feira, não foi diferente. A orientação é para impedir o ingresso mesmo dos diretores que são funcionários do jornal. Além da presidente do Sindicato, o delegado da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Mirton Peixoto, que trabalha há 23 anos no O Povo, foi barrado quando tentava entrar na empresa. “Havia ordem explícita para barrar os diretores”, diz Mirton Peixoto.


 


Mais lamentável é que a chefia que hoje reprime representantes dos trabalhadores já esteve do outro lado, atuando em defesa deles. A diretora-executiva do O Povo, Fátima Sudário, foi diretora do Sindjorce, e o editor-chefe-executivo do jornal, Erick Guimarães, atuou na assessoria de imprensa do Sindicato dos Bancários.


 


Parlamentares, centrais, sindicatos e federações reforçam o protesto


 


O protesto para denunciar os baixos salários, a falta de condições de trabalho e a tentativa do patronato de extinguir direitos trabalhistas conquistados ao longo de décadas de luta, realizado na última sexta-feira (6/3), na sede do jornal O Povo, contou com o apoio da Câmara Municipal de Fortaleza, representada por quatro dos seus vereadores.


 


O líder do Partido dos Trabalhadores na Câmara, Ronivaldo Maia, colocou-se à disposição para integrar uma comissão de negociação e tentou entrar na empresa para conversar com a presidente do O Povo, Luciana Dummar, mas teve o acesso negado pelo diretor Administrativo Financeiro, Edson Barbosa. “Se quiser falar com a Luciana, marque um horário com a secretária dela”, disse o diretor do O Povo.


 


“É no mínimo deselegante esse tipo de tratamento dispensado aos trabalhadores e representantes do Legislativo Municipal”, avaliou o parlamentar. “Em nossa Casa (Câmara Municipal) os representantes do jornal O Povo são muito bem recebidos e queremos aqui reivindicar o mesmo tratamento. Os representantes da sociedade merecem respeito do Grupo O Povo”, cobrou o parlamentar.


 


Além de Ronivaldo, o ato contou com a presença dos vereadores Acrísio Sena (PT), líder da prefeita Luizianne Lins (PT), João Alfredo (PSol) e Plácido Filho (PDT), que colocaram seus mandatos à disposição da luta dos jornalistas e gráficos.


 


A força do movimento sindical


 


O ato que reuniu uma centena de manifestantes no porta do jornal mais tradicional do Ceará contou também com o apoio de vários sindicatos e centrais sindicais, que mobilizaram recursos humanos e operacionais para garantir o sucesso do protesto.


 


Havia seis carros de som a serviço da mobilização, que começou às 11 horas e terminou por volta das 15 horas. Como a empresa montou grades de ferro para impedir o acesso dos manifestantes, jornalistas, gráficos e integrantes do movimento sindical ficaram perfilados ao redor da empresa.


 


Quatro centrais sindicais – Central Única dos Trabalhadores (CUT), Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas) e Intersindical – participaram do ato, além dos sindicatos do Asseio e Conservação, Bancários, Comerciários, Confecção Feminina, Construção Civil, Correios, Metalúrgicos, dos servidores da Prefeitura de Fortaleza, da Saúde, Têxteis e Vigilantes.


 


Três federações – dos Jornalistas (Fenaj), dos Trabalhadores em Empresas de Crédito do Nordeste (Fetec-NE) e dos Trabalhadores no Comércio e Serviços do Estado do Ceará (Fetrace) – reforçaram o protesto. “Esse é a força do movimento sindical. Mexeu com um mexeu com todos. Espero que os patrões tenham entendido a mensagem dos trabalhadores”, afirmou a presidente do Sindjorce, Déborah Lima.



O Povo publica mentiras sobre manifestação de jornalistas


 


Ocorrerá nessa segunda-feira a retomada das negociações da campanha salarial que começou em setembro de 2008 e estavam interrompidas desde janeiro por intransigência dos patrões


 


O jornal O Povo cobriu o protesto feito na porta da empresa por jornalistas e gráficos, na última sexta-feira (6/3), ouviu a presidente do Sindicato dos Jornalistas no Ceará, Déborah Lima, mas publicou inverdades na página 4 da edição do último sábado (7/3).


 


O mesmo jornal que contratou carros de segurança armada, cercou toda a empresa e ainda chamou quatro viaturas do Polícia Militar para receber os jornalistas e gráficos, disse que os trabalhadores é que foram violentos. “Dezesseis PMs que cercavam a empresa estavam com armas de fogo e 15 homens da segurança privada portavam cassetetes e escudos. E nós, trabalhadores empunhando flores brancas num sinal de paz, é que fomos ‘violentos’?”, questiona Déborah Lima.


 


Outra mentira, publicada pelo jornal sem checar, é o conteúdo da fala atribuída ao presidente do sindicato patronal e advogado do jornal O Povo, Mauro Sales. No trecho, ele afirma que a presidente do Sindicato “mudou” a proposta durante a negociação e passou a pedir a unificação do piso salarial do pessoal de impresso com o dos jornalistas de rádio e tevê, o que elevaria o reajuste para 18,09%. “Essa nova proposta atrapalhou as negociações, pois não dá para chegar a esse percentual, três vezes a inflação do período”, diz Mauro Sales.


 


Mas a verdade é outra. A reivindicação de unificação do piso foi feita como primeira proposta, aprovada pela categoria, em assembléia realizada ainda em setembro de 2008. Ao longo desses seis meses de campanha salarial, o Sindicato dos Jornalistas se viu obrigado a baixar esse percentual diversas vezes, em função da forte intransigência dos patrões em oferecer um reajuste minimamente justo. A última proposta dos trabalhadores foi de elevação do piso dos atuais R$ 1.152,00 para R$ 1.267,20 e correção de 9% para os salários acima do piso.


 


Mas os representantes patronais nem sequer responderam ao ofício encaminhado pelo sindicato laboral em 20 de janeiro contendo essa proposta (documento disponível para download logo abaixo). Mais: desmarcaram a rodada de negociação que seria realizada dois dias depois e não mais agendaram outra, fechando os canais de comunicação, o que motivou o protesto na porta da empresa. Clique no link abaixo e tenha acesso a algumas imagens da manifestação.



 


Jornalistas, gráficos e movimento sindical somam forças contra intransigência e desrespeito dos jornais O Povo e Diário do Nordeste



Juntos somos mais fortes. Para jornalistas, gráficos e demais integrantes do movimento sindical cearense, a frase não é um mero bordão; deve ser um convencimento, individual e coletivo, capaz de aglutinar a energia de trabalhadores cada vez mais desrespeitados pelos empresários de jornais e revistas. E é exatamente por sentirem o desrespeito, a intransigência e até a truculência dos donos dos jornais Diário do Nordeste e O Povo que os trabalhadores da comunicação, com a solidariedade do movimento sindical, se juntam para denunciar os baixos salários, a falta de condições de trabalho e a tentativa do patronato de extinguir direitos trabalhistas conquistados ao longo de décadas de luta.


 


Depois de quase dois meses de trégua e nenhuma reivindicação atendida, jornalistas e gráficos voltam a promover paralisações nos jornais para denunciar que a responsabilidade social e a “concidadania” que os empresários da comunicação tanto apregoam não passam de um discurso inconsistente, pois não é válido para os funcionários destas empresas. Na relação com os empregados, os donos dos jornais ignoram as necessidades básicas para uma família sobreviver, se recusam a oferecer reajustes salariais minimamente dignos e abandonam a mesa de negociação com os trabalhadores em plena campanha salarial.


 


A intransigência patronal é tanta que a campanha salarial dos jornalistas de mídia impressa se arrasta desde setembro do ano passado, e a dos gráficos desde novembro de 2008. O ápice na intransigência se revelou no dia 23 de dezembro, antevéspera do Natal, quando o Diário chamou a Polícia para reprimir uma manifestação de jornalistas contra o achatamento salarial e ainda ameaçou de demissão aqueles que participassem da paralisação. Nem uma linha sobre o episódio foi publicada na grande imprensa, pois a truculência das empresas de comunicação não aparece nos jornais.


 


Não bastasse a resistência dos patrões em garantir reajuste com ganho real (acima da inflação) para os jornalistas de jornais e revistas, na campanha salarial dos profissionais de rádio e televisão, que começou em janeiro, os empresários querem também excluir da Convenção Coletiva de Trabalho nada menos que 21 cláusulas, conquistas históricas da categoria. Isso, depois de já terem aprovado as mesmas cláusulas na mesa de negociação com os trabalhadores. O que os patrões dizem, portanto, não se escreve. Com os gráficos não foi diferente. Depois de concordarem em oferecer 1,02% de ganho real, os negociadores patronais recuaram e agora querem dar apenas 0,5%.


 


Se os donos das empresas de comunicação ignoram as necessidades de melhor remuneração e condições de trabalho para os seus empregados, estes precisam reagir. Jornalistas e gráficos estão reagindo conjuntamente, fortalecendo as duas categorias e sensibilizando a sociedade de que a luta pelo reconhecimento dos trabalhadores representa uma luta por um Jornalismo com qualidade, pois a desvalorização dos profissionais compromete o próprio exercício da profissão.


 


Por mais respeito a jornalistas e gráficos, por um jornalismo de qualidade, juntos somos mais fortes.


 


Federação Nacional dos Jornalistas – Fenaj
Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Ceará – Sindjorce
Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Gráfica, da Comunicação Gráfica e dos Serviços Gráficos do Estado do Ceará – Sintigrace


 


Fonte: Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Ceará