Lula anuncia ministério com mais liberdade para as mulheres
Como cristão, eu sou contra o aborto, mas como Chefe de Estado, eu tenho obrigação de tratar o assunto como questão de saúde pública. A fala é do presidente Lula, na abertura do Seminário Mais Mulheres no Poder: Uma Questão da democracia, na noite dest
Publicado 10/03/2009 16:36
O Presidente Lula lembrou que o fato de transformar a Secretaria em Ministério garante maior liberdade orçamentária, o que ajuda na elaboração e na execução das políticas públicas. E, rebatendo as críticas da oposição, de inchaço da máquina administrativa, ele desafiou: “Depois, se um dia alguém achar que Ministério é demais e quiser acabar, que ouse.”
Para o Presidente Lula, “um país com a diversidade de luta social extraordinária, tem mais é que criar tantas secretarias quantas forem necessárias para atender a demanda da sociedade”, acrescentando que todas as secretarias – Direitos Humanos e promoção da Igualdade Social – mesmo que lentamente, começou a mudar a vida das pessoas.
Em seu discurso, de improviso, Lula falou também sobre o tema específico do seminário – a participação da mulher nos espaços de poder. Ele disse que a política de cotas não é suficiente para alterar a realidade de sub-representação das mulheres na política. E exemplificou com o caso demonstrado na última reunião dos prefeitos, que reuniu quase seis mil prefeitos, dos quais apenas 9% eram mulheres.
O Presidente Lula diz que esse é um problema de ordem cultural, secular, milenar, que exige debate político e a superação do atraso dos homens. “Nós, os homens, temos problemas a serem enfrentados e vencidos.”
Voto da mulher
O Seminário Mais Mulheres no Poder prosseguiu, nesta terça-feira (10), com uma mesa redonda que reuniu a ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, a deputada Luiza Erundina (PSB-SP) e a cientista social francesa, Françoise Gaspard, dentre outras.
Segundo Liége Rocha, secretária nacional da Mulher do PCdoB, que participa do evento, cada uma delas abordou os diversos aspectos da luta da mulher para ampliar a sua participação nos espaços de poder, destacando os mecanismos existentes hoje no mundo. A ministra Dilma Roussef falou sobre a participação política da mulher desde a resistência à ditadura militar a partir da experiência dela.
A deputada Luiza Erundina defendeu a importância da reforma política e o financiamento público de campanha como medidas que possam beneficiar as mulheres. E sugeriu que o parte do fundo partidário – cerca de 30% – seja destinada às instâncias das mulheres nos partidos políticos como forma de estimular as mulheres na atividade política.
A professora francesa falou sobre as estratégias que são utilizadas no mundo para garantir a participação das mulheres na política, como a cota das mulheres no processo eleitoral, já debatido no Brasil; e outros que não recebem muita atenção como a criação do Partido das Mulheres e a campanha para estimular as mulheres a votarem em mulheres.
Pior lugar
A sub-representação da mulher no poder é um consenso entre oradores e público. Para atingir esse conseno, elas lançam mão dos número das pesquisas que demonstram que o legislativo brasileiro é um dos piores do mundo em termos de representação feminina, ocupando a 106ª posição no ranking de 188 países monitorados pela Inter-Parliamentary Union, entidade sediada na Suíça.
O Brasil perde para Ruanda, na África, que tem quase paridade de sexos na Câmara Federal (47%); para a Argentina (40%); México (23,2%) e Venezuela (18,6%). Na América do Sul ganha apenas da Colômbia.
São apenas 45 deputadas federais (8,78%) num universo de 513. No Senado, são 10 senadoras de 81 (12,33%), percentual abaixo da média do mundo, de 17,6%. Nas Assembléias Legislativas, nas Câmaras Municipais, nos Governos de Estados, no Governo Federal e no Poder Judiciário a mulher é minoria.
Mas as mulheres são maioria do eleitorado. São 65,9 milhões de eleitoras (51,7%), massa expressiva que cresce a cada eleição. A defesa de mais mulheres na política representativa, segundo as oradoras e público do evento, vai permitir a consolidação da democracia, que precisa superar a grande desigualdade existente, presente também nos espaços de poder.
De Brasília
Márcia Xavier