Protecionismo atinge relação entre EUA e México
A secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, pode esperar uma recepção fria quando chegar à Cidade do México, na próxima quarta-feira (25). A relação entre os dois países, que partilham três mil quilômetros de fronteira, ficou tensa desde
Publicado 18/03/2009 13:57
A circulação dos veículos é uma das cláusulas do tratado de livre-comércio que envolve México, EUA e Canadá, o Nafta. Embora o Congresso dos EUA justifique as limitações com argumentos de segurança – os caminhões mexicanos seriam mais velhos –, o governo Calderón denuncia uma manobra protecionista. O México destina 80% das exportações aos EUA, e 70% dos produtos comercializados entre os dois países são transportados por estrada.
“É uma ação equivocada, que viola claramente o tratado de livre-comércio”, declarou o secretário mexicano de Economia, Gerardo Ruiz Mateos, numa entrevista coletiva. “Nestes momentos de crise econômica, quando há de se evitar o protecionismo, a decisão dos Estados Unidos manda um sinal negativo para o México e para o resto do mundo”.
O México não publicou ainda a lista definitiva dos produtos retaliados, por um valor de 2,4 bilhões de dólares. O governo quer que sejam provenientes de um número significativo de estados, cujas exportações para o México representem uma porcentagem importante do total global. Mas os produtos não devem fazer parte da cadeia produtiva mexicana, para não afetar o preço final para o consumidor local. O México já exclui alimentos de base, tais como arroz, milho, trigo e feijão.
Guerra comercial
“Esta crise não deveria desembocar numa guerra comercial entre os dois países, acho que a negociação vai ajudar a encontrar uma solução rapidamente”, analisa o economista Alberto Ramos, do banco norte-americano Goldman Sachs. De fato, o presidente Barack Obama já pediu a criação de um novo acordo sobre caminhões para substituir o antigo, já que a elevação das tarifas de exportações prejudicaria uma série de negócios no país.
“Até se for resolvido, este episódio é muito preocupante. A onda protecionista nos EUA já não é mais uma hipótese, é uma realidade que vai nos afetar”, disse Leo Zuckermann, do Cide, um centro de pesquisas políticas e econômicas na Cidade do México. “O problema é que o México tem muito mais possibilidades de perder do que ganhar numa guerra comercial. Infelizmente, somos o pequeno sócio da aliança, temos uma relação assimétrica com os EUA”.
O analista mexicano considera que, com a eleição de Barack Obama, incidentes como este vão se multiplicar. “A base eleitoral do Partido Democrata é constituída pelos sindicatos. Nesta história, é o famoso sindicato Teamsters que conseguiu barrar os caminhões. Vão fazer mais cobrança ao presidente para salvar os empregos ao norte do Rio Grande”. Durante a campanha eleitoral, Obama revelou ceticismo em relação ao Nafta, anunciando que estava a favor de uma renegociação do tratado, para proteger os trabalhadores de seu país.
Guerra ao narcotráfico
Para Luiz Hernandez Navarro, editor do jornal esquerdista mexicano La Jornada, esta disputa se encaixa num contexto geopolítico bem complicado. “A verdadeira fonte de tensão entre os países é a questão da guerra contra o narcotráfico”, explicou. “Calderón fez da guerra contra o narcotráfico o eixo principal de sua política. É uma espécie de 11 de Setembro para ele. Mas não deu certo: a fronteira com os EUA se converteu num inferno ainda maior do que já era, o que incentiva Obama a querer um novo acordo militar que reduza as margens de autonomia do exército mexicano”.
Obama anunciou na semana passada (12 de março) que estudava o envio de tropas da Guarda Nacional à fronteira com o México, a pedido de vários estados, entre eles o Texas. “Considero inaceitável ter grupos de narcotraficantes que cruzam nossas fronteiras e matam cidadãos americanos”, explicou o presidente.
Fonte: www.operamundi.net