Lula pede voz “forte e clara” árabe e sul-americana no G20
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta terça-feira (31) que os países árabes e sul-americanos devem levar “uma mensagem forte e clara” à cúpula do G20, na quinta-feira em Londres, propondo “medidas que evitem que uma crise financeira se transf
Publicado 31/03/2009 20:27
“Defendemos o papel estratégico do Estado, a regulação e transparência”, disse Lula na segunda cúpula dos 34 países membros – 12 sul-americanos e os 22 árabes. A primeira cúpula, que criou a Aspa, ocorreu em Brasília, 2005, por iniciativa brasileira.
O presidente brasileiro advogou “Propostas consistentes para a reforma da governabilidade do mundo” e advertiu que “nenhum país conseguirá superar a crise com ações isoladas”. Alertou para o “efeito dominó” das medidas protecionistas, apontando como alternativa a conclusão da Rodada de Doha, oportunidade para os países agrícolas pobres, travada devido a resistências protecionistas dos países centrais.
Lula fechou seu discurso com uma referência à questão palestina: “Não pode ser que, depois de tantos anos de negociações, frequentemente interrompidas não tenhamos ainda um Estado palestino”. “É importante que o novo governo em Israel se comprometa com o processo de paz”, agregou.
O encontro mostrou forte unidade entre os pontos de vista árabes e sul-americanos. Diversos discursos destacaram a necessidade de implantar uma nova ordem mundial e fortalecer a multipolaridade. Dos 34 países árabes e sul-americanos, três estarão representados na cúpula de Londres: Brasil, Argentina e Arábia Saudita.
A maior controvérsia da cúpula ficou fora da agenda oficial e girou em torno da ordem de prisão contra o presidente do Sudão, Omar al-Bashir, presente ao encontro já que seu país faz parte da Aspa, emitida pelo Tribunal Penal Internacional (TPI). A presidente do Chile, Michelle Bachelet, defendeu indiretamente a sentença, alegando que “há momentos nos quais a soberania dos países não basta”. Os árabes, que veem na medida uma tentativa de ingerência nos assuntos internos sudaneses, aplaudiram o venezuelano Hugo Chávez, que contestou o TPI e convidou Bashir para uma visita oficial a Caracas.
Em Paris, almoço com Sarkozy
Do Catar Lula seguiu para Paris, onde se reunirá com o presidente da França, Nicolas Sarkozy, nesta quarta-feira. O encontro com Sarkozy está previsto para as 12h15. A delegação brasileira será recebida para um almoço no no Palácio do Eliseu, em Paris.
Lula e Sarkozy discutirão os últimos detalhes de uma aliança franco-brasileira na Cúpula do G20. Desde fevereiro, os dois chefes de Estado trocam correspondências visando a uma colaboração estreita na reunião, em especial em torno de propostas sobre a regulação do sistema financeiro internacional.
A aproximação teve início durante a visita de Sarkozy ao Brasil, em dezembro, quando os dois países fecharam acordos inclusive no plano estratégico e militar; e ganhou força em fevereiro, quando Brasília oficializou, por meio de uma carta, a aliança no G20 em torno de posturas comuns. A correspondência foi entregue em mãos no Eliseu pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.
Entre os pontos de acordo entre os Brasil e França estão bandeiras como a maior regulação das instituições financeiras e a mudança na estrutura de votação do Fundo Monetário Internacional (FMI), condição para a injeção de recursos pelos países emergentes. Outros pontos discutidos entre os dois países foram alternações nas normas de Basileia – que regulam a alocação de capital em investimentos de risco – e o aumento das linhas de financiamento do Banco Mundial para o comércio global.
Lula encontrou-se este mês também com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e o primeiro ministro do Reino Unido, Gordon Brown. Com este ciclo de encontros, o Brasil se prepara para elevar seu protagonismo no G20, um fórum multilateral que reúne metrópoles desenvolvidas e países em desenvolvimento, surgido em novembro último sob o impacto da crise econômica global.
Da redação, com agências