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Precursor do grafite é homenageado em São Paulo

Mais de 30 grafiteiros promoveram intervenções nos quatro cantos da cidade de São Paulo neste final de semana para comemorar o Dia do Grafite. As atividades começaram na sexta-feira, dia 27 de março, com uma vernissage e um coquetel em homenagem ao art

Este ‘muralismo’ – representado por nomes como Osgemeos, Titi Freak, Zezão, Speto, Daniel Melim, Stephan Doitschinoff, Nunca, Ramon Martins e Onesto – vive um de seus melhores momentos, que coincide também com o início do processo de profissionalização da atividade.



Rui foi um dos primeiros a fazer o grafite com spray à mão livre, antes era feito com estêncil. Conta que, “quando eu era garoto de mais ou menos 15 anos eu já fazia de spray com estêncil”.



O grafite cresceu muito nos anos 1980 e Rui diz ter sido influenciado por isto. “Comecei a me interessar nos anos 80, uma nova onda no mundo acontecendo”, conta.



No Brasil, começou no bairro de Pinheiros, zona Oeste da cidade de São Paulo. Nessa época, no exterior, as galerias começaram a abrir suas portas aos novos artistas. Rui entende que com isto se formou um grupo jovem no Brasil. Para ele, “uma patota que excluía todo o resto. Lá não tinha espaço pra mim, recorri a essa arte nova, que ninguém conhecia, entendia”.



“Fui para a rua por ser mais democrático e por dar mais visibilidade ao meu trabalho”.



Rui e mais grafiteiros da sua geração começaram a entrar nas galerias grandes. “Foi quando teve um boom no grafite”, brinca. Passaram então a fazer grafite à luz do dia, enfrentar a polícia e tomar processo criminal da prefeitura. A cidade tinha no máximo dez pessoas que se dedicavam ao grafite.



“Uma das maiores contribuições do grafite é deixar a cidade mais bonita, é uma arte pra todo mundo. A arte transforma a vida, o grafite também. Ele é mais vibrante, faz pulsar a cidade. É uma ferramenta muito poderosa a qual poucos se dão conta do poder que tem”.



Existe um conselho de grafiteiros com o Matarazzo, secretário da subprefeitura, para revitalização das ruas da cidade. “Eu, os Gêmeos e outros grafiteiros pretendemos dar nossa arte pra cidade. Precisamos nos organizar para isso”, avalia Amaral.



“ntes éramos dez, hoje passa de dois mil. Se a gente não se organizar, empresas como a Skol usarão a nossa arte para vender cerveja. A Skol, por conta da Lei Cidade Limpa não pôde colocar outdoor, então pagou alguém pra grafitar uma propaganda. Isso não é certo.



“O grafite Brasileiro desde 1980 é bastante reconhecido. O grafiteiro conta que em 1987 saiu com o adido cultural da França para fazer grafite. “Era muito legal, saí para grafitar com o carro do consulado, imagina?”, revela.


 


Cidade Limpa e cinza



Oficializado em São Paulo por meio da Lei 13903/2004, de autoria do vereador Odilon Guedes (PT), o Dia do Grafite é uma homenagem ao artista Alex Vallauri, morto no dia 27 de março de 1987, vítima da AIDS. Contudo, ano passado, o prefeito Gilberto Kassab (DEM), ao normatizar o calendário oficial da cidade, deu um chega pra lá no Dia Municipal do Grafite para se adequar à sua maior bandeira, a Lei Cidade Limpa.



No ano passado, a Lei Cidade Limpa levou a Prefeitura a cobrir de tinta cinza várias destas obras – o que reeditou um confronto com os artistas que se repete desde os anos 70. Depois disso, porém, os dois lados entraram em um acordo e ficou definido que os grafites não seriam mais apagados.



Muros de cinco locais da cidade foram pintados ontem e anteontem por grafiteiros em comemoração ao dia do grafite.



A ação contou com a participação de artistas de vários lugares do Brasil, que coloriram as paredes externas de entidades beneficentes e empresas de todas as regiões da capital como Grajaú, Bixiga, Vila Maria, Cidade Tiradentes e Vila Madalena. Segundo a organização, cada grafiteiro ficou livre para desenhar o que quisesse.



E, entre os dias 1 e 15 de abril, exibições de filmes e debates sobre o tema ocorrerão na sede da Ação Educativa. “O bacana disso tudo é poder reafirmar ainda mais o grafite como arte contemporânea, deixando assim a arte mais democrática e acessível”, disse Celso Gitahy, um dos ilustres grafiteiros presentes no evento.



Mulheres grafiteiras



Talvez seja esta umas das conseqüências da tal “democratização da arte” a que Celso se referiu. Cada vez mais mulheres estão indo às ruas para grafitar. “Ainda tem gente que olha estranho, algum preconceito sempre aparece”, disse Bete Nóbrega, de 40 anos, há 20 fazendo arte nas calçadas. Bete trabalha mais com stêncil, técnica que se utiliza de um molde, influência do grafite europeu.



Para Lia Fêniz, de 26 anos, outra “menina de rua”, o número de mulheres grafiteiras vem mesmo aumentando consideravelmente. “Tem quem torça o nariz e diga 'ah, isso é coisa pra homem', mas a gente vai levando mesmo assim”, disse a grafiteira.



Só que nem só de problemas vivem as mulheres grafiteiras. Bete lembrou que algumas vantagens aparecem para contrabalancear os eventuais preconceitos. “Cara, a polícia sempre me liberou. Isso eu tenho que admitir que é uma bela duma vantagem”, disse.


 




Mapa do grafite pela cidade



Veja os principais pontos onde o grafite pode ser encontrado em São Paulo:



– Avenida Amaral Gurgel (Embaixo do Elevado Costa e Silva)
– Praça Roosevelt
– Chegada da Rodovia Dutra
– Túnel da Dr. Arnaldo com Avenida Paulista
– Avenida 23 de maio
– Batcaverna (Beco na Vila Madalena)
– Clube Jd. São Paulo (Próximo à estação de Metrô Jd. São Paulo)
– Tucuruvi (O bairro é um pólo de ruas grafitadas)
– Cambuci (Final da Lins de Vasconcelos)
– Avenida Cruzeiro do Sul (Próximo à estação de Metrô Santana)
– Grajaú (Península banhada pela represa Billins)