Perpétua Almeida anuncia recurso à ABL contra gentílico “acriano”
A deputada citou, em seu pronunciamento, reações diversas assinadas por acreanos respeitados que aceitaram compor o “Fórum em Defesa da Nossa Acreanidade”.
Publicado 31/03/2009 11:28 | Editado 04/03/2020 16:10
“Queremos salvar o jeito acreano de ver o mundo e nos apresentar como um povo consciente de suas verdades, tradições e cultura”. Assim se pronunciou a deputada Perpétua Almeida (PCdoB), na tarde de ontem, no plenário da Câmara Federal, ao confirmar o recurso a ser movido por um grupo de intelectuais e políticos do Acre à Academia Brasileira de Letras contra a imposição do gentílico “acriano”. Desde janeiro, o termo define o cidadão nascido no Estado.
O recém-criado “Fórum de Defesa da Nossa Acreanidade”, que reúne jornalistas, escritores, historiadores, professores, representantes do Governo do Estado, da Universidade Federal do Acre e da Academia Acreana de Letras, não vê como insubstituível a nova regra ditada pelo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Afinal, os dicionários brasileiros mais tradicionais, o Aurélio e o Houaiss, embora reconhecendo a grafia com “i” como sendo a mais correta, apresentam como aceitável a grafia com “e”, usada há mais de 100 anos. Ao aderir ao movimento que tenta preservar a grafia tradicional, o próprio governador Binho Marques determinou que seja mantido o gentílico “acreano” em todos os textos produzidos pela Agência de Notícias do Acre. Repúdio no mesmo sentido partiu do presidente da Assemblíea Legislativa, deputado Edvaldo Magalhães, que não se considera “acriano”.
O recurso
“Vamos recorrer à ABL e, se assim os acreanos preferirem, a este parlamento e até ao Supremo Tribunal Federal”, avisou a deputada, que idealizou a criação do fórum. Não pensem se tratar de um capricho sem fundamento. A nossa Língua é a nossa pátria, como disse Fernando Pessoa. E, ademais, a Gramática tem sido injusta com o Acre. Até hoje, ao consultarmos, no Aurélio, a definição do verbo ‘morrer', vemos, inquietos, a expressão ‘Ir para o Acre'. Não concordamos, claro, mas aceitamos como se fosse uma licença cultural do Brasil baseada numa época em que as adversidades ambientais matavam aventureiros nordestinos”, disse Perpétua Almeida. “Nasci no Acre, vou morrer acreana”.
Reações
A deputada citou, em seu pronunciamento, reações diversas assinadas por acreanos respeitados que aceitaram compor o “Fórum em Defesa da Nossa Acreanidade”.
“Eu havia decidido ignorar essa reforma. Como escritor, não necessito dela: uso meu idioma, aquele que aprendi de meu povo e que vou aperfeiçoando e adaptando às minhas preferências. É um lindo idioma, com origens diversas”, escreveu o jornalista Antônio Alves.
“Quem elabora a evolução, quem faz a língua, contrariando, às vezes, a forma proposta pelos gramáticos e filólogos, é o falante, e este ainda não decidiu nada. E desde que o Acre é Acre sempre se escreveu acreano”, assinalou a doutora em Língua Portuguesa, professora Luísa Galvão Lessa.
“Os seringueiros que ocuparam a região a partir das duas últimas décadas do século XIX, pouco afeiçoados ao linguajar indígena não pronunciavam corretamente o nome Aquiry, por isso aos poucos a toponímia indígena foi sendo corrompida. Aquiry, Acri, Acre”, conta o historiador Marcos Vinícius Neves, presidente da Fundação Garibaldi Brasil.
O fórum
Compõem o fórum, membros do Sindicato dos Jornalistas, Fundação Cultural do Acre, os jornalistas Silvio Martinello, Toinho Alves e Altino Machado, os historiadores Marcos Vinícius e professor Carlos Vicente, os membros da Academia, professoras Clara Bader, Luísa Lessa e o professor Clodomir Monteiro, presidente da Academia, o presidente da Assembléia, deputado Edvaldo Magalhães, entre tantos outros que estão se juntando.
“Que prevaleça a verdade de nossas tradições. Nascemos no leito generoso do Aquiri. Andamos nos varadouros da vida, produzimos borracha com a seiva da seringueira, bebemos da caiçuma, da ayahuasca e nos fizemos fortes para resistir aos ditames da natureza. Domamos o sentimento do medo para poder ouvir na noite longínqua o ronco da onça, o zumbir do carapanã, o deslizar aquático e aparentemente inofensivo do puraquê”, finalizou a deputada.
Leia aqui a íntegra do pronunciamento da deputada .