Régina Galeno: “Sobre princípios morais, honra e dignidade”
Militante do PCdoB desde 1988, a educadora Régina Galeno, atual secretária adjunta de ensino da Secretaria de Estado da Educação, se defende de acusações feitas pelos deputados estaduais Ricardo Murad e César Pires e repercutidas pelo sist
Publicado 31/03/2009 15:33 | Editado 04/03/2020 16:48
Li, recentemente, um texto assinado pelo empresário Fernando Sarney, sob o título de “Basta”. No texto, o principal executivo do Sistema Mirante reclamava de ataques que ele e seus familiares teriam sofrido através do Jornal Pequeno. Num tom indignado, o senhor Fernando Sarney falou de “princípios morais”, de “honradez” e de “indignidade”.
Poucos dias depois de o texto do senhor Fernando ter sido publicado, os poderosos veículos de comunicação do grupo Sarney passaram a me atacar. A mim e a pessoas de minha família. Ataques imorais e que desonram os meus caluniadores. Resumindo: uma indignidade.
O “script” já é conhecido: as “denúncias” são apresentadas por um veículo periférico do grupo Sarney, repercutidas por algum blog inserido no portal do Sistema Mirante, ascendendo à tribuna da Assembléia Legislativa e, aí, então, ganham “legitimidade” para ocuparem as páginas do jornal “O Estado do Maranhão”, do noticiário da “Mirante AM” e, algumas vezes, da “TV Mirante”. Assim, as calúnias, injúrias e difamações são transformadas em “verdades”; o ônus da prova é invertido: quem é acusado passar a ter que provar que é inocente; e a missão social do jornalismo investigativo resvala para o esgoto.
Não utilizarei este espaço para atacar a honra de quem quer que seja, nem para falar dos problemas que a família Sarney enfrenta (ou enfrentou) com a Polícia e/ou com a Justiça. Meu assunto aqui é outro. Manifesto-me publicamente hoje por dois motivos: Primeiro, para responder as acusações das quais fui vítima. E segundo, para exigir respeito. Até porque, sobre respeito, não peço. Exijo.
Lembro-me de que, em meados de 2007, assinei uma nota, junto com outras três professoras, por conta de injúrias que sofri do deputado Ricardo Murad, cunhado de Fernando e aliado servil e virulento do grupo Sarney. Na oportunidade, o deputado disse que eu e as outras três professoras estávamos trabalhando na Secretaria por conta de nepotismo e apadrinhamento. Como somos todas concursadas, desmontamos rapidamente a farsa. Sobre nepotismo, que fique bem claro, minha família não é uma organização política. Nem organização política, nem de qualquer outra natureza. E, nela, cada um responde por si.
Agora, mais uma vez, Sarney e sua organização me atacam, relacionando meu nome a uma suposta “gangue familiar”. Dizem que eu faria parte de uma “patota”. E pensar que Fernando escreveu falando sobre honradez, dignidade e princípios morais. Logo ele que comanda uma estrutura de comunicação que se presta a esse tipo de politicagem, feita a base de mexericos, injúrias, calúnias e difamações.
Como falam em dignidade se não hesitam em entregar a seus roedores o nome de trabalhadores inocentes? E por que sou atacada? É porque faço parte de um governo que derrotou Roseana em 2006? É por conta de um ou outro integrante da minha família?
Os veículos de comunicação do grupo Sarney denunciaram que eu estaria arquitetando “uma vultosa compra de material sem licitação”. Bem, isso é notícia ou profecia? Uma denúncia feita antes mesmo de o fato acontecer. É um absurdo de tal proporção que, se os jornalistas do Sistema Mirante fossem orientados a praticar os princípios básicos do bom jornalismo, saberiam a verdade (se é que estão interessados nisso). Eu não trato de licitação na Secretaria de Educação, muito menos compro o que quer que seja. Eu trato da área de ensino. Eu não mexo com dinheiro.
O agravante é a atitude do deputado César Pires, que se arvora conhecedor e defensor da educação pública. César Pires que tem uma carreira política, no mínimo, questionável. Coronel reformado da Polícia Militar, ele assumiu a reitoria da Universidade Estadual do Maranhão como interventor. Sua gestão na Uema foi marcada por denúncias do uso irregular da Fundação de Apoio à Ciência e Tecnologia (Fact) na realização do Procad, com a assinatura de convênios com prefeituras municipais e associação de educadores, promovendo a formação acadêmica paga. Em investigação, a promotora Sandra Elouf classificou a “Fact de fundação irregular”. Pouco se sabe sobre os recursos arrecadados e a sua destinação. Mas todos têm conhecimento de que, na esteira da Fact, o senhor César Pires foi eleito deputado estadual.
Quero dizer ao deputado César Pires e aos demais membros do Poder Legislativo (principalmente àqueles que se fazem respeitar) que, havendo qualquer dúvida a respeito do meu trabalho, que me convoquem para que eu possa prestar qualquer tipo de esclarecimento.
Sou servidora pública estadual desde 1993. Entrei por concurso. Exerci cargo comissionado em três diferentes governos (Roseana Sarney, José Reinaldo Tavares e Jackson Lago). Ocupei cargos técnicos, mas nunca abri mão de defender o interesse público e cumprir meu dever social na promoção e defesa da educação pública. Nunca estive envolvida em falcatruas ou qualquer outro ato desonesto. Hoje estou Secretária Adjunta de Ensino; sou responsável pelas ações do ensino e, volto a repetir, não participo da comissão de licitação ou delibero sobre compras e pagamentos.
Nunca abri mão da minha ideologia partidária. Sou militante e filiada ao PCdoB desde 1988. Nunca abri mão da minha moral e ética. Como militante de esquerda, vou sempre lutar em defesa da democracia, representada pelo voto e participação popular, que vive, hoje, sob a ameaça do poder da oligarquia local. Oligarquia representada e defendida pelo deputado César Pires nos vários cargos que exerceu e, agora, no mandato parlamentar, exacerbou-se em apoiar a política neoliberal do governo FHC que impediu a construção de escolas e deu como única opção aos jovens o Telensino, alcunhado pela rebeldia juvenil como “telengano”, projeto que transferiu R$ 140 milhões para os cofres da Rede Globo (à qual a TV Mirante é afiliada).
Hoje, no governo Jackson Lago, tenho tido a oportunidade de empreender a abertura de 127 cursos de educação profissional e construir mais de 360 escolas, garantindo ensino médio e educação profissional para o povo maranhense, como política de governo, em cooperação com o governo federal.
Aprendi com meus pais a ser responsável, ética, honesta e justa. Os dois são servidores aposentados, ela da Seduc e ele da Capitania dos Portos do Maranhão de baixa renda, mas grandiosos nos seus exemplos de vida e de serviço público.
Eu e minha família não temos riquezas; só possuo o que meu salário de servidora pode comprar em 15 anos de serviços prestados. Moro no Anjo da Guarda. Trabalhei em Pinheiro, Santa Inês e Alto Alegre do Pindaré, lutando para sobreviver. Tudo o que tenho está declarado no meu imposto de renda. Meu modesto patrimônio é absolutamente compatível com meus rendimentos. Por isso, eu posso exigir respeito. Por isso, eu não vou me curvar diante de qualquer um.
Desafio qualquer um a abrir as suas contas particulares e dizer de onde vem o dinheiro que financia suas campanhas.
Para encerrar, quero deixar claro que tenho noção do poder que têm os meus caluniadores. Mas todo esse poder não me inibe em nada. Defenderei, sempre que necessário, a minha reputação de cidadã e funcionária pública. E voltarei a me manifestar, se assim achar necessário. A minha vida no serviço público deixa-me inteiramente à vontade para qualquer debate.
Regina Galeno