Senado homenageia PCdoB por seus 87 anos de história
Os 87 anos do PCdoB, comemorados em sessão solene do Senado Federal nesta terça-feira (31), receberam elogios de senadores de todos os partidos políticos. Os oradores destacaram a história de luta do Partido, principalmente o combate à ditadura militar
Publicado 31/03/2009 20:23
O presidente do Senado, José Sarney (PMDB–AP), assistiu à sessão sentado no plenário, enquanto o senador Inácio Arruda, do PCdoB do Ceará, presidia o evento. Sarney lembrou, em sua fala de homenagem ao Partido, dois aspectos que uniram sua vida política à dos comunistas: os laços de amizade com João Amazonas (ex-presidente do Partido que morreu em 2002) e o fato de ter legalizado o PCdoB, quando era Presidente da República. “E, muitas vezes, posso até dizer, fui, de certo modo, uma linha auxiliar do PCdoB e muitas vezes fomos aliados em muitas campanhas”, recordou.
Em resposta ao desafio feito pelo senador Cristovão Buarque (PDT-DF), o presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, em seu discurso de agradecimento, disse que diante da crise econômica, o Brasil tem o desafio de construir um projeto alternativo de desenvolvimento nacional. “Neste momento, é importante uma unidade maior do nosso povo. Neste momento é preciso uma grande aliança daqueles que produzem, trabalham e têm interesse pelo futuro do nosso País. Esse é o novo pacto político que nós temos de fazer, essa é a nossa compreensão diante desses desafios.”
Para o líder comunista, esse modelo deve levar em conta “a soberania nacional; o avanço civilizacional, porque esse é o momento para o Brasil dar um passo adiante na conquista de mais direitos para o seu povo, seus trabalhadores, como também é um momento importante nessa fase nova de integração do nosso continente, porque é importante a integração dos países da América do Sul e do continente americano. É melhor enfrentar a crise unidos numa integração que avança do que cada país levar em conta a crise de modo próprio, isoladamente.”
Partido de verdade
O senador Cristovam Buarque (PDT–DF) havia dito, em seu discurso, que ao invés de enumerar todos os motivos de comemoração da existência do PCdoB, faria um desafio ao Partido, explicando que “um partido revolucionário, mais do que comemorar o passado, ele gosta de receber desafios para o futuro.”
“Quero dizer que, dos partidos que temos hoje em todo o continente, e especialmente no Brasil, vejo em poucos a capacidade de dar a volta por cima de uma crise profunda no pensamento político e trazer de volta uma chama utópica para o debate e para a ação política no Brasil”, acrescentando que, ao contrário de muitos outros partidos, que definiu como “clubes eleitorais”, o PCdoB pode-se chamar de um partido.
“E eu espero que nós tenhamos muito que comemorar nos próximos dois, três, cinco, daqui a treze anos, no primeiro centenário desse partido, não olhando para trás, mas olhando para a frente, com o mundo inteiro a ser feito, com a utopia inteira a ser inventada e com o poder a ser tomado, para exercê-lo a serviço de uma causa, e não a serviço de cargos”, concluiu Buarque.
O senador Mão Santa (PMDB–PI) abriu a sessão, fez um discurso elogioso ao Partido e chamou o senador Inácio Arruda, do PCdoB do Ceará, para presidir a sessão. Inácio disse que normalmente se comemoram datas arredondadas – 80, 90, 100 anos, mas justificou a comemoração dos 87 anos por ser a data coincidente com a convocação do 12o Congresso do Partido Comunista do Brasil e a situação muito especial para o mundo inteiro, que é a de uma crise de largas proporções do sistema capitalista. “Por isso, o nosso Congresso é cheio de relevo e tão especial, e esta sessão solene casa exatamente com essa grande oportunidade.”
Na presença do Ministro do Esporte, Inácio Arruda aproveitou a ocasião para lançar um protesto relacionado ao contingenciamento dos recursos do Orçamento da União. “Não pode um Ministério tão novo, com atribuições tão relevantes, sofrer um contingenciamento de 84% dos seus recursos. Isso não é correto, isso não é justo, e o Presidente da República precisa saber o que aconteceu, para que possamos repor os recursos desse importante Ministério, que faz um trabalho tão bonito para o povo brasileiro”, afirmou.
História do Partido
“Poucas pessoas poderiam crer – não sem alguma surpresa – que a legenda mais antiga em atividade no País sobreviveria para assistir ao momento atual. E estes 87 anos do Partido Comunista do Brasil são 87 anos de história, de evolução de nossa democracia, de afirmação ideológica e programática. Nunca é demais lembrar que os partidos políticos são patrimônio do povo, e o PCdoB nasceu da necessidade de expressar o sonho e o desejo dos trabalhadores. Num país cuja história é marcada por partidos efêmeros, a permanência de uma corrente política por quase 9 décadas é algo digno de nota. O PCdoB sempre esteve na linha de frente dos grande momentos históricos da vida política brasileira. As campanhas “O petróleo é nosso”, e “Diretas Já”, por exemplo, são emblemáticas. O PCdoB atravessou todos estes anos perto do povo trabalhador, sempre suportando e enfrentando os não poucos golpes de força impostos ao País. A contribuição do Partido tem sido decisiva para fortalecer o movimento de construção de um desenvolvimento alternativo na América Latina. No mundo todo, é grave a crise econômica e financeira. Num momento grave como este, o Partido Comunista do Brasil terá, sem dúvida nenhuma, lugar de realce. Ao lado do PMDB, que tenho a honra de liderar nesta Casa do Congresso Nacional, vamos ajudar o País a enfrentar mais essa crise e sair dela com dignidade e justiça social para o nosso povo, para as gerações futuras.” Senador Renan Calheiros (PMDB–AL)
Ideologia do Partido
“Quero, primeiramente, reforçar o compromisso dos dois partidos, PCdoB e PSB, na luta pela democracia e, consequentemente, na construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Acho que é esse caminho que tem norteado a atuação do PCdoB, que tem norteado a atuação do PSB, de diversos partidos neste País. Refiro-me a um Estado que reforce os princípios mais elementares da cidadania, que ofereça acesso ilimitado às políticas públicas que promovam justiça social, gere emprego e renda aos trabalhadores do campo e das cidades. Há quanto tempo estamos ouvido falar que os partidos de esquerda são retrógados porque queriam o controle do mercado financeiro, queriam um Estado forte, queriam um Estado presente, interferindo nos destinos, naturalmente, da política pública, ao mesmo tempo que essa política pública pudesse interferir, diretamente, no destino da sociedade brasileira, da sociedade do mundo? É nesse caminho, nesse sentido que hoje estamos aqui, para reafirmar que a nossa luta é correta, coerente e que se comprova pela fragilidade do sistema capitalista sem regulamentação. A crise imposta por esse sistema é que reforça o nosso discurso e a nossa posição.” Senador Renato Casagrande (PSB–ES)
Clandestinidade
“Nunca é demais lembrar: dos 87 anos da história do PCdoB, 60 foram na clandestinidade. E é exatamente aí que está uma de suas maiores façanhas. A despeito das seis décadas de ilegalidade, sempre esteve presente e sempre foi atuante na vida política de nosso País. Duramente perseguido no período do Estado Novo e nos 21 anos do regime militar, o Partido nunca se acovardou, fazendo das dificuldades o fermento da luta de seus militantes. Talvez tenha saído das fileiras do PCdoB o maior número de vítimas dos assassinatos e das torturas perpetrados no período da repressão, o que faz do Partido um dos próceres da luta contra o arbítrio e a favor da democracia em nosso País.” Senador Mão Santa (PMDB–PI)
Guerrilha do Araguaia
“Fico imaginando o quanto há de falta de respeito no comportamento daqueles que ainda se arvoram o direito de, aqui e acolá, dizer: “O PCdoB errou quando foi para a guerrilha do Araguaia” (…) E quero aproveitar este momento para render as minhas homenagens a tantos que abdicaram de tanta coisa na vida e se jogaram de corpo e alma na luta contra um regime cruel que se abateu sobre o nosso País num determinado período. Essa, sim, é uma história que não se pode esquecer, porque muita coisa ainda precisa ser esclarecida. Há famílias ainda no Brasil em busca dos restos mortais dos seus entes queridos. No dia em que nos esquecermos disso não estaremos à altura de reverenciar as pessoas que, naquele momento histórico do nosso País, um momento pesado, um momento de medo, um momento de angústia profunda – trabalhadores brasileiros, principalmente jovens daquela época, milhares e milhares de jovens –, desviaram o rumo de sua vida, muitos tendo sido sacrificados, mortos, assassinados.” Senador Geraldo Mesquita Júnior (PMDB–AC)
Arquivos da ditadura
“Neste 31 de março, 45 anos depois da grande desonra que sofreu o povo brasileiro, quero conclamar todos e todas para transformá-lo na antítese de toda a barbárie. Este 31 de março deve ser dedicado àqueles que, generosa e ousadamente, foram às primeiras e últimas consequências na luta pela preservação da existência do ser humano. (…) Eu não poderia deixar de celebrar aqui a memória dos heróis e dos mártires que, generosamente, depositaram suas vidas na busca da sociedade socialista em nosso País. Destaco os mártires do PCdoB que tombaram tanto nas guerrilhas urbanas de resistência à ditadura militar quanto na heróica resistência no sul do Pará, nos anos 70. É preciso abrir os arquivos da ditadura. É preciso esclarecer o destino daqueles que são considerados desaparecidos políticos, porque ousaram lutar, ousaram discordar do poder vigente, ousaram construir alternativa para que os trabalhadores fossem respeitados em toda a sua dignidade e em todos os seus direitos.”Senador José Nery (PSOL–PA)
Líderes e militantes comunistas
“Lembrei-me, meus queridos amigos ministro Orlando Silva e presidente do PCdoB, Renato Rebelo, de Alberto Bomilcar, de Apolônio de Carvalho, de Carlos da Costa Leite, de Davi Capistrano da Costa, de Delci Silveira, de Dinarco Reis, de Enéas de Andrade, de Hermenegildo de Assis Brasil, de Homero de Castro, de Joaquim Silveira, de José da Cunha, de José Correa de Sá, de Nelson Alves, de Nemo Canabarro Lucas, de Roberto Morena e de Eny Silveira. Eram homens enlouquecidos por mudar a sociedade e torná-la mais justa. Sem dúvida, marcaram toda uma geração de ativistas políticos e deram sua vida por essa causa. Lembro aqui os meus colegas da Constituinte de 1988, Aldo Arantes, aqui presente, e o nosso sempre presente Haroldo Lima. Lembro eu que se fala tanto que haveremos um dia, também aqui no Brasil, de eleger um negro à Presidência da República. Então, que se registre na história que foi do PCdoB um operário comunista que foi candidato à presidência da República em 1930, mesmo que clandestinamente. Falo do então vereador pelo Rio de Janeiro, Minerzinho de Oliveira. Claro que poderíamos lembrar outros negros na história do PCdoB – o nosso inesquecível Osvaldo Orlando da Costa, o Osvaldão, um dos comandantes da luta e da resistência no Araguaia. Faço questão de citar também o nome da deputada comunista Manuela D’Ávila, que foi eleita com a maior votação que uma mulher já conquistou no meu Estado do Rio Grande do Sul. (…) Terminaria dizendo: viva, sim, a toda a direção do PCdoB! Mas viva, viva, viva os militantes, porque a causa deles é eterna. Nossos nomes passam, mas são as causas que os militantes defendem apontarão, de fato, um futuro melhor para todos.” Senador Paulo Paim (PT–RS)
Apoio ao Governo Lula
“Em 1989, quando a gente começava a construir a campanha presidencial definindo um caminho da esquerda popular e democrática, uma liderança que teve um papel absolutamente decisivo foi João Amazonas. Lembro-me que, em todos os momentos mais difíceis da campanha e da construção da campanha, ele tinha sempre um eixo determinante: a união do povo é fundamental para mudar a História do Brasil e se nós não fizermos a aliança política, nós não mudaremos a História do Brasil. E dali, daquela campanha de 1989, que nós empolgamos o Brasil, criamos uma referência histórica obrigatória para tudo o que veio depois, que foi a liderança do companheiro Lula, o PCdoB e João Amazonas tiveram papel decisivo.” Senador Aloizio Mercadante (PT–SP)
País justo, fraterno e solidário
“Venho, nesta data, prestar uma homenagem ao PCdoB, porque ele é um símbolo da luta pela redemocratização do Brasil, da luta pela igualdade, pela liberdade. Então, homenageio esses homens e mulheres, porque lutaram sempre e jamais deixaram que a bandeira do Partido fosse abaixada nos momentos mais difíceis, enfrentando as maiores adversidades, mas trazendo a esperança daqueles que acreditam nas mudanças, daqueles que querem as mudanças, daqueles que querem um País mais justo, mais fraterno, mais solidário.” Senadora Rosalba Ciarlini (DEM-RN)
De Brasília
Márcia Xavier