Morre o ex-presidente da Argentina, Raúl Afonsín
O ex-presidente da Argentina, Raúl Alfonsin, morreu, na noite desta terça-feira, em Buenos Aires, aos 82 anos. Símbolo do retorno do país à democracia, após o fim do regime militar (1976-1983), ele enfrentava um câncer de pulmão desde 2007. Logo após o
Publicado 01/04/2009 11:08
O também ex-presidente Néstor Kirchner, além de vários políticos estrangeiros, como o presidente do Senado, José Sarney – que ocupou a presidência do Brasil na mesma época que o argentino – entraram em contato com a família.
Ao chegar a Londres, para a reunião do G20, a presidente Cristina Kirchner enviou condolências aos parentes de Alfonsín. “A figura de Alfonsín está vinculada à recuperação democrática após uma trágica ditadura militar”, disse. Cristina recordou que Alfonsín era um homem com “muitas convicções, muitas vezes diferentes das nossas, mas tinha convicções e isso é digno de respeito: um homem que defendia suas idéias”.
O Governo da Argentina decretou três dias de luto nacional pela morte do ex-presidente, que será enterrado na quinta-feira (2), em um panteão de seu partido, a União Cívica Radical, no cemitério da Recoleta, em Buenos Aires. Médico particular de Alfonsín, Alberto Sadler disse, ontem, que o ex-presidente faleceu dormindo, rodeado por familiares.
A última aparição pública de Alfonsín havia sido em outubro passado, quando foi à inauguração de um busto com sua imagem no salão da Casa Rosada que lembra os ex-presidentes do país. A homenagem foi comandada pela atual chefe de Estado, Cristina Kirchner.
Perfil
Alfonsín foi o presidente da transição democrática na argentina, iniciada em outubro de 1983. O primeiro, depois de sete anos e meio de um duro Governo militar, cujas mortes são estimadas em cerca de 30 mil. Ele é definido por populares e analistas de diferentes tendências como um político que ''entrou para a história democrática argentina''.
O ex-presidente nasceu em 12 março de 1927, na cidade de Chascomús (província de Buenos Aires). Descendente de espanhóis, formou-se em direito e entrou para a União Cívica Radical, partido pelo qual foi eleito vereador, deputado estadual e federal. Todos os seus mandatos, incluindo o de presidente, foram interrompidos por levantes militares ou outros eventos.
Em 1983, o regime militar, enfraquecido pela derrota na Guerra das malvinas, convocou eleições gerais. Alfonsín conseguiu, então, vencer nas urnas o Partido Justicialista (PJ, peronista), e com quase 52% dos votos, nas eleições que marcaram o fim da ditadura. Era a primeira vez que a UCR derrotava o peronismo.
Após tomar posse na Casa Rosada, apesar de ter enfrentado obstáculos e pressões para consolidar a democracia na Argentina, Alfonsín conseguiu com que, em 1985, fosse realizado um histórico julgamento, que terminou com a prisão de líderes do regime militar que seqüestrou, torturou e fez desaparecer milhares de pessoas.
Em seu governo, também criou a Comissão Nacional para Desaparecidos (Conadep, na sigla em espanhol), que compilou denúncias sobre os abusos da ditadura.
Os processos irritaram os militares que tentaram vários levantes. Alfonsín, contudo, conseguiu evitar um golpe, mas terminou tendo que ceder aos rebeldes, atitude que seus críticos dizem ter manchado sua atuação.
Primeiro, promulgou a lei do Ponto Final, que impedia o surgimento de novos processos, além dos que já estavam em andamento. Depois, com a lei da Obediência Devida, perdoou os que cometeram crimes cumprindo ordens superiores. As medidas isentaram de responsabilidade mais de mil de acusados de crimes de lesa-humanidade.
Junto com o então presidente do Brasil, José Sarney, Alfonsín assinou tratados de integração comercial entre Brasil e Argentina que resultaram, anos mais tarde, na criação do Mercosul.
O governo de Raúl Alfonsín também ficou marcado por uma profunda crise econômica, provocada pela grande dívida externa herdada pelos anos de ditadura e políticas econômica malsucedidasna. A situação que acabou fazendo com que o então presidente renunciasse antes do final de seu mandato.
Treze greves gerais foram registradas no período, ao mesmo tempo em que o presidente tinha dificuldade nas relações com empresários e banqueiros. No último ano do governo Alfonsín, a inflação na Argentina atingiu a marca dos 4.923%.
As eleições de maio de 1989 deram vitória à chapa peronista liderada por Carlos Menem. No mesmo mês, Alfonsín pediu a renúncia ao Senado, antecipando a transferência do poder.
No ano passado, quando a a Argentina comemorava 25 anos de abertura democrática, Alfonsín foi o grande homenageado da festa, embora, por conta da saúde já debilitada, não tenha podido participar das atividades.
Em um vídeo exibido num grande telão durante as comemorações, Alfonsín declarou que a “democracia não é simplesmente o exercício da liberdade, mas também a busca da igualdade”.
“É imprescindível nos darmos conta de que temos que trabalhar juntos, que é necessário o diálogo. Não é simplesmente o diálogo entre governo e oposição, mas também dentro da oposição”, acrescentou, no vídeo.
“Temos que trabalhar para melhorar a sociedade argentina. Este não é um problema apenas dos políticos e do governo, é um problema de toda a sociedade”, encerrou, à época.
Da Redação,
com agências