Centrais cobram, e Lula enfrentará a crise de setor em setor
Na presença de quatro ministros e de lideranças das centrais sindicais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu tomar medidas diferenciadas para enfrentar a crise, levando em conta as necessidades de cada setor econômico. Uma equipe do governo — l
Publicado 08/04/2009 20:38
Nesta quarta-feira (8), Lula recebeu as centrais na sede em Brasília do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), que abriga temporariamente a Presidência. “Foi uma reunião muito proveitosa”, declarou ao Vermelho Pascoal Carneiro, secretário-geral da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).
“Fomos à mesa com uma proposta unitária e sensibilizamos o governo a ver que a crise não pode ser tratada de forma igual para setores diferentes”, agregou o sindicalista. Segundo Pascoal, áreas como a fruticultura e a alimentação precisam de respostas urgentes — porque “estão entre os setores mais castigados pela crise e podem quebrar”.
O presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, entregou a Lula fotografias com milhares de frangos mortos, para denunciar o descaso do governo com essa cadeia produtiva. “A crise vai andando de setor a setor. Alguns têm capacidade para resistir, enquanto outros — como o setor de frangos — são extremamente frágeis”, explicou Paulinho, em entrevista ao Vermelho.
Apesar das críticas a Lula — “que até dezembro só fazia reuniões para ouvir a choradeira dos empresários” —, Paulinho enalteceu a maior disposição do governo. “A partir de agora, vamos fazer reuniões mais frequentes com o Luiz Dulci, junto aos ministros do Trabalho (Carlos Lupi), da Fazenda (Guido Mantega) e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Miguel Jorge). O objetivo é apresentar remédios específicos para cada problema.”
O presidente da Força lembrou que as montadoras em particular e a indústria automobilística como um todo mostraram “boa reação” com a redução do IPI (Imposto Sobre Produtos Industrializados). No último mês de março, foram vendidos 271.393 veículos — um salto de 16,89% em relação ao mesmo período do ano passado e de 36,10%, em relação a fevereiro. Em contrapartida, um setor como o de construção civil depende tanto de investimentos quanto de créditos para retomar seus altos níveis de atividade.
Lula não apenas concordou como a análise das centrais como também orientou os ministros a agilizar as próximas reuniões. Conforme relato de sindicalistas presentes à audiência desta quarta-feira, o presidente afirmou que o Brasil está mais bem preparado que em momentos anteriores para enfrentar uma crise de tamanha envergadura. “Alguns setores já estão melhorando e, em março, houve mais contratações do que demissões no mercado formal”.
Segundo as centrais, Lula se queixou das dificuldades na liberação de crédito para pequenas e médias empresas. O Banco do Brasil, por exemplo, estimou em oito meses o tempo necessário para despejar recursos na área de alimentação. “Até lá”, diz Paulinho da Força, “estarão todos quebrados”.
A reclamação teve eco com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Na reunião, ela condenou duramente a política de juros do Banco Central e pediu a redução dos spreads nos bancos públicos. “Esses bancos têm de entender que são órgãos do governo a serviço do desenvolvimento, e não do lucro.”
Segundo Pascoal Carneiro, “é consenso que a crise abre oportunidade para aprimorar a relação entre governo e trabalhadores”. O secretário-geral da CTB sublinhou que a reunião mostrou avanços, como “o fato de o governo reconhecer cada vez mais a importância e a justeza das reivindicações dos trabalhadores”.
De São Paulo,
André Cintra