Deputados repudiam execração do parlamento pela mídia
Sob análise de que a mídia reforça no senso comum a ideia de que tudo na política é contaminado pelo fisiologismo e clientelismo e, portanto, promove a desmoralização do parlamento enquanto instituição sólida da democracia, os deputados federais saíram
Publicado 08/04/2009 19:27
A gota d´água foi a veiculação nos noticiários das TVs e rádios na terça (7) e nesta quarta em praticamente todos os veículos impressos de circulação nacional de que a reunião da Mesa Diretora da Câmara havia ressuscitado “a farra de gastos”.
Os deputados, segundo o que foi massificado, recuaram “na decisão de moralizar o uso da verba indenizatória e os gastos com passagens aéreas. Além disso, ampliaram “a gastança” ao aprovar o uso de R$ 150 milhões com a reforma dos apartamentos funcionais.
Em nota distribuída à imprensa, o presidente da Casa, Michel Temer (PMDB-SP), negou que a Mesa tenha recuado da decisão de mudar as regras e disse que “as manchetes equivocadas” acabaram colocando a opinião pública contra o parlamento.
No tocante a aprovação de recursos para reformas dos apartamentos, Michel Temer esclareceu que não houve decisão, mas apenas a apresentação pelo quarto-secretário de uma proposta para diminuir os gastos com imóveis funcionais.
“Registre-se que a reforma de quatro blocos de apartamentos foi decidida no ano passado e já teve início. A decisão não foi tomada na última reunião. Ontem, repita-se, houve mera exposição a propósito da divisão física dos imóveis para eliminar o auxílio-moradia. Não houve decisão”, diz a nota.
Repúdio dos parlamentares
Michel Temer recebeu no plenário a solidariedade de diversos parlamentares que usaram todo o tempo destinado às breves comunicações para repudiar a postura da mídia. “O ventre que pariu a liberdade de imprensa, sem a qual a um democrata é impossível respirar, é o mesmo ventre, e os eminentes jornalistas precisam refletir neste momento sobre isso, que pariu a representação popular no parlamento”, disse o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) para um plenário atônito.
O deputado socialista afirmou não querer crê que haja qualquer centro estratégico na grande mídia brasileira interessado em destruir a respeitabilidade do parlamento, “sede da supremacia popular que a democracia estabelece.”
Para exemplificar o que seria a intenção deliberada da mídia em achacar o parlamento, o líder do PT, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), lembrou que na terça a Câmara aprovou a Emenda nº 451, que criou duas faixas a mais do Imposto de Renda (IR), mas sem nenhuma repercussão. “Vejam o impacto dessa medida na economia brasileira: altera a cobrança do Imposto de Renda, fazendo justiça social e melhorando a distribuição de renda.”
“Qual foi a noticia dos jornais de hoje? Qual a notícia, ontem, do jornal televisado? Que a Mesa teria recuado”, prosseguiu o petista para depois fazer uma proposta no mínimo inusitada. Sugeriu ao presidente da Câmara e do Senado a procurarem a direção dos veículos “porque a cobertura não está sendo feita de forma adequada.”
Foi mais longe: “Os editores estabelecem um tema e os jornalistas são obrigados a enquadrar a realidade dentro daquele tema do editor. Não importa o que o deputado fale. Isso pega todos. Não contribui para a democracia”.
“Partir do princípio de que a instituição está permanentemente preocupada ou interessada, principalmente, na sua autodefesa, na preservação dos seus membros, independentemente de qualquer circunstância, é um erro grosseiro, generalizante, transmite uma ideia falsa da instituição para a sociedade”, considerou o líder do PSDB, José Anibal (SP) ao dar o seu pito na imprensa.
De Brasília,
Iram Alfaia