Sem categoria

Presidente da Contag alerta para impactos da crise no campo

As conquistas que os trabalhadores rurais obtiveram no governo Lula “não resolveram os problemas da agricultura familiar, que continua com o grande passivo da reforma agrária”. Esta é a opinião de Alberto Broch, sindicalista recém-eleito presidente da Con

Em entrevista a Flaldemir Sant'Anna, do Portal CTB, Broch alerta para os impactos da crise no campo, como ondas de demissão e o crescente desemprego. “Temos sentido muita dificuldade para fazer avançar as pautas de reivindicações dos assalariados rurais”, afirma o sindicalista.


 


Confira abaixo a entrevista.


 


Qual o impacto da crise econômica sobre os trabalhadores do campo?
Os homens e mulheres do campo, especialmente os trabalhadores representados pela Contag, vivem um momento conjuntural preocupante. Não podemos negar as políticas públicas importantes que conquistamos nos últimos anos, graças a um processo de organização que a Contag coordenou, como o Grito dos Excluídos, mobilizações e negociações. Também não negamos o avanço democrático brasileiro com a eleição do presidente Lula.


 


Mas, essas conquistas não resolveram os problemas da agricultura familiar, que continua com o grande passivo da reforma agrária. Não realizamos a verdadeira reforma agrária. Só a Contag está com mais de 80 mil trabalhadores acampados em todo o Brasil, esperando um pedaço de chão para produzir.


 


O desemprego nos preocupa, pois a demissão de cada trabalhador, urbano ou rural, reduz o consumo, afetando os agricultores que deixam de vender um quilo de feijão a mais, o que interfere nos preços dos produtos. Também nos preocupam as demissões que ocorrem em alguns setores agrícolas, como a fruticultura no Vale do São Francisco, onde 10 mil assalariados foram demitidos.


 


Qual o papel que a agricultura familiar pode desenvolver no momento de crise?
Nós entendemos que este é o momento de fortalecer a agricultura familiar. Segundo dados da FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação), temos mais de 1 bilhão de pessoas passando fome no mundo. Não vamos resolver o problema da fome sem atacar os grandes entraves da agricultura, especialmente da agricultura familiar.


 


É preciso fazer a reforma agrária e debater um problema sério, que é a renda da agricultura familiar, buscando a compatibilidade entre os custos de produção com os preços que são praticados no mercado. E isso vai se refletir também em vantagens para o consumidor.


 


Quais os efeitos da crise econômica nas políticas desenvolvidas pela Contag?
Nós temos sentido muita dificuldade para fazer avançar as pautas de reivindicações dos assalariados rurais.


 


Qual o projeto de agricultura defendido pela Contag?
A Contag, principalmente após o 10º Congresso, tem um grande projeto político para o campo, alternativo ao modelo de desenvolvimento rural que concentra terra e renda. A Contag defende um projeto alternativo, sustentável e solidário para a agricultura brasileira. Nossa proposta é um modelo de desenvolvimento que valoriza a pessoa humana, que estabeleça uma produção sustentável.


 


Como será possível implantar um projeto de agricultura sustentável?
A Contag quer fortalecer a agricultura familiar, mas para isso precisamos debater o acesso aos recursos naturais, discutir a reforma agrária e, principalmente, o modelo de produção existente, que concentra terra e renda. A Contag não é contra a tecnologia, mas queremos uma tecnologia que fortaleça um modelo de agricultura com gente no campo, que valorize as comunidades, a cultura local, a produção do conhecimento, os saberes dos agricultores.


 


Esse debate precisa envolver o conjunto da sociedade, pois mais de 70% dos municípios brasileiros têm como base econômica a agricultura — e uma agricultura familiar forte gera emprego, ocupação e renda no local onde as pessoas vivem. Para a Contag, o Estado precisa ter um papel atuante no desenvolvimento de políticas públicas para agricultura familiar.


 


Qual é posição da Contag em relação ao agronegócio?
A política da Contag para o campo se confronta com o modelo de agricultura que concentra o uso dos recursos naturais. Um modelo predominante no país que tem como único objetivo a agricultura para exportação, sem gente no campo, com expansão desordenada das fronteiras agrícolas. Nós nos confrontamos no dia-a-dia com o agronegócio.


 


Como será a convivência da Contag com a CUT e a CTB?
Nós queremos desenvolver uma convivência fraterna com a CUT e a CTB, pois consideramos que as duas centrais sindicais polarizam uma importante política no campo. A Contag foi filiada por mais de 12 anos à Central Única dos Trabalhadores, convivendo com a CUT sem nunca termos sido cutistas.


 


Agora, com a presença forte da CTB no campo, a Contag vai conviver com as duas centrais. Vamos trabalhar juntos para fortalecer a luta no campo, respeitando a autonomia dos sindicatos filiados na Contag e dos nossos dirigentes sindicais.


 


Qual é a base representada pela Contag?
A Contag representa cerca de 20 milhões de trabalhadores e trabalhadoras rurais em todo o Brasil. Temos 27 federações, cerca de 4 mil sindicatos com 9 milhões de filiados. Representamos um conjunto de 20 milhões de homens e mulheres que vivem no campo entre assalariados rurais, agricultores familiares, mulheres, jovens e trabalhadores em terra.