Brasil quer ajudar diálogo dos EUA com Venezuela e Cuba
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse nesta quinta-feira (9) que o Brasil pode ajudar o diálogo entre Venezuela e Estados Unidos. Em aula do 6º curso para diplomatas sul-americanos, Amorim propôs “um crédito de confiança” entre os dois p
Publicado 09/04/2009 18:00
“Os países não precisam de mediação, são adultos. Não é o caso”, declarou o ministro, referindo-se às relações Venezuela-EUA, degradadas em especial depois que Washington apoiou o golpe de 2002 em Caracas. “Interlocução não combina com intermediação. Procuramos ajudar para que haja um diálogo direto”, comentou em outro momento.
No entanto, Amorim disse acreditar que o Brasil pode “ajudar na retomada da relação”. Lembrou que o presidente Lula tem falado com os líderes dos dois países, Hugo Chávez e Barack Obama. “Acho que tem avanços”, disse. Os dois presidentes estarão juntos pela primeira vez na 5ª Cúpula das Américas, entre os dias 17 e 19, em Trinidad e Tobago.
“Acho que é preciso haver um crédito de confiança recíproco, para que as cicatrizes do passado não continuem a ser um empecilho para um entendimento no futuro. Acho que uma melhor relação está mais próxima”, previu Amorim sobre as relações EUA-Venezuela.
Cuba será o grande teste
O ministro afirmou que, no caso de Cuba e EUA, no qual não há possibilidade de interlocução (Washington cortou relações diplomáticas com Havana em 3 de janeiro de 1961), o Brasil poderia assumir o papel de mediador. Mas lembrou que isso só é feito a pedido de um dos países.
Para o ministro, o grande teste para novo governo americano será em relação a Cuba. Ele observou que. na cúpula de Trinidad e Tobago, por mais que haja outros temas, é inevitável que a falta de diálogo direto entre os dois países seja alvo de todas as atenções.
Primeira conversa com Rodríguez
Na quarta-feira, Lula reuniu-se em Brasília com o novo ministro das Relações Exteriores cubano, Bruno Rodríguez. Além de assuntos bilaterais, entrou na pauta a 5ª Cúpula das Américas, da qual Cuba não participa por imposição da diplomacia americana. Celso Amorim participou.
Segundo a agência Efe, Lula insistiu que a chegada ao poder do presidente americano deve abrir uma nova etapa das relações entre esse país e América Latina. E que, nesse marco, é necessário acabar com o bloqueio que os Estados Unidos mantém sobre Cuba há quase meio século.
Lula recordou a Rodríguez, segundo fontes diplomáticas citadas pela Efe, que na reunião que teve com Obama na Casa Branca em março, disse que Cuba é um “caso sensível” para a região: hoje, dos 35 países das Américas, apenas os EUA não têm relações normais com a Ilha. O presidente brasileiro também reiterou a intenção de abrir o debate na Cúpula das Américas.
Lula “não colocou o assunto em pauta para se oferecer como mediador entre Cuba e Estados Unidos, mas expressará (em Trinidad e Tobago) sua opinião de que as relações entre os dois países têm que se normalizar, sob o respeito mútuo”, explicaram à Efe as fontes do governo brasileiro.
A visita de Rodríguez a Brasília foi sua primeira viagem oficial desde que assumiu o Ministério das Relações Exteriores em lugar de Felipe Pérez Roque. Analistas brasileiros assinalam o fato de que a primeira visita de Rodríguez como chanceler foi ao Brasil e não à Venezuela, a despeito das estreitas relações Caracas-Havana.
Após a reunião com o cubano, Lula recebeu uma delegação de parlamentares americanos. A agenda da Cúpula das Américas mais uma vez esteve em pauta.
América do Sul sim, Alca não
Em entrevista à imprensa depois da aula aos diplomatas, Amorim defendeu que a integração entre os países sul-americanos pode ajudar no enfrentamento da crise econômica global. “Queremos que [a integração] seja aprofundada”, afirmou.
Mas o chanceler discordou de um bloco incluindo os EUA, nos moldes de hoje congelada Alca (Área de Livre Comércio das Américas). Segundo ele, com as desigualdades dos EUA e Canadá em relação aos demais países, a integração é mais complicada, principalmente por conta das tarifas alfandegárias e de acordos bilaterais.
“Embora sejamos do mesmo continente e tenhamos ideais semelhantes, somos países de realidades diferentes. São dois países muito desenvolvidos e um grupo enorme de países em desenvolvimento”, explicou, embora defendendo o diálogo entre América Latina e a metrópole do norte.
Da redação, com agências