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Argentina: eleição legislativa medirá aprovação do governo

A campanha rumo às eleições legislativas argentinas entra, nesta semana, em uma fase decisiva, inciada no último sábado com o registro das candidaturas e a confirmação de que o governo apostará seu futuro político nas urnas, com o ex-presidente Néstor

Independentemente de seus resultados, serão eleições marcadas pela estratégia do governo, que adiantou o pleito em quatro meses e introduziu uma nova atitude política, lançando integrantes do Executivo a cargos legislativos. A ideia é fazer com que políticos de renome puxem votos e defendam o “modelo kirchnerista”.

Para uma eleição que renova metade da Câmara de Deputados (127 de 257) e um terço do Senado (24 de 72), o governo põe todas suas fichas na Província de Buenos Aires, maior distrito eleitoral, com 37% dos votantes. Reedita, ali, a fórmula presidencial de 2003, com lista de candidatos à Câmara encabeçada por Kirchner e pelo governador da Província e ex-vice-presidente, Daniel Scioli.

O voto para a Câmara argentina é dado aos partidos, que fazem listas fechadas com uma ordem predeterminada, assim como se propõe na tão protelada reforma política brasileira. Por exemplo, se uma legenda obtiver votos suficientes para eleger dez deputados, serão eleitos os dez primeiros da lista. Daí a importância dos cabeças de chapa para atrair votos.

Com uma aprovação que caiu para a casa dos 30%, a presidente Cristina Kirchner justificou a antecipação do pleito como forma de evitar instabilidade política em meio à crise mundial. Néstor afirma que as candidaturas de integrantes do Executivo são uma forma de “pôr a cara” em frente ao projeto.

Os prefeitos terão papel fundamental na estratégia provincial do governo – 45 (de 134) deles estarão à frente de listas para vereador em suas cidades. Assim o kirchnerismo puxa votos de “baixo para cima” – cada partido tem sua própria cédula, com candidatos para todos os postos – e evita traições. “Os prefeitos potencializam as listas governistas em 2 a 5 pontos na maioria dos distritos”, disse Doris Capurro, da consultora Ibarómetro.

A eleição tem sido analisada como uma espécie de plebiscito do governo de Cristina Kirchner. Essa perspectiva ganha ainda mais força a partir do momento em que o candidato principal da situação, Néstor Kirchner, é marido da atual governante e, desde o verão, percorre semanalmente a Província em comícios partidários, tática que agora cedeu lugar a caminhadas.

“Os argentinos devem escolher: ou aprofundamos as mudanças realizadas pela presidente Cristina ou voltamos ao inferno da crise de 2001”, afirmou Kirchner na semana passada. Ele reivindica os seis anos de gestão kirchnerista em contraposição ao “modelo neoliberal” dos anos 90 e identifica a oposição com a crise de 2001-02.

A eleição de 28 de junho renova metade da Câmara eleita em 2005, quando o governo obteve vitória contundente na Província de Buenos Aires, com 43% dos votos. Na ocasião, a puxadora de votos era a hoje presidente, que concorreu ao Senado. Das 35 cadeiras em disputa na Província, 20 são governistas. Hoje o governo tem 115 das 257 cadeiras na Câmara e alcança a maioria com 15 aliados.

Com Folha de S. Paulo