Comunicação é tema de debate promovido pelo PCdoB/CE
O Portal Vermelho, em parceria com o PCdoB/CE, realizou no último sábado (09) um dia de debate sobre a Democratização da Mídia e a Conferência Naciuonal de Comunicação. O encontro que aconteceu no auditório da Casa Amarela Eusélio Oliveir
Publicado 11/05/2009 10:57 | Editado 04/03/2020 16:35
Participam do debate como expositores Renata Mielli, integrante da Comissão Nacional de Comunicação do PCdoB; Adriana Santiago, representante da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ); a jornalista cearense Cristiane Bonfim, sindicalista e representante do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC); e Sérgio Lira, integrante da Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária (ABRAÇO).
Na abertura do encontro, o presidente estadual do PCdoB, Carlos Augusto Diógenes, o Patinhas, ressaltou que o Partido está interessado, preocupado e envolvido com a questão da democratização da mídia no país. “Lutamos pela democracia e pela liberdade de expressão. Durante 61 anos fomos impedidos de nos expressar publicamente”, relembrou Patinhas que fez questão de alertar que a mídia brasileira é monopolizada por seis famílias que controlam 80% da comunicação no país. O dirigente comunista citou como exemplos da atividade tendenciosa na mídia brasileira quando acobertaram a Ditadura de Getúlio e quando se colocaram contra a criação da Petrobras. “É preciso ter consciência para que avancemos no projeto de desenvolvimento com igualdade social. Para transformarmos o Brasil num país soberano com a perspectiva de uma sociedade socialista, ainda temos o forte entrave dos meios de comunicação brasileiros”, alertou.
Patinhas comentou a forma como a mídia brasileira tem tratado o novo cenário político na América Latina. Os avanços progressistas, segundo ele, têm sido bombardeados pela imprensa. “Na minha história política, eu nunca vi um momento de tantos avanços nos países vizinhos. No Brasil, a mídia já se articula em torno da candidatura de José Serra. Não devemos perder de vista este tema tão estratégico. Devemos debater como nos comunicar com o povo sem perder de vista os interesses populares”, ressaltou.
Mídia no Brasil
Renata Mielli, integrante da Comissão Nacional de Comunicação do PCdoB, iniciou o debate resgatando a forma como a imprensa brasileira se consolidou no país. “A mídia brasileira se construiu a partir do poder para legitimar sua política”. Comparada a de outros países, a jornalista ressalta que a mídia no Brasil tem estrutura completamente diferente e nasce como legitimadora das ações políticas tendo vivido grande parte de sua história sob o período da Ditadura. “Temos pequenos hiatos democráticos numa república jovem. Trilhamos caminhos diferentes comparados a outros países”. Segundo a comunista, no Brasil, a relação da grande massa é passiva em relação ao que é veiculado. “Ninguém nunca questiona”, ressaltou.
Sobre a Rede Globo de Comunicação, Renata avaliou. “A empresa talhou a identidade nacional a partir do conceito da elite predominantemente carioca e paulista. Eles pasteurizaram o povo. Isso ocasionou uma destruição ideológica avassaladora. É preciso inverter toda essa lógica de dominação”, defendeu. Dentro deste cenário, a jornalista enfatiza que, apesar de tanta opressão midiática, tivemos alguns avanços. “Foram poucos mas tivemos. Na Constituição de 1988, por exemplo, a liberdade de expressão está contemplada lá. Mas o que percebemos é que neste meio ainda impera a ilegalidade. Se a lei, mesmo caduca, fosse cumprida, a situação da comunicação no país estaria bem melhor”, ponderou.
Comunicação pós-Internet
Com a rápida transformação da comunicação através do surgimento e da popularização da Internet no mundo, Renata alerta que a mudança chegou também ao público. “Não somos mais agentes passivos. Não existe mais, como vimos na faculdade, o emissor e o receptor. Esse modelo ruiu. Atualmente todos nós somos conteúdo, fazemos parte de uma geração questionadora. Pensar em comunicação atualmente é enxergar essa nova realidade. É preciso respeitar a pluralidade do povo brasileiro”, afirmou.
Jornalistas e Comunicação
Adriana Santiago, representante da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), ressaltou o papel dos jornalistas na luta pela democratização da comunicação. “Nossa categoria tem sido agente tanto para o bem quanto para o mal. Os jornalistas foram importantes para a formação do país”. A jornalista ressalta porém que um jornalista só não faz comunicação. “Precisamos deixar claro que a democratização da comunicação não passa apenas pelos jornalistas. Este debate é de interesse de todos”.
Sobre a Conferência Nacional de Comunicação, a jornalista afirmou que a FENAJ acredita na criação de políticas públicas pela democratização dos meios de comunicação. “Através da credibilidade que os jornalistas têm, iremos pleitear a melhoria da comunicação como um todo, não só do conteúdo jornalístico. Comunicação é algo bem mais abrangente”, ressaltou.
Adriana alertou ainda que, apesar da importância da Conferência de Comunicação, todos não podem perder de vista que esta será a primeira conferência. “Enquanto o campo da Saúde já realiza a sua 13ª Conferência, esta será a nossa primeira etapa. Temos que ser maduros. Não vamos estabelecer grandes mudanças. Não somos acostumados a debater com nós mesmos. Devemos nos organizar e formatar uma forma eficaz de mostrar nossa opinião. Devemos lutar para que este processo seja democrático”, defendeu.
Cristiane Bonfim, sindicalista e representante do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), em sua participação no debate, apresentou alguns dados e comentou sobre a Constituição Federal. “Apesar de estar na constituição, o que vemos é que a legislação não é cumprida no país. No Ceará, por exemplo, vemos diariamente aqueles programas policiais em pleno meio dia. A TV é uma concessão. A quem nós recorreremos para fazer valer o que é dito na lei?”, questionou.
Dados apontam que entre 75% e 90% da programação veiculada pela mídia é de caráter nacional. Das 33 redes nacionais, 26 estão concentradas em dois estados: São Paulo e Rio de Janeiro. No Ceará, existem mais de 300 veículos de comunicação.
Sobre a realização da Conferência Nacional de Comunicação, Cristiane Bonfim informou: “Já aconteceram 13 conferências na Saúde, 11 de Direitos Humanos, 3 das Cidades e 1 da Juventude. Estamos muito atrasados. Temos que correr atrás desse tempo perdido”.
Para a jornalista, organizar o embate de ideias será um grande desafio a ser cumprido pelos membros das comissões. “É preciso que tenhamos um discurso unificado. Chegar divididos é começar ruim. Precisamos garantir representatividade da sociedade neste processo. Devemos ampliar este debate e trazer mais gente para participar deste processo de forma mais participativa e democrática. Enquanto estamos nos organizando, os empresários já estão articulados para defender suas empresas”, preocupa-se.
Rádios Comunitárias
Sérgio Lira, integrante da Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária (ABRAÇO), ressaltou que se não se pode pressionar a comissão de organização nacional, o papel da articulação é pressionar a comissão a nível estadual. “Nosso principal objetivo é articular as entidades para que todos participem deste processo”, alertou.
Sérgio comentou que, com a popularização da Internet, a inclusão social através da comunicação passou a ser um meio eficaz de dar oportunidade às pessoas. “Devemos buscar políticas públicas para a implementação de projetos que tirem as pessoas da marginalidade. Precisamos mostrar que a Internet vai além dos sites de relacionamentos e bate-papos. As pessoas precisam perceber que inclusão digital é muito mais que ter acesso ao equipamento”, ponderou.
O boicote às rádios comunitárias tem sido uma preocupação de Sérgio Lira. “Nossas rádios não estão nas mãos da comunidade. As concessões são articuladas politicamente. A massa precisa participar dessas discussões e perceber que não se pode dominar ideologicamente”, alertou.
PCdoB e Comunicação
Durante a tarde, o PCdoB realizou o Encontro Estadual sobre Comunicação, com o objetivo de aprimorar o trabalho do partido na área. Renata Mielli e Inácio Carvalho, secretário de comunicação do PCdoB/CE, expuseram questões relativas ao instrumentos de comunicação do partido, (Portal Vermelho e o jornal A Classe Operária) e os desafios da comunicação neste momento de crise do Capitalismo.
“Enquanto o jornal A Classe Operária é um jornal de massa com linguagem simples voltada ao trabalhador, o Portal Vermelho, apesar de jovem, já é o nosso principal meio de comunicação. Ambos têm sua importância e ambos precisam ser fortalecidos”, ressaltou Renata. Neste ano quando acontecerá o 12º Congresso do PCdoB, a Comunicação aparece como um meio estratégico para o Partido. “Temos um grande potencial. Devemos porém fortalecer essa rede de comunicação que estamos criando”, comentou Inácio Carvalho.
A tarde ficou marcada com a troca de experiências, avaliações, sugestões e informações. Como deliberação do encontro, surgiu a demanda prioritária de encaminhamento para a criação do Fórum dos Assessores de Imprensa do PCdoB/CE, o empenho para a realização das conferências municipais de comunicação nos municípios onde o Partido administra as cidades e a realização de um debate mais aprofundado com a bancada do PCdoB sobre a relevância das Conferências no país.
De Fortaleza,
Carolina Campos