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Carlos Rogério: por uma comunicação estratégica para a CTB

O conjunto do movimento sindical ainda não acordou para “a importância política de grande monta da comunicação — seu papel estratégico”. É o que pensa Carlos Rogério Carvalho Nunes, secretário de Comunicação e Imprensa da CTB (Central dos Trabalhadores

Ao lado de jornalistas, profissionais de imprensa, lideranças e dirigentes sindicais, Rogério participou, na última semana, do 1º Encontro Nacional de Comunicação da CTB. Em entrevista ao Vermelho, concedida ao fim do evento, ele sublinhou que sua pasta foi fundamental para a consolidação da entidade — fundada em dezembro de 2007 e legalizada em tempo recorde.


 


“Já podemos dizer que a CTB se tornou importante, ganhou visibilidade, e a comunicação ajudou nesse processo”, avalia. “Apesar de termos saído do zero de tudo, estamos satisfeitos com os resultados — até agora.”


 


Confira abaixo a entrevista.


 


Quando você assumiu a Secretaria de Comunicação, em dezembro de 2007, quais eram os seus objetivos? O que você planejou e tentou cumprir desde então?
O Congresso de Fundação da CTB, no qual eu assumi como secretário, foi um momento histórico. A central precisava crescer para apresentar suas propostas ao movimento sindical brasileiro — propostas de autonomia, democracia, linha classista, desenvolvimento com valorização do trabalho. O movimento sindical, naquela época, não estava totalmente convencido dessas propostas.


 


Tínhamos, enfim, um desafio muito grande. Saber como a CTB apareceria para a sociedade era uma das maiores preocupações, ainda mais porque a iniciativa partia de uma entidade que estava iniciando. Com uma equipe ainda pequena, de um jornalista apenas e um secretário, demos os primeiros passos — um começo difícil, muito difícil.


 


Hoje, quando analisamos a evolução da comunicação da nossa central, damos conta de que todo o esforço desprendido foi proveitoso. Já podemos dizer que a CTB se tornou importante, ganhou visibilidade, e a comunicação ajudou nesse processo. Apesar de termos saído do zero de tudo, estamos satisfeitos com os resultados — até agora.


 


Boa parte dos esforços da equipe se concentrou no Portal CTB (www.ctb.org.br). Você concorda que o portal foi o projeto da comunicação que mais deslanchou?
Na primeira reunião do secretariado da CTB, decidimos que o portal seria nossa prioridade número um. Então nós contratamos profissionais, investimos em recursos para manter um portal. A ideia era que nossos informes e nossas resoluções pudessem ficar visíveis — não só para os dirigentes mas também para a sociedade.


 


Depois, fazendo a avaliação, achamos que acertamos na escolha. O portal não atingia toda a população, claro. Mas naquele momento — em que tínhamos cinco, quatro meses para ter 200 entidades filiadas — era o meio mais eficaz, moderno, de entrarmos em contato para fazer a divulgação de nossas propostas, nossa estratégia. O portal foi o meio mais utilizado.


 


Como evoluiu o portal nesse período?
Fizemos muita mudança. Como diria o nosso jornalista, tínhamos uma “ferramenta aberta” — uma página corrida, onde cada novo texto era posto acima do último. Depois alterarmos, mudamos novamente, de acordo com a demanda. A cada mês, o número de visitantes foi aumentando. As entidades sindicais davam resposta ao nosso projeto, informando mais sobre greve e temas da categoria.


 


Nossa equipe de jornalistas também ficou mais atenta aos temas políticos e econômicos, nacionais e internacionais. O projeto foi construído dia após dia, diminuindo os defeitos e as debilidades. Incentivávamos o que dava certo e priorizávamos as iniciativas corretas. Tem sido essa a trajetória de nosso portal.


 


E a audiência? Neste mês de maio, por exemplo, qual é a expectativa de visitas ao portal?
Para maio, estamos com a previsão de 18 a 20 mil visitantes únicos. São quase 900 visitantes por dia útil, com uma queda aos sábados, domingos e feriados. O objetivo é que tenhamos um público maior — e não só de sindicalistas. Não fizemos uma pesquisa, mas temos a certeza de que as entidades sindicais estão acessando nosso portal e divulgando nossa política, nossas ações e mobilizações. O portal é o principal veículo que temos hoje.


 


A CTB acabou de realizar seu 1º Encontro Nacional de Comunicação. O que você destaca dos debates? Quais foram as principais deliberações?
Foram várias deliberações, mas três delas nos chamam mais a atenção. Primeiro, não podemos priorizar somente o portal, que sem dúvida é importante e precisa ainda de mais investimentos. Mas temos de diversificar. Nossas entidades, em geral, fazem comunicação radiofônica de forma muito incipiente — quando fazem, o que é raro.


 


A pauta precisa ser mais nacional — e nisso o portal até que consegue. Uma de nossas propostas é ter cadernos estaduais no nosso site. Temos de investir mais em imprensa, em materiais impressos. Nossos boletins são muito irregulares para uma central que quer se consolidar. Precisamos ter uma regularidade e melhorar a qualidade dos materiais.


 


Segundo aspecto: é preciso ter um convencimento político mais claro do papel que tem a comunicação. A central e o movimento sindical têm de entender que essa é uma ferramenta estratégica. Os empresários usam a televisão, o rádio e os jornais para atender aos seus interesses. Se nós desprezarmos a comunicação — se nós acharmos que nossas deliberações políticas, organização e formação bastam —, como é que nós vamos fazer com que essa compreensão chegue aos trabalhadores e à sociedade?


 


Falta um entendimento, e é uma tarefa que nós, da Secretaria de Comunicação, temos de fazer junto à direção nacional às direções da CTB, às entidades filiadas. O movimento sindical tem de entender a importância política de grande monta da comunicação — seu papel estratégico.


 


E, em terceiro lugar, outra deliberação nossa — uma das constatações mais consensuais do encontro — foi a de que nós temos de interferir nesse processo de Conferência Nacional de Comunicação, convocada agora pelo governo Lula. Precisamos entrar com todas as nossas entidades nesse debate do papel da democratização dos meios de comunicação.


 


Como a Secretaria de Comunicação pretende enfrentar esse debate da conferência?
Vamos pautar esse tema nas próximas reuniões do secretariado e da direção nacional da CTB. O governo está chamando — mas qual é posição dos trabalhadores? O que nós pensamos sobre a comunicação no Brasil? Um segmento organizado da sociedade debate isso regulamente, como a Abraço (Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária) e o Intervozes.


 


Já existe uma central na comissão organizadora da conferência, e nós queremos ampliar a participação do movimento sindical. Precisamos ter a nossa opinião, nem que seja como observadores. Estaremos presentes para articular e dar nossas contribuições — mostrar que os trabalhadores e a sociedade moderna precisam da democratização dos meios de comunicação.


 


Antes do encontro, não tínhamos tanta compreensão do que seria a conferência. O debate flui, e fomos convencidos de que era necessário que a CTB participasse com todo o seu esforço, toda a sua energia, nesse processo da 1ª Conferência Nacional de Comunicação no Brasil.