Restos mortais não são de Bérgson Gurjão

Quem recebeu o comunicado oficial, ontem, por telefone, foi a irmã do cearense, Tânia Gurjão de Farias

Os restos mortais denominados de X2 “não são do Bérgson”, afirmou a irmã do ex-guerrilheiro do Araguaia, Tânia Gurjão de Farias. Ela recebeu, ontem, um telefonema de uma integrante da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, oficializando a informação, de que a ossada que está em um armário da Secretaria Especial de Direitos Humanos, em Brasília, não é do cearense Bérgson Gurjão de Farias.


 


O comunicado oficial de Brasília só confirmou o que o coração de Tânia Farias já sabia. “Minha irmã e eu não achávamos que era o Bérgson, mas se essa pessoa, seja quem for, não tiver parente vivo, eu posso enterrar. Só não quero enterrar outra pessoa como sendo o meu irmão. A mamãe também não vai aceitar isso”.


 


Segundo ela, a luta continua e assegura que tem grandes esperanças de que, a qualquer momento, vão conseguir identificar os restos mortais do seu irmão. Tanto ela quanto a outra irmã, Iehnia Gurjão Johnson, que hoje mora na Flórida, com o marido, esperam pela solução do caso. Ambas sabem que a mãe espera há 30 anos para enterrar o filho.


 


Voltando ao passado, Tânia de Farias contou que viu seu irmão pela última vez no Natal de 1969, em São Paulo. “Ele me telefonou, para ficarmos juntos na casa de um amigo paulista. Na época, Bérgson me disse que havia ganho uma bolsa para estudar na Tchecoslováquia e que estava fazendo um tratamento dentário para não ter problemas lá”, recorda.


 


Ela morava no Piauí quando recebeu a notícia da morte de Bérgson. Ele tinha cerca de 22, 23 anos quando faleceu. “Eu tinha de ser forte, mas isso já passou. O importante agora é que as autoridades que são detentoras dos segredos falem, para clarear esse assunto, de mortos sem corpos”, frisou.


 


Sem perder a esperança de achar os restos mortais do irmão, Tânia de Farias adianta que no dia que isso acontecer, a família toda vai ficar tão feliz que farão uma festa. Para eles, esse dia vai deixar de ser um momento triste e se transformar em um dia de alegria.


 


Casada e morando nos Estados Unidos desde 1973, Iehnia Johnson foi presa na época da ditadura por sua participação no movimento estudantil de 1968. Sobre o irmão, ela diz que ele era uma das poucas pessoas que sabia o caminho que queria seguir e lutou até o fim por seu ideal.


 


Na visão de Mário Albuquerque, da Associação 64/68 de Anistia, o não aparecimento do corpo do Bérgson estende à família a tortura que lhe foi imposta, “como se seus carrascos intencionassem uma espécie de tortura eterna”.


 


Além de Bérgson, restam ainda serem localizados os corpos de Jana Barroso, Francisco Custódio e José Teodoro, também desaparecidos no Araguaia, e os de José Montenegro de Lima e David Capistrano, assassinados em dependências do Exército em São Paulo e no Rio de Janeiro.


 


Também falta esclarecer as mortes de outros cearenses cujas mortes foram dadas oficialmente como suicídio ou ocasionadas em tiroteios. Isso porque “o tempo que temos demandado para a apuração e o acerto com o período da ditadura é a expressão da forma como se processa a transição daquela época ao atual estado de direito do país”, pondera Mário Albuquerque.