Em BH, Protógenes Queiroz diz ser alvo de perseguição
O Delegado da Policia Federal (PF) Protógenes Queiroz visitou a capital mineira a convite de entidades sindicais e disse ser alvo de perseguição. “Os investigadores passaram a ser investigados. Eu estou denunciado. O banqueiro condenado Daniel Dantas a
Publicado 14/05/2009 14:53 | Editado 04/03/2020 16:51
Um broche de Nossa Senhora do lado esquerdo do peito e uma fitinha de Nosso Senhor do Bonfim no braço direito destoam do visual terno e gravata que o delegado da Polícia Federal (PF), Protógenes Queiroz, usava em visita a Belo Horizonte, ocorrida nesta quarta-feira (13), a convite de entidades sindicais. Medo de ser assassinado por enfrentar um esquema tão poderoso de corrupção? “Não temo a morte, só a desonra”, disse, em tom tranqüilo, ao ser questionado se vem sendo ameaçado. Fez questão de citar que a frase é do vice-presidente da República José Alencar, um mineiro que disse admirar muito. “Alencar representa o capital produtivo deste país”, comentou.
Protógenes foi quem comandou, em 2008, a operação Satiagraha, que levou à prisão o banqueiro Daniel Dantas, do grupo Opportunity. Imdiatamente, o banqueiro recebeu dois Habeas Corpus seguidos assinados pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, ou “Gilmar Dantas”, como ficou conhecido desde então. Perguntado se este episódio vai ser sempre lembrado na trajetória de Gilmar, Protógenes apenas respondeu que “os acontecimentos vão revelando pessoas e fatos”.
Como as evidências contra Dantas são muito fortes, incluindo a gravação de uma tentativa de suborno, a tática da defesa do banqueiro passou a ser a de tentar desmoralizar o delegado. Esta artimanha cada dia avança mais, já que a rede de corrupção de Dantas se estende entre políticos, membros do judiciário e da imprensa. Primeiro, conseguiram tirá-lo do comando da operação Satiagraha. Agora, sofre um processo administrativo dentro da PF, que pode afastá-lo da corporação. No processo, acusam-no de ter gravado uma declaração de apoio a um candidato petista para a prefeitura de Poços de Caldas, no sul de Minas. Quanto a isso, ele informou que vai lutar com todas as armas, até judicialmente, para manter-se na profissão que escolheu e que desempenhou desde 1999.
Assédio moral
Depois de ter prendido Paulo Maluf, Celso Pitta entre outros políticos e milionários, quando chegou em Daniel Dantas tornou-se, como ele próprio diz, “o símbolo do assédio moral no país”. O delegado ressaltou que existe um Brasil antes e outro depois da operação Satiagraha, que mostrou a fragilidade das instituições públicas. Ele criticou a inversão de valores que está ocorrendo desde então. “Os investigadores passaram a ser investigados. Eu estou denunciado. Houve uma tentativa de desqualificação da investigação para produzir provas que venham a absolver o banqueiro condenado Daniel Dantas. E ele absolvido, quem fica como condenado são os defensores do estado”, declarou. “É preciso salientar que, o processo contra Daniel Dantas foi gerado no exterior e não no Brasil. Na verdade, o processo teve início em Nova York. Ninguém fala nisto. É preciso que a Nação saiba”, lembrou Protógenes.
“Esses desmandos se iniciaram na era das privatizações, durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e se consolidam nos dias atuais. Mas, no governo Lula, nós, o Estado enquanto instituição, demos uma resposta”, disse. Esta frase, e diversas outras ditas por Protógenes, parece que eram intencionais para desvincular mais uma das mentiras plantadas pela defesa de Daniel Dantas para tentar isolar o delegado: a de que ele será candidato pelo PSOL nas próximas eleições.
Protógenes fez vários elogios ao governo federal, inclusive agradeceu o apoio dado por Lula, quando defendeu a volta do delegado para comandar as investigações da Satiagraha. Ele lembrou que fez no Senado uma reunião com senadores de vários partidos para discutir a sua defesa diante dos ataques que vem sofrendo, mas a imprensa, na maioria agindo diretamente pelos interesses de Daniel Dantas, divulga que ele está vinculado ao PSOL.
Internet
Fenômeno da Rede Mundial, onde mantém um dos blogs mais acessados do país, com cerca de 100 comentários por post, o delegado é hoje facilmente reconhecido em público e tem feito visitas, como esta a Belo Horizonte, a algumas cidades brasileiras para “dialogar com a sociedade”.
A tecla que o delegado mais bateu na capital mineira foi a de que seu afastamento é uma perseguição. “Estou sendo punido, de uma forma injusta, de uma forma ilegal, estão sendo produzidas provas para bandido. Basta ver a sequência de atos duvidosos, tendenciosos que resultaram na proteção do grande esquema de corrupção instalado no Brasil. Registre-se que eu investiguei grandes organizações criminosas neste país e eu nunca tratei um criminoso da forma como fui tratado dentro do departamento de polícia federal pelo presidente daquela investigação”, criticou.
Em seu blog, Protógenes publicou um post no último dia 8 de maio, logo após tomar conhecimento da decisão do Ministério Público Federal em levar adiante a denúncia contra ele: “Posso ser condenado e perder o meu honroso cargo, mas a minha dignidade e honra são intocáveis, pois estão caracterizadas nos trabalhos que realizei ao longo da minha carreira como operário das letras jurídicas”. Mais de 90 pessoas já fizeram comentários, em sua maioria demonstrando apoio ao delegado.
Agenda em Belo Horizonte
Protógenes Queiroz veio a Belo Horizonte gravar um depoimento para a pré-conferencia municipal de Comunicação, que vai acontecer em Lavras, no próximo dia 23 de Maio. Como na data estará comemorando com a família seus 50 anos, gravou uma fala de trinta minutos analisando a comunicação sob a ótica de quem está há um ano no olho do furação da grande imprensa. Além disso, concedeu entrevistas para vários programas de TV, como o Extra-Classe, produzido pelo Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais (Sinpro-MG), e o Programa de Classe, do Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações (SINTTEL –MG).
De Belo Horizonte,
Kerison Lopes e Rafael Minoro
vermelhominas@gmail.com