CPI da Petrobras é manobra tucana antipatriótica e irresponsável, diz Lula
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou duramente os senadores do PSDB que quebraram um acordo firmado no Senado e leram nesta sexta-feira (15) o requerimento para criar a CPI da Petrobras. Segundo Lula, a criação da CPI é um gesto irresponsáve
Publicado 15/05/2009 15:33
''O governo não se intromete na atuação do Congresso Nacional, respeita a autonomia do Congresso, mas essa é uma CPI que não é do Congresso. É muito mais do PSDB'', disse ele hoje na Base Aérea de Brasília antes de embarcar para a Arábia Saudita.
O presidente atrelou a criação da CPI à crise econômica internacional e afirmou que era pouco patriótico fazer esse tipo de investigação no atual cenário. ''Num momento de crise internacional, levantar uma CPI contra a Petrobras é ser pouco patriota, pouco responsável pelo país.''
O presidente afirmou que não acredita na existência de irregularidades na Petrobras que precisem ser investigadas. ''O país não pode viver uma eterna CPI porque há outros meios de investigação.''
O presidente chamou de ''irresponsável'' a criação dessa CPI. ''Acho estranho que partidos que governaram o país por oito anos tomem uma decisão irresponsável como essa. Parece briga de adolescente. Não há explicação lógica para essa CPI.''
Lula dirigiu suas críticas diretamente aos senadores do PSDB e disse que os governadores tucanos não compactuam com a articulação da CPI da Petrobras. ''Isso é interesse de algumas pessoas que estão a um ano e meio de perder o mandato e não sabem se vão ser reeleitos [na eleição de 2010]. Não acredito que [a CPI] seja de interesse dos governadores, possíveis candidatos do PSDB.''
Ele ainda recomendou que a oposição se mantenha calma se quiser voltar a ganhar eleição. ''Assim [nervoso] ninguém ganha eleição. Perdi três eleições nervoso. Quando fiquei calmo, ganhei.''
Lula isentou a base aliada do governo pela criação da CPI da Petrobras. ''Não tem cochilo do governo'', disse ele.
Dilma: empresa íntegra
A ministra Dilma Roussef (Casa Civil) reafirmou as críticas do presidente ao dizer, nesta sexta-feira, que não vê necessidade para instalação da CPI da Petrobras no Congresso Nacional, uma vez que a empresa tem um rigoroso controle sobre seus recursos financeiros. Dilma disse acreditar que os futuros candidatos do PSDB à Presidência da República não querem ''desestabilizar o país'' com a proposta da criação da CPI.
Para demonstrar a inutilidade da CPI, Dilma falou sobre sobre as qualidades da empresa. ''A Petrobras tem ações na bolsa de Nova York, e é considerada uma empresa íntegra'', disse. ''Temos um quadro de uma empresa que é um dos maiores patrimônios do país, é considerada a segunda grande empresa com capital em bolsa.''
Ainda de acordo com ela, qualquer CPI contra ela seria uma decisão ''superficial. ''O país tem a maior reserva de petróleo e por isso não se pode tomar decisões ''superficiais'' sobre a Petrobras.''
Quebra de acordo com aval do PMDB
A CPI foi instalada por meia dúzia de senadores tucanos à revelia de um acordo que havia sido firmado entre governo e oposição para que se esperasse até que o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, prestasse esclarecimentos no plenário da Casa. Mas aproveitando-se do baixo movimento de hoje no Congresso, o vice-presidente do Senado, Marconi Perillo (PSDB-GO) atendeu o pedido da oposição e autorizou a leitura do requerimento que pede uma investigação para apurar possíveis irregularidades constatadas pela Polícia Federal na empresa.
A quebra do acordo contou com a autorização do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o que deixa no ar a suspeita de que um setor do PMDB está interessado na CPI para fazer barganha política com o governo. ''O presidente Sarney me telefonou dizendo que era regimental a leitura do requerimento'', disse Perillo.
Os 32 senadores que integram o requerimento de instalação da CPI têm até a meia noite de hoje para retirar as assinaturas. Na prática, a leitura do requerimento já representa a criação a CPI. Mas se as assinaturas forem retiradas e não houver um mínimo de 27 nomes a favor da investigação, a CPI é desinstalada.
Durante a sessão, também foram criadas outras duas CPI para apurar denúncias na área de Educação e a Amazônia (demarcação da reserva Raposa/Serra do Sol).
A disputa pela instalação da CPI da Petrobras provocou ontem um mal-estar. Líderes tucanos bateram boca e trocaram ofensas nesta quinta-feira com o senador Heráclito Fortes (DEM-PI), que se recusou a fazer a leitura do requerimento de instalação da CPI no plenário do Senado.
A senadora Serys Slhessarenko (PT-MT), segunda-vice presidente do Senado, foi chamada às pressas para encerrar a sessão plenária –o que irritou os tucanos. Tasso Jereissati (PSDB-CE), Arthur Virgílio (PSDB-AM) e Sérgio Guerra (PSDB-PE) subiram à tribuna do Senado e deram prosseguimento à sessão mesmo com ela encerrada.
Heráclito reagiu às críticas e disse que o PSDB não tinha poderes para cobrar a instalação da CPI uma vez que não participou da reunião em que foi fechado o acordo para sua suspensão. ''Se eu fizesse a leitura, quebraria um acordo que são as decisões tomadas pelo colégio de líderes. É tradição na Casa respeitar as decisões'', afirmou o democrata.
Da redação,
com agências
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