Mantega: economia pode estagnar; Ipea vê “viés de melhora”
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que a economia brasileira pode ficar estagnada este ano e que, no melhor dos cenários, espera um crescimento de 2%. Ele, no entanto, enfatizou que não espera retração do Produto Interno Bruto (PIB). O Institu
Publicado 15/05/2009 16:13
''Eu continuo com a minha projeção de que nós deveremos ter um crescimento positivo este ano, ao contrário da maioria dos países, que ficará entre zero e 2%'', disse Mantega. O ministro acredita em um ''forte crescimento'' da economia no último trimestre de 2009, após uma recuperação gradativa no decorrer do ano.
Segundo ele, o crescimento de 0,3% na vendas do varejo em março, indica que ''talvez a retração que houve nos meses anteriores tenha terminado''. Mantega contou que consultou diversas modalidades de comércio varejista e, tendo essas conversas como base, acredita que o setor ''já está em forte recuperação''.
Pequena mudança
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) afirmou que o nível de preocupação do setor produtivo recuou, embora as empresas ainda continuem classificadas como ''apreensivas'' em relação à crise financeira mundial. ''Há um viés de melhoria de observação do setor produtivo quanto ao conjunto da economia. Embora seja uma pequena mudança de 4,57 (em março) para 5,74 (em abril), isso expressa um viés de percepção de melhoria'', explica o diretor de Estudos Setoriais do Ipea, Marcio Wohlers.
Na escala do Sensor Ipea, que varia de cem pontos positivos a cem pontos negativos, a entidade consegue medir a percepção dos setores econômicos diante das turbulências mundiais, perpassando pelos patamares de otimismo, confiança, apreensão, adversidade e pessimismo. Wohlers justifica o cenário de melhoria por conta de medidas anunciadas pelo governo.
''Essas medidas anticíclicas, seja na redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), que se iniciou com relação aos automóveis, na manutenção das obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), os investimentos da Petrobras, somados a uma maior possibilidade de crédito do BNDES, certamente devem ter contribuído para essa tendência de viés. Elas alimentam esse viés positivo'', analisa.
Aspectos sociais
No relatório, o Ipea verificou uma ''queda no medo'' no desempenho das empresas, passando de 17,0 pontos negativos em março para 12,3 pontos negativos em abril. ''O setor produtivo (não financeiro) está perdendo o medo e tornando-se apenas apreensivo'', diz nota técnica do Ipea. ''Ainda é na escala negativa, mas há um viés de melhoria das empresas do setor'', avalia Wohlers. ''Não interessa se está negativo. (O patamar de) apreensão é de menos 20 e mais 20 (pontos). Então interessa o viés'', diz.
''A esperança no crescimento do PIB diminuiu, no entanto (representantes do setor produtivo) perceberam que as empresas não vão sofrer o que eles esperavam. Diminuiu o medo. Estão percebendo muito mais claramente o tamanho do problema, mas ele não é tão feio como parecia'', relata o assessor da Presidência do Instituto, Ricardo Amorim.
''Eles categoricamente não acreditam em crescimento do PIB este ano, mas estão melhorando os aspectos sociais. Em julho já teremos os aspectos sociais como pouca preocupação'', completa Amorim. Embora as perspectivas sejam de crescimento praticamente nulo, explica Ricardo Amorim, ''em nenhum momento houve expectativas falando que o Brasil vai entrar em recessão. Há uma apreensão, mas não um pessimismo generalizado''.
Pesquisa mensal
Quando medidos os aspectos sociais, o setor produtivo avaliou em geral que diminuíram as perspectivas adversas de queda da massa real de salários, de aumento da violência urbana e de elevação da pobreza e da desigualdade. ''Não esperam que pobreza, desigualdade se agravem nesse ano que estamos vivendo agora. Estão cada vez com menos medo. Estão apenas 'preocupados', e não esperando por ela'', avalia o assessor da Presidência do Ipea.
Individualmente, o setor agropecuário foi o que apresentou o pior índice de confiança, com perspectiva de quadro adverso para as exportações, ao passo que foram os trabalhadores os mais otimistas com a situação econômica geral, mostrando-se crentes no melhor desempenho das empresas e em uma manutenção da margem de lucro das empresas. O Sensor Ipea é uma pesquisa mensal que ouve as perspectivas de 115 entidades representativas do setor financeiro, com entidades relacionadas à agricultura, indústria, comércio e serviços e dos trabalhadores. Juntas, elas representam 80,18% do PIB brasileiro.
Com agências