O PT-ES PRECISA SEPULTAR OS DEFUNTOS DE 1996

Nas últimas semanas surgiram na imprensa muitas opiniões sobre os primeiros cem dias da administração do prefeito de Cachoeiro de Itapemirin no ES, Carlos Casteglione (PT). Penso que todos tem o direito de apresentar suas considerações. Entretanto

Apesar disso, entre os textos publicados na imprensa local um ponto foi insistentemente citado: o isolamento político do governo. Mais do que um simples sintoma do perfil centralizador de um indivíduo ou noção de auto-suficiência de um pequeno grupo, essa característica marcante do governo petista – até agora – tem raízes mais antigas. A postura tão criticada talvez seja conseqüência da “traumática” eleição municipal de 1996.


 


Aquela foi a primeira disputa municipal em que o PT coligou-se com outra agremiação partidária, no caso o PSB. Isso porque, nas eleições anteriores (1982, 1988 e 1992) os petistas haviam caminhado sempre isolados nas disputas majoritárias e proporcionais. Na disputa de 1996 os petistas fecharam uma coligação que no final resultou na eleição de apenas dois vereadores, ambos socialistas. O PT passou muito longe de eleger seu candidato a prefeito e de quebra ficou sem assento na Câmara Municipal.


 


Esse verdadeiro trauma marcou uma geração inteira de petistas de nossa cidade. A história do PT de Cahoeiro pode ser dividida em antes e depois de 1996. Os reflexos dessa eleição tornaram os petistas muito resistentes em relação as alianças políticas e aos contatos com outras forças partidárias.  A partir dessa data, aliado eleitoral passou a ser sinônimo de adversário e abrir espaço para outras legendas era encarado como perda de terreno.


 


Tanto que o isolamento político voltou a ser a marca do partido nas eleições de 2000, com o lançamento do então jovem dirigente Carlos Casteglione, ao cargo de prefeito. Em grande parte, os atuais ocupantes do Palácio Bernardino Monteiro (sede do governo municipal) são aqueles mesmos militantes que choraram a derrota de 1996 e se formaram sob a influência da cultura política do “isolacionismo”.


 


Essa postura do PT experimentou uma transformação radical após a vitória do presidente Lula nas eleições de 2002. Parecia que os petistas haviam, finalmente, exorcizado as assombrações de 1996. Tanto que, pela primeira vez na história, PCdoB e PT estiveram juntos em um palanque municipal e conseguiram atrair o PDT e o PL (atual PR do senador Magno Malta) para a coligação. Apesar do saldo final ter sido a continuidade do rodízio político na prefeitura – com a vitória de Roberto Valadão –  as bases para a construção de um grupo político alternativo haviam sido lançados.


 


Estranhamente, nos anos seguintes os petistas voltaram a atuar de forma isolada sem um mínimo de preocupação com a continuidade do grupo político que carecia de um acompanhamento mais atento. Essa postura teve conseqüências nas articulações visando as eleições de 2008. Enquanto a direção do PT vivia um verdadeiro dilema existencial – a duvida era como assumir publicamente a relação com empresário e deputado federal Camilo Cola – o PDT preferiu a vice de deputado Ferraço. Já o PCdoB – cansado da postura “exclusivista” de parte da direção do PT – escolheu a candidatura própria. Novamente isolados, como “prêmio de consolação”, restou aos petistas a aliança com as legendas ligadas ao senador Magno Malta. O surpreendente resultado final da disputa marcou a maior derrota eleitoral dos grupos “ferracistas” e “valadonistas”.


 


Ao que tudo indica – haja vista as opiniões que surgiram na imprensa – depois de tomar posse na prefeitura e montar o seu governo, o PT teve outro surto de “isolacionismo”. Sintomático do atual momento de isolamento da cúpula petista é constatar que a direção do PT e do PCdoB – partido com maior afinidade ideológica com os petistas – não se reúnem oficialmente a quase 10 meses.


 


Diante do presente cenário é urgente que os petistas comecem a “falar para fora”. Em outras palavras, deveria partir do PT, como atual ocupante da prefeitura, a iniciativa da criação de um espaço de debates Políticos (com p maiúsculo) com as outras forças políticas que estão verdadeiramente preocupadas com o futuro da cidade.


 


 É preciso que os petistas voltem a utilizar uma das suas mais poderosas ferramentas: o convencimento político. Uma coisa é conversar com um partido político, outra é fazer aliança com legendas eleitorais. A experiência tem demonstrado que o único caminho para as forças políticas democráticas superarem as dificuldades é através da política. Nesse momento cabe a direção do PT – independente da presença do prefeito Casteglione – conduzir a montagem de um grupo político que construa coletivamente um projeto de poder para as próximas décadas em nosso município. A hora de agir é agora: ou os petistas enterram os defuntos de 1996 ou a cidade corre o risco de voltar a ser assombrada pelos “fantasmas das administrações passadas”.


 


*Pedro Ernesto é Professor universitário e membro do CM de Cachoeiro – ES.


 






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