Teste nuclear norte-coreano é pretexto para salvar a pele
“No último fim de semana ocorreram acontecimentos importantes na Península Coreana. No sábado, o ex-presidente sul-coreano, Roh Moo-hyun, promotor da reconciliação entre as duas Coreias optou pelo suicídio, e na última segunda-feira, após expressar
Publicado 27/05/2009 13:35
Segundo o comunicado difundido pela Agência de Notícias Central da Coreia (KCNA, na sigla em inglês)essa prova, a segunda que realiza desde 2006, “supõe um aporte para a defesa da soberania do país, da população norte-coreana, do socialismo, da manutenção da paz e a segurança na Península da Coreia e das regiões vizinhas”.
Como outros países, a Rússia expressou seu desacordo à declaração feita pelo governo norte-coreano. O ministro russo de Relações Externas, Serguei Lavrov, expressou a preocupação de seu país pela notícia da prova nuclear, e sublinhou a necessidade de efetuar uma “comprovação, com elementos de controle técnico”.
A reação do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, foi mais categórica, ao qualificar o acontecimento como “provocação”, e sublinhar que “a atitude da Coréia do Norte aumenta a tensão e diminui a estabilidade no Norte e no Oriente da Ásia”.
Diplomatas de alto nível de Rússia, Estados Unidos, China, Japão e as duas Coreias — o chamado formato de seis lados — tentaram resolver o problema nuclear na Península Coreana em agosto de 2003.
Entre outras coisas, quando começaram essas negociações, Pyongyang ainda não tinha armas nucleares. Estas surgiram três anos depois, quando as conversações em seis lados entraram em uma fase de deterioração, porque a parte americana, sinceramente, não quis continuar as conversações com os norte-coreanos.
Recentemente, esse processo negociador de novo sofreu um considerável retrocesso. Nesta ocasião, as negociações “de seis lados” ficaram entravadas porque o Japão recosou-se a cumprir seus compromissos sobre o fornecimento de combustível para a RPDC devido a problemas bilaterais que não tinham nenhuma relação com o assunto nuclear.
Além disso, os Estados Unidos não conseguiram estabelecer com Pyongyang mecanismos para comprovar a veracidade de um relatório de 18 mil páginas elaborado pelas autoridades da RPDC sobre o programa nuclear do país.
Como consequência de tudo isso, a Coreia do Norte, no mês de abril, efetuou o lançamento de um foguete de três fases, declarando que, com a ajuda desse foguete portador, havia colocado em órbita um satélite de comunicações.
Como era de esperar, o Conselho de Segurança da ONU condenou o lançamento do foguete, aumentando a irritação dos norte-coreanos, que decidiram reativar seu programa nuclear.
E, desta forma, a situação continuará indefinidamente, até que não seja solucionado o problema principal entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte, que até o momento não estão em guerra mas, tampouco, chegaram a um acordo de paz.
O que acontece é que, após concluir a Guerra da Coreia entre 1950 e 1953, ambos os países assinaram somente uma trégua, mesmo com a solicitação, há bastante tempo, da Coreia do Norte para que esse documento seja substituído por um acordo de paz, com a consequente normalização das relações bilaterais. até o momento, Washington recusa de forma categórica inclusive a proposta de discutir semelhante perspectiva.
Em conclusão, as relações entre a RPDC e os Estados Unidos evoluem de acordo com um roteiro previamente estabelecido.
Para obrigar os Estados Unidos a conversar com a RPDC, os norte-coreanos se veem na obrigação de chegar a ameaças ou executar ações que só complicam ainda mais a situação e, depois, no pico da tensão, a comunidade internacional deve buscar saídas para neutralizar ou minimizar esses efeitos.
E, por que é tão complicado o assunto?
O que acontece é que, em cada situação, cada um dos governos, neste caso Coreia do Norte e Estados Unidos, antes de tudo, tentam defender sua própria imagem.
A Coreia do Norte tenta demonstrar que não está disposta a que ninguém nem nada a obrigue a permanecer de joelhos.
Por sua vez, a nova administração dos Estados Unidos possivelmente queira entabular o diálogo com a RPDC, mas em primeiro lugar, a nova equipe de diplomatas está apenas se estruturando e, em segundo, no momento em que a Coreia do Norte reativa seu programa nuclear, é muito problemático aceitar um início dos contatos.
Para que os contatos possam ser realizados deve haver um motivo que permita a cada um dos países salvar a própria pele.
E esse motivo já surgiu. A prova nuclear, que ao ter uma potência considerável (de até 20 quilotons, como afirmam alguns especialistas) já pode servir de fundamento para considerar a Coreia do Norte como um país possuidor de armas nucleares.
Nas atuais condições, os Estados Unidos podem optar por iniciar conversações bilaterais com a Coreia do Norte, sobretudo se o “sexteto” não demonstrar capacidade para promover o diálogo. Se isto tiver lugar, surgirá uma situação extrema que obrigará os Estados Unidos, com mais urgência que antes, a entabular as conversações com Pyongyang.
Quanto antes isso ocorrer, menores serão as ameaças que poderão partir da Coreia do Norte.